Ômicron assusta pela transmissão, mas será severa?

Surpresa nos primeiros dados: avanço explosivo da variante ainda não gerou excesso de mortes. Sintomas são leves por enquanto, diz médica sul-africana. Cientistas americanos creem que já adquirimos alguma imunidade a ela

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Enquanto o mundo assiste a uma espécie de déjà-vu de 2020 ao acompanhar a ômicron chegando em cada vez mais países, aumenta a preocupação para saber o quanto essa nova variante vai afetar as vidas de todos. Vem, então, um novo alerta da África do Sul, país que primeiro sequenciou a cepa. Por lá, os casos estão aumentando de forma exponencial, nas duas últimas semanas, registra o Guardian. Entre 18 e 25 de novembro, a média móvel diária de casos saltou de 300 para 1.000; ontem, uma semana depois, a curva tornou-se ainda mais íngreme, e o país registrou 5.093 testes positivos. O sequenciamento do vírus indica que a ômicron se tornou predominante muito rapidamente, chegando já a 74% das amostras.

Mas uma surpresa ainda deve ser verificada. Na África do Sul, as mortes (que chegaram ao recorde de 577 em um dia, em janeiro) não estão escalando na mesma proporção que os casos – pelo menos até agora. E por lá, as vacinas só chegaram a 29% da população. Para efeito de comparação, em 18/11 a média móvel diária de mortes foi de 46; em 25/11, de 37; 1º/12, de 31. Há de se ter cautela para não chegar a conclusões precipitadas: a população sul-africana é levemente mais jovem que a mundial e os efeitos do recrudescimento da pandemia sobre as mortes podem demorar um pouco mais para aparecer nos gráficos.

No entanto, relatos médicos corroboram a hipótese de que esta pode ser uma cepa menos severa. Quem primeiro relatou a tendência foi a médica sul africana Angelique Coetzee, em 27/11. Ela também reparou algumas diferenças nos sintomas: nenhum de seus pacientes perdeu o paladar ou o olfato, e os principais relatos eram de exaustão. Outros médicos sul-africanos perceberam um aumento nos casos, mas nenhum com sintomas graves. Em Israel, país que fechou fronteiras a todos os que não são cidadãos, também notou-se que não há casos severos entre os pacientes já vacinados. Nos Estados Unidos, onde já se percebe transmissão comunitária, tampouco encontraram-se enfermos graves. E mesmo no Brasil o fenômeno se repete: os cinco infectados com a ômicron que se tem registro encontram-se bem de saúde, isolados em casa. Em matéria no Stat, cientistas norte-americanos reafirmam que é muito difícil que a variante nos levará de volta à “casa 1” da pandemia: os sistemas imunológicos de muitos de nós já aprenderam a se defender, nestes quase dois anos de pandemia. E aqueles indivíduos que já tiveram contato com algum tipo de Sars-CoV-2 têm grandes chances de apresentar boas respostas a possíveis infecções pela ômicron. Será um sinal de que o vírus está tomando um caminho evolutivo que o fará perder a virulência e continuar presente como uma gripe mais leve?

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