O xadrez em Brasília

Ex-ministro da Saúde de Temer, Ricardo Barros é novo líder do governo na Câmara

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O ex-ministro da Saúde Ricardo Barros será o novo líder do governo na Câmara. Deputado pelo Progressistas (PP), ele está no sexto mandato e já exerceu esse mesmo cargo no governo tucano, além de ter sido vice-líder em governos do PT. Ele substitui o novato Major Vitor Hugo (PSL-GO), que se tornou o homem errado na hora errada no momento em que, envolto em escândalos, Jair Bolsonaro operou uma guinada das crises institucionais diárias para o pragmatismo. Nas suas palavras, ele era “o líder de um governo que não queria ter uma base“.

Já Barros é um prócer do Centrão. Seu nome já vinha sendo cotado para o cargo – inclusive, como parte de um teste de afinidades com o Planalto que poderia gerar frutos mais graúdos no futuro, como a entrega das chaves do Ministério da Saúde após a saída de Eduardo Pazuello. (Sempre bom lembrar que a secretaria de Vigilância em Saúde já está nas mãos do Centrão, sendo comandada desde junho por um indicado do PL.)

Especulações à parte, a mudança na Câmara consolida o poder do bloco de partidos fisiológicos que vende apoio em troca de cargos e tem no governo Bolsonaro um prato cheio. Já são 56 pedidos de impeachment contra o presidente, que no front ofensivo precisa de votações expressivas tanto se quiser continuar na via neoliberal das reformas defendidas por Paulo Guedes, quanto se preferir adotar medidas mais populares, como ampliação da transferência de renda e investimentos em infraestrutura. 

No momento, Bolsonaro cumpre intensa agenda de inaugurações em clima de campanha eleitoral – o que não só incomoda governadores atacados pelo presidente nessa pandemia, como ajuda a enxergar com riqueza de detalhes o racha aberto dentro do próprio governo desde que a crise sanitária começou. De um lado, os ministros da Casa Civil Braga Netto, do Desenvolvimento Regional Rogério Marinho, e da Infraestrutura Tarcísio Freitas defendem o que Flávio Bolsonaro caracterizou de forma singela como um ‘dinheirinho’ para obras públicas

O outro lado, capitaneado por Guedes, está sangrando – como ficou claro com os pedidos de demissão de Salim Mattar, Paulo Uebel, Rubem Novaes e Mansuetto Almeida. E o processo de debandada parece não ter chegado ao fim: segundo O Globo, fontes ligadas à área política do governo afirmam que mais dois membros da equipe econômica – o secretário de Fazenda, Waldery Rodrigues, e o de Produtividade, Carlos da Costa – poderiam sair, levando a dez o número de baixas. 

Ontem, como observou Vinicius Torres Freire, Bolsonaro ‘assoprou’ Guedes: em um pronunciamento ao lado do ministro e de seus rivais (Rogério Marinho e Tarcísio Freitas) falou que respeita o teto de gastos, medida aprovada às custas de muita repressão policial, na contramão da opinião da maioria da população e que vem sendo problematizada durante a pandemia. Nos bastidores, Bolsonaro teria orientado a ala do governo que tenta flexibilizar o teto a suspender temporariamente propostas que desagradem Guedes para evitar que ele seja o próximo a jogar a toalha. Por seu turno, o ministro da Economia se realinhou a Maia, como destacamos por aqui, e tem sentenciado que driblar o teto é o caminho mais curto para o impeachment. De qualquer forma, mesmo permanecendo no barco, ele já é um “ex-superministro”, como define Bernardo Mello Franco. Além da Faria Lima, ninguém há de lamentar o ocorrido.

São essas peças que se alinham para a disputa fundamental que será travada no Congresso, em torno da proposta de orçamento para 2021 que precisa ser enviada pelo Executivo até o fim do mês. Há sinais de cortes sérios – como o R$ 1 bilhão das universidades aventado pelo MEC – e movimentações confusas, como a não inclusão dos recursos necessários para tirar o Renda Brasil da retórica (já que nem no papel o programa está). Guedes & cia cada vez mais limitada também querem aprovar gatilhos que impeçam despesas, de modo a proteger o teto no ano que vem.

Essa semana, o Conselho Nacional de Saúde lançou uma campanha para mobilizar a sociedade a pressionar parlamentares a votarem a favor da manutenção dos recursos que o SUS ganhou durante a pandemia – R$ 35 bilhões – e a revogar a EC 95. 

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