Mistério na África

Testes de anticorpos mostram alta pravalência do novo coronavírus em vários países, mas mortalidade é relativamente baixa

.

Este texto faz parte da nossa newsletter do dia 12 de agosto. Leia a edição inteira.
Para receber a news toda manhã em seu e-mail, de graça, clique aqui.

A entrada do novo coronavírus no continente africano era uma preocupação desde que apareceram os primeiros casos fora da China. Em abril, a OMS alertava que o continente poderia em breve se tornar o próximo epicentro da crise, e que até 300 mil pessoas poderiam morrer. Hoje, o vírus já se espalhou consideravalmente por vários países e a África como um todo chegou a um milhão de casos. Há vários problemas, especialmente onde há menos acesso a serviços de saúde. A falta de oxigênio, por exemplo, tem sido uma barreira em vários hospitais, e gera mortes que seriam totalmente evitáveis. 

Mesmo assim, os números não são tão ruins quanto os inicialmente esperados. No site da Science, a repórter Linda Nordling tenta entender o porquê. É verdade que a baixa capacidade de testagem em vários países sugere uma imensa subnotificação. Estudos reduzidos baseados em testes com anticorpos mostram taxas de prevalência bastante altas em alguns lugares do Quênia, Malawi e Moçambique, por exemplo, onde, ao contrário do que dizem os números oficiais, 10% ou mais da população teriam sido infectados. Mas o que intriga mesmo é a a baixa mortalidade. Houve até agora 20 mil mortes (uma taxa de 2%) em todo o continente. Bom, a baixa testagem também pode ajudar a explicá-la: pode ser que estejam morrendo muitas pessoas sem diagnóstico. Só que, nesse caso, seria esperado um aumento geral da mortalidade por todas as causas. E isso não parece estar acontecendo.

Hipóteses: o fato de as populações serem jovens pode estar deixando-as protegidas (não do vírus, mas do agravamento e das mortes); a exposição de africanos a outros coronavírus pode ter fornecido defesas; a exposição regular a outras doenças infecciosas, como malária, poderia ter preparado de alguma forma o sistema imunológico contra o SARS-CoV-2. Ainda não dá para concluir nada. Mas pesquisas mais abrangentes com anticorpos estão em curso ou vão começar em breve em vários países do continente, e espera-se que possam ajudar a entender melhor o quadro geral.

Leia Também: