O que será dos povos indígenas?

O futuro ministro da Saúde é também da Frente Parlamentar da Agropecuária e governo quer floresta produtiva.

Crédito: Flickr Percurso da Cultura

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O QUE SERÁ DOS POVOS INDÍGENAS?

O futuro ministro da Saúde é também ruralista. Tem uma fazenda e integra no Congresso a Frente Parlamentar da Agropecuária, marcada pela atuação em defesa do agronegócio e contra os direitos dos povos indígenas, segundo o site De olho nos ruralistas. “Um dos desafios de Mandetta será separar sua atuação política anti-indígena do compromisso do ministério com a universalidade do acesso à saúde”, diz o texto. As condições de saúde da população indígena no estado de Mandetta, o Mato Grosso do Sul, são bem ruins. Há centenas de crianças desnutridas, principalmente entre os Guarani Kaiowá que vivem acampados em regiões de fronteira com o Paraguai. Em Aquidauana, famílias chegaram a receber comida podre na cesta básica. Também faltam água e remédios em várias localidades. O mesmo site lançou o vídeo ‘O agro é voraz‘, mostrando o impacto da monocultura de larga escala e do expansionismo territorial na vida de indígenas, quilombolas, camponeses e outros povos tradicionais.

Todos devem lembrar que, antes de ser eleito, Bolsonaro prometeu não demarcar mais nenhum centímetro de terras. Uma reportagem de Beatriz Jucá no El País diz que há uma “bomba-relógio” aí: hoje são 130 terras em processo de demarcação e que podem ser afetadas se o novo presidente não der respaldo – os indígenas obviamente não vão desistir delas. E, com o também prometido armamento no campo, os conflitos por terra podem ficar ainda mais sangrentos. No Mato Grosso do Sul, eles já são quase permanentes. A ‘esperança’ é que o presidente eleito não tenha condições de descumprir a norma constitucional que determina a demarcação. “O presidente não tem legitimidade pra abrir mão de um patrimônio público em favor de particulares, sob pena de responder por improbidade administrativa”, argumenta o secretário executivo do Cimi, Cléber Buzzato. Ainda assim, uma maior lentidão dos processos já pode agravar os conflitos.

E várias ações violentas e desproporcionais da polícia no mesmo estado são analisadas pelo Repórter Brasil. Em 26 de agosto, em resposta a furto de porcos e eletrodomésticos, 70 policiais viajaram 300 quilômetros para  expulsar os indígenas da sede da fazenda Santa Maria, vizinha da comunidade Guarani e Kaiowá de Guapo’y, no município de Caarapó. Foram cinco indígenas atingidos por balas de borracha,  um Kaiowá de 69 anos preso e uma mulher atropelada por uma viatura da PM enquanto carregava sua filha. Outro exemplo: no ano passado 200 policiais e soldados fizeram buscas por armas na comunidade indígena de Nhandeva. Sem mandado judicial, entraram em todas as casas, jogaram objetos no chão e só acharam duas armas – de brinquedo.

TRANSFORMAR FLORESTA EM NEGÓCIO

Integrante da equipe de transição do governo Bolsonaro, o biólogo Ismael Nobre acredita que a melhor forma de preservar a floresta amazônica é fazendo com que ela seja rentável. Ele colabora com a equipe desde antes da campanha e defende que esse caminho é melhor do que “entregar” a floresta para a agropecuária intensiva ou imobilizá-la em reservas “sem utilidade”. Quer descobrir novos produtos de extrativismo com potencial econômico, capacitar os moradores e movimentar as cadeias de produção, usando tecnologias (estão sendo desenvolvidos drones para transporte).

As fontes ouvidas pela reportagem da BBC concordam que, num contexto de livre-mercado, explorar o potencial econômico da floresta acaba sendo cada vez mais importante pra conseguir mantê-la de pé, e já há iniciativas nesse sentido há tempos. Mas dizem que isso não significa que se possa deixar de agir para diminuir o desmatamento. “Não dá para descartar a importância da atividade econômica, desses produtos da floresta. Mas a história e a prática mostram que, sem a presença do Estado, as florestas acabam dizimadas. Foi o que aconteceu em São Paulo e no Paraná, onde o que resta da cobertura vegetal é 7% ou 8% do território”, afirma o engenheiro florestal e professor aposentado de política florestal da UnB, Eleazar Volpato.

SÃO SÓ CRIANÇAS

“Um dia, vou me matar. Quando achar a faca. Não ligo para o meu corpo”. O depoimento é de uma menina de oito anos, que aos três fugiu com a família do Sri Lanka e vive em um campo de detenção Nauru, uma ilha-nação remota do Pacífico para onde refugiados que tentam entrar na Austrália são enviados pelo governo do país. Praticada desde 2013 e condenada por defensores de direitos humanos, a política é defendida pelas autoridades australianas. Muitas dessas famílias esperam ser transferidas para os EUA segundo um acordo firmado ainda por Obama e que Trump concordou em cumprir. Já foram transferidos 430, mas ao menos 70 foram recusados.

Enquanto isso, casos de crianças suicidas acontecem desde agosto, como narra a matéria do New York Times republicada no Estadão. “Christina Sivalingam, uma criança tamil de 10 anos, falou como se fosse uma coisa comum que viu o lugar onde o iraniano, Fariborz Karami, se matou em junho. ‘Descemos do ônibus da escola e eu vi o sangue – estava em toda parte’, ela disse com calma. Levou dois dias para limpar. Ela falou que o pai também tentou o suicídio quando o seu tratamento da tiroide demorou”. Depois que dezenas de organizações manifestaram preocupação, o governo começou a levar para a Austrália, no início deste mês, crianças para tratamento (os pais ficam).

Há outros centros de detenção australianos na Papua Nova Guiné. E a Austrália decidiu não assinar o Pacto Mundial para a Migração, estabelecido em julho na ONU para ampliar as vias de migração regular, estabelecer a detenção apenas como último recurso e oferecer acesso a serviços básicos a todos os imigrantes.

MAIS MÉDICOS

Depois que as inscrições para o novo edital do Mais Médicos abriram, o site ficou instável. O Ministério da Saúde diz que recebeu mais de um milhão de acessos simultâneos , o que considera ser característico de um ataque cibernético, até porque é o dobro do número de médicos em atuação no país. Está investigando. Ainda assim, em três horas, foram 3,3 mil inscrições.  E, dos dez primeiros que se inscreveram, cinco deles escolheram atuar emcapitais e municípios de regiões metropolitanas, conta Monica Bergamo, naFolha.

Governadores eleitos do Nordeste se reuniram em Brasília e fizeram uma carta para Bolsonaro. Querem médicos, sejam eles brasileiros ou não. “Em minha opinião, Saúde não é lugar para se ter preferência político-partidária ou ideológica. Portanto, é a Saúde sem partido”, disse Rui Costa, do PT, reeleito na Bahia.

E a Comissão de Seguridade Social da Câmara vai fazer um convite formal ao ministro da Saúde, Gilberto Occhi, para ele explicar como o governo está fazendo para lidar com a interrupção repentina na assistência. Não faltam matérias para exemplificar os problemas: tem postos de saúde fechados na Bahia, várias unidades sem médicos em Sorocaba Matão (SP), no Paraná, em Recife

MACONHA NO SENADO

Hoje a Comissão de Assuntos Sociais volta a discutir o cultivo da cannabis medicinal ( PLS 514). Marta Suplicy, presidente da Comissão e relatora do texto que vai ser votado, defende o cultivo por pacientes e seus familiares e associações.  “Queremos aprová-lo na Comissão de Assuntos Sociais, levar o debate à CCJ, aprovar ainda este ano no Senado. Isso já será um grande passo”, disse ao Estadão.

MORTES POR FOME

A ONG Save the Children fez uma estimativa do número de crianças menores de cinco anos que morreram por fome ou desnutrição desde o início da intervenção saudita na guerra civil do Iêmen, há três anos. E o número pode ter chegado a 85 mil. A ONU aponta que 14 milhões de pessoas correm o risco de inanição por lá. A situação piorou no último ano, quando a Arábia Saudita impôs um bloqueio que impede a chegada de alimentos e ajuda humanitária em áreas ocupadas pelos rebeldes.

INCÊNDIO NA CALIFÓRNIA

O maior incêndio florestal na região, que matou ao menos 79 pessoas e destruiu mais de 12 mil casas, tem efeitos duradouros. A qualidade do ar, mesmo em locais mais distantes, está bem pior. A fumaça tem partículas que entram nos pulmões e podem entrar na corrente sanguínea.

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