Ministério limita gastos de hospitais federais do RJ

• RJ: O protesto dos trabalhadores de hospitais federais • Como compensar os órfãos da pandemia • Mortes de crianças até 5 anos • Já quebramos o Acordo de Paris? • Percepção da dengue em SP • Comunidade terapêutica tem donos condenados •

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Uma portaria que modifica a gestão dos hospitais federais no Rio de Janeiro, implementada sob a gestão da ministra da Saúde, Nísia Trindade, levantou preocupações entre os trabalhadores destas unidades e seus representantes sindicais. A centralização de compras e outras funções administrativas, embora visem a eficiência e estejam alinhadas com a nova Lei de Licitações, foram recebidas com críticas por parte dos que estão na linha de frente do atendimento à saúde. Os trabalhadores da saúde, por meio de seus sindicatos, expressam preocupação com a potencial perda de autonomia nas decisões locais, o que poderia impactar a qualidade e a agilidade do atendimento aos pacientes. 

Em entrevista ao Globo, críticos da portaria frisam que estão do mesmo lado que a ministra, apenas pedem um diálogo mais aberto. “Apoiamos muito o governo e a companheira Nísia. Porém, a portaria desorganiza os hospitais sem nenhum estudo de risco, sem nada. A própria Nísia não sabia que tinha tudo sido feito dessa forma”, afirmou Fernanda Spitz, coordenadora estadual da setorial de Saúde ao jornal. Na mídia, a situação foi tratada como “nova crise” do Ministério da Saúde, posta no mesmo nível dos ataques do Centrão em busca de mais controle do dinheiro público.

É preciso cuidar dos órfãos da pandemia

Quatro anos após a primeira morte por covid-19 no Brasil, as consequências da pandemia continuam evidentes, especialmente para os 113 mil órfãos que perderam seus pais ou responsáveis. A falta de políticas públicas específicas para amparar essas crianças e adolescentes destaca uma preocupante lacuna no sistema de proteção social do país. Em entrevista ao Brasil de Fato, Elaine Gomes dos Reis Alves, psicóloga especialista em perdas e luto, destaca o impacto profundo dessas perdas, comparando-as às mortes traumáticas em guerras, quando “uma pessoa morre sem ‘precisar’ morrer”. 

Ela lembra que muitos pacientes morreram muito rapidamente, e seus corpos foram enterrados sem velório. Com a dor do luto, muitas dessas crianças enfrentam o desafio adicional de compreender a morte como um evento definitivo, uma tarefa complexa que exige sensibilidade e suporte adequados dos adultos ao seu redor. A situação pede uma resposta urgente do poder público, não apenas para reconhecer e validar o luto desses jovens, mas também para oferecer o apoio psicossocial necessário para ajudá-los a navegar por esse período desafiador.

Mortes infantis: melhora é insuficiente

Em 2022, o número de crianças que morreram antes de completar cinco anos, no mundo, atingiu um recorde de baixa, segundo a Reuters. Mas ainda estamos longe de alcançar um patamar desejável: ainda morrem 4,9 milhões por ano, o que representa um óbito a cada seis segundos, conforme estimativas recentes da ONU. Apesar de a taxa de mortalidade para essa idade ter caído pela metade, desde 2000, o mundo ainda está longe de alcançar o objetivo de reduzir as mortes evitáveis nesse grupo etário até 2030, e o progresso desacelerou bastante a partir de 2015. 

A maior parte das crianças que morrem cedo estão na África Subsaariana e no Sul da Ásia, e isso acontece por condições preveníveis ou tratáveis, como nascimento prematuro, pneumonia ou diarreia. A Organização recomenda melhor acesso à atenção primária à saúde para continuar revertendo esse quadro grave. Mas mudanças climáticas, a desigualdade crescente, conflitos, guerras e as consequências de longo prazo da covid são novas ameaças ao progresso.

Aquecimento global: onde vamos parar?

As recentes observações climáticas indicam que a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, conforme estabelecido pelo Acordo de Paris, está próxima de ser alcançada – mas isso ainda não aconteceu. Em um artigo publicado no site The Conversation, Christian de Perthuis, professor de Economia e fundador da cátedra Economia do Clima na Universidade Paris Dauphine, busca explicar em que momento poderíamos definir que ultrapassamos os limites definidos internacionalmente. Segundo ele, não basta um ano com temperaturas altas para ser possível afirmar que isso já aconteceu. 

Os institutos que fazem as medições de temperatura costumam considerar períodos maiores para afirmar mudanças reais – o IPCC recomenda o uso de um indicador que abranja duas décadas. Nos últimos dez anos (2014-2023), o aquecimento atingiu 1,2 graus acima dos níveis pré-industriais. E, se tudo continuar como está, não é difícil prever os próximos anos, pois a curva vem seguindo uma trajetória consistente. Mas Dauphine alerta para o fato de que não podemos seguir na inércia: “acima de tudo, isso mostra que a tendência deve ser revertida com urgência. Se ela continuar na próxima década, a meta de 1,5°C será atingida em meados da próxima década. Se continuar assim, em 2050 estaremos na metade do caminho entre a meta de 1,5°C e o limite de 2°C”.

O medo da dengue em SP

O Datafolha fez uma pesquisa sobre a percepção da população em São Paulo sobre a dengue, que já registrou oito mortes na capital. O medo de contrair a doença, segundo os dados, é mais prevalente entre os mais velhos – grupo de maior risco, de fato –, os que possuem menor nível de escolaridade e têm menor renda. 43% dos entrevistados expressaram “muito medo”. Paralelamente, 87% dos paulistanos expressaram desejo de ser vacinados contra a dengue, em meio a uma campanha de imunização focada em crianças e adolescentes devido à limitada disponibilidade de doses. 

A pesquisa também apontou lacunas no conhecimento sobre os sintomas e as formas de transmissão da doença, com uma parcela significativa da população jovem e menos educada se considerando mal informada. Esses dados emergem em um contexto no qual a cidade enfrenta um quadro epidêmico, com 35 mil casos contabilizados e uma preocupação crescente em diversos estratos da sociedade sobre a necessidade de medidas de prevenção e controle mais efetivas para combater a propagação da dengue.

O horror em uma comunidade terapêutica

Na comunidade terapêutica Esdras, localizada em Cajamar, São Paulo, internos enfrentavam condições severas que levaram à condenação de seus proprietários, Talita Assunção e Marcos Moglia, bem como da coordenadora, Lidiane Katia de Carvalho, por práticas que incluíram sequestro e cárcere privado. As violações relatadas envolviam agressões físicas e psicológicas, administração de medicação sem acompanhamento médico, trabalho forçado, intolerância religiosa e restrição de liberdade. Um dos episódios mais graves associados a essa instituição foi a morte de Milena Eduarda de Paula Leocádio. 

Esse caso, revelado por duas (1, 2) reportagens do The Intercept Brasil trouxe à tona a urgência de uma reflexão sobre alguns dos métodos empregados por comunidades terapêuticas. Esses fatos ressaltam a importância de não permitir a expansão desse tipo de instituição, que age com frequência fora dos parâmetros da Lei Antimanicomial. E mostram a urgência de ampliar a Rede de Atenção Psicossocial, para que possa acolher pessoas em liberdade.

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