Nada o fará mudar de ideia

Paulo Guedes se recusa a ampliar investimentos, contrariando até grandes empresários

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Para Paulo Guedes, dar à crise provocada pela pandemia do novo coronavírus uma resposta que envolva a ampliação de investimentos públicos é o mesmo que “bater a carteira” do governo. A declaração foi dada ontem na coletiva de atualização da covid-19. O ministro da Economia apareceu ao lado do chefe da Casa Civil, Braga Netto, em mais um lance da renovação de votos que o Planalto vem promovendo para afastar temores sobre a saída de Guedes e, assim, acalmar ‘os mercados’. 

O batedor de carteiras, no caso, seria o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, que tentava articular de dentro do governo um caminho alternativo ao dogmatismo neoliberal da equipe econômica. O primeiro passo – Plano Pró-Brasil – era incipiente, cabia em sete slides de Power Point, mas tinha uma pré-condição contrária à cartilha de Guedes: a flexibilização da Emenda Constitucional 95. “Apertar o botão da gastança e sair procurando farra eleitoral é simples. Volta e meia tem um que pensa isso, e o que nós temos que fazer? Bater em quem faz isso. Bater no bom sentido, bater internamente. Brigas internas, nós conosco”, afirmou o ministro da Economia.

Aparentemente, Paulo Guedes acha que já faz muito por ter abandonado, com reticência e momentaneamente, a agenda das reformas para a adoção de “medidas emergenciais”. A isso ele chama de “rumo”. Ontem, ele disse que a retomada depende da flexibilização de marcos regulatórios em áreas como saneamento e energia e defendeu o fim do regime de partilha, que garante à União uma fatia nos lucros obtidos por todas as empresas na exploração do Pré-sal. “É isso que vai garantir que os recursos venham do setor privado”, disse, seguindo sua lógica muito particular. 

É claro que ele continua querendo vender empresas públicas e imóveis da União para… pagar a dívida pública. “Tem uma dívida de R$ 4 trilhões. Se acelerar privatizações, desestatizações e venda de imóveis. Pode reduzir bastante”, disse antes da coletiva, em uma videoconferência com empresários do varejo. “Estou absolutamente igual, com a mesma energia, mesma determinação. O presidente tem me apoiado, as hipóteses com que eu trabalho têm se mantido”, reforçou.

Além de economistas ortodoxos, parte do PIB vê com preocupação a teimosia do ministro da Economia. Dois exemplos. Para André Lara Resende, chama “restrição dogmática” o que paralisa Guedes à espera de que “o investimento externo crie um novo milagre brasileiro”. Para ele, o fiscalismo é uma “obsessão” vendida como “algo derivado de posição técnico-científica”, mas na verdade é “uma posição ideológica de restrição do Estado”

Já para um integrante do grupo Diálogo Pelo Brasil, que reúne os 50 maiores conglomerados empresariais do país, entrevistado em off pelo Valor, “Guedes terá de adaptar sua cartilha” e “abrir mais as torneiras para ativar a economia e reforçar as políticas que ajudem as famílias mais pobres a manterem algum poder de compra”. Do contrário, o ministro da Economia vai “expor no curto prazo milhões brasileiros a terem uma vida pior do que tinham antes da pandemia”.

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