EUA podem ficar com metade de toda a produção de vacina da Pfizer
Acordo americano garante 100 milhões de doses do imunizante, ainda não aprovado – mas essa é só mais um entre vários movimentos do país na corrida da pandemia
Publicado 23/07/2020 às 08:13 - Atualizado 23/07/2020 às 08:15
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Por US$ 1,95 bilhão (R$ 9,9 bilhões), o governo Donald Trump fechou um negócio com a Pfizer e a BioNTech pela produção e entrega de cem milhões de doses da vacina BNT162, uma das duas candidatas desenvolvidas pelas companhias. Acontece que, até o fim deste ano, não vão ser produzidas mais do que cem milhões de doses, e por isso várias manchetes anunciaram que o país havia comprado antecipadamente tudo o que estaria disponível em 2020. À noite, a Pfizer desmentiu a notícia, afirmando que a compra se refere a 2020 e a 2021 e que, nesse período, devem ser fabricadas ao todo 1,3 bilhão de doses.
Bom, o acordo permite ao governo norte-americano obter 500 milhões de doses adicionais. Então, se essa extensão se confirmar, o país ficará com quase metade da produção das empresas – tendo menos de 5% da população mundial.
A verdade é que o governo americano está negociando com todas as empresas que desenolvem as principais candidatas à vacina. Por meio da ‘Operation Warp Speed’ (‘Operação Ultra-Velocidade’ em tradução livre), há investimentos em várias companhias para impulsionar o desenvolvimento e a produção em larga escala, garantindo o abastecimento por lá. Bilhões de dólares saíram dos cofres americanos para as farmacêuticas Moderna, Johnson & Johnson e AstraZeneca – esta última é a que está trabalhando junto com a Universidade de Oxford. Aliás, a AstraZeneca já anunciou que cerca de 300 milhões de doses da vacina de Oxford irão para os EUA; o Reino Unido vai ficar com outros cem milhões.
No caso da Pfizer e da BioNTech, é diferente. O pagamento só vai sair se a vacina demonstrar eficácia e for autorizada pela FDA (equivalente à Anvisa no Brasil). No momento, esse não é o imunizante mais avançado nas pesquisas. Foram publicados (sem revisão de pares) resultados promissores das fases 1 e 2 dos ensaios clínicos, com apenas algumas dezenas de voluntários. Os testes de fase 3, em larga escala, estão para começar em breve e, como dissemos ontem, a Anvisa autorizou que sejam realizados no Brasil também.
Para lembrar: o governo Trump está fazendo tudo errado para conter o espalhamento coronavírus, mas, quando se trata de mostrar seu poder de compra, a coisa muda de figura. Ainda em abril, os Estados Unidos deram um jeito de abocanhar máscaras e respiradores encomendados por outros países (inclusive por estados brasileiros). Em alguns casos, pagando mais por eles; em outros recorrendo a uma antiga legislação sobre exportações. Na época, o ministro do Interior alemão cravou: aquilo era “pirataria moderna”. Sem meias palavras, Trump chegou a afirmar que não queria “outros países conseguindo máscaras.” Na seara dos medicamentos, o país já garantiu a compra de toda a produção de remdesivir até setembro. Esse medicamento mostrou, em um grande estudo randomizado, reduzir o tempo de internação por covid-19.
Por aqui…
Depois do acordo dos EUA, o general Eduardo Pazuello disse que a Pfizer está no “radar” brasileiro. “Nós vamos observar isso daí, com a possibilidade também de entrar em algum tipo de acordo de cooperação para comprar essa vacina com a Pfizer”, afirmou o ministro interino.
Para a vacina de Oxford, já em testes de fase 3 no Brasil, está em pauta uma parceria com compra de lotes e transferência de tecnologia para que a Fiocruz produza o futuro imunizante. Seriam no total cem milhões de doses, sendo 30 milhões antes mesmo da aprovação e registro do produto, e o restante depois. Mas essa cooperação, anunciada há quase um mês, ainda não foi fechada.