Os três líderes

EUA, Brasil e Índia carregam um pesado fardo: registraram quase metade dos casos e mortes por covid-19 do planeta

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Este texto faz parte da nossa newsletter do dia 24 de julho. Leia a edição inteira.
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Quase metade de todos os 15,5 milhões de casos de covid-19 registrados no planeta estão em três países: Estados Unidos, Brasil e Índia. Eles concentram hoje cerca de 7,6 milhões de infecções, segundo o monitoramento da Universidade Johns Hopkins, e a questão foi apontada ontem pelo diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus. Os três líderes também são responsáveis por quase metade das mortes: 258 mil, das 633 mil confirmadas no mundo todo.

Os Estados Unidos bateram ontem a marca de quatro milhões de casos, sendo um milhão computados nas duas últimas semanas. Durante algum tempo, pareceu estranho que, por lá, o número de casos viesse subindo assustadoramente, mas não o de mortes. Alguns fatores podem realmente fazer com que se morra menos com covid-19 hoje do que há alguns meses – o principal é que, mesmo sem que tenha sido descoberta uma cura, já há evidências apontando as melhores formas de manejar quadros graves. No caso dos EUA, a ampliação da testagem poderia estar ‘pescando’ mais casos leves e assintomáticos, o que também poderia ser uma explicação. Mesmo assim, parecia provável que as mortes voltassem a subir em breve. Isso porque o vírus chegou a novos lugares, e leva tempo até as infecções se transformarem em internações e mortes.

Recentemente, comentamos na newsletter que as taxas de internação em vários estados estavam crescendo sem parar. Hoje, segundo a reportagem da Vox, há mais pessoas hospitalizadas no país do que em qualquer outro momento da pandemia. E, enfim, os óbitos começam a aparecer de forma inequívoca, aumentando consistentemente este mês. Na quarta-feira, pela primeira vez desde o dia 2 de junho, foram registrados mais de mil óbitos em 24 horas. Ontem, aconteceu de novo. No total, pelo menos 143 mil pessoas morreram por covid-19 naquele país.

O caso indiano é muito, muito complicado. Com quase 1,3 milhões de casos e 30 mil mortes, o país ainda tem nas grandes cidades a maior concentração das infecções, mas não sabemos por quanto tempo. Kerala, por exemplo, era considerada bem-sucedida no controle da pandemia, seguindo perfeitamente a cartilha da OMS: testar, rastrear, isolar. Chegou a haver dias sem registros de nenhum novo caso. Mas, mesmo lá, as infecções começaram a aumentar de repente –  tudo indica que, após o fim das restrições de viagens, o vírus voltou a entrar com as pessoas que retornam das grandes cidades, desempregadas. Agora, o governo local reconhece que já há transmissão comunitária. E talvez isso já esteja acontecendo, de forma desapercebida, em várias outras pequenas províncias e cidades que não testam tanto quanto Kerala. Ontem, várias localidades impuseram confinamentos

Um estudo sorológico apontou que 23% da população de Nova Déli foi infectada, o que daria mais de quatro milhões de pessoas (oficialmente, são pouco mais de cem mil). Isso mostra que, mesmo em um dos maiores focos da doença, uma parte grande da população segue suscetível ao vírus. 

No Brasil, mais de metade dos casos registrados em julho estão em cidades do interior, e o vírus chegou ao município que tem o menor número de habitantes: Serra da Saudade, em Minas Gerais. Só 781 pessoas vivem lá. Segundo o Estadão, não há transporte público, todas as escolas estão fechadas e há barreira sanitária, mas pelo menos quatro moradores estão com covid-19, na mesma família. A suspeita é que tenham sido contaminados por uma parente de fora, que veio visitar. Todos os outros moradores estão assustados: a UTI mais próxima está a 80 quilômetros de distância. Em São Paulo, quatro cidades de fora da região metropolitana puxam hoje os casos para cima: Santos, Campinas, Ribeirão Preto e Sorocaba estão na faixa das dez mil infecções, e nas três últimas os números estão em franco crescimento.

Nas grandes cidades, habitações precárias continuam sendo um fator para o espalhamento do coronavírus. Mais de quatro mil famílias da Rocinha, no Rio, estão sem água há oito dias. Wallace Pereira, presidente da associação de moradores, diz o óbvio no UOL: “Dessa maneira, deixaremos a covid vencer. As pessoas não conseguem nem lavar as mãos.” Mas esse nem mesmo é um problema pontual, como nota Fernando da Silva, coordenador de um espaço cultural na comunidade: “Dizer que falta água na Rocinha é redundante. O incomum é ter água frequentemente. Normalmente, a Rocinha fica três, quatro dias sem água. Em outro [dia], entra água e fica mais três dias sem.”

Ontem, foram registrados mais 1.317 óbitos e 58 mil novos casos, em todo o país. No total, são 84.207 mortes e 2.289.951 infecções conhecidas. 

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