Marajás do terceiro setor

Dirigentes de Organizações Sociais ganham mais do que o governador de São Paulo

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. Valores foram passados à CPI só depois de uma decisão judicial que obrigou as organizações a fornecer a informação 

22 de agosto de 2018

MARAJÁS DO TERCEIRO SETOR

A CPI da Assembleia Legislativa de São Paulo, que apura irregularidades nos contratos das Organizações Sociais com o setor público, recebeu ontem informações de três entidades sobre os salários de seus dirigentes. A OS Cruzada Bandeirante São Camilo chega a pagar R$ 28,2 mil para o diretor técnico do Hospital Geral de Carapicuíba, onde o diretor administrativo ganha R$ 26,7 mil. Em outras unidades, os altos salários se repetem. Os valores superam a remuneração do governador do estado, que recebe aproximadamente R$ 22 mil.

Segundo o Conselho estadual da Saúde de São Paulo, o salário do cargo comissionado equivalente ao mais alto nível de um administrador hospitalar concursado é de R$ 7.957,03. Na rede privada a média salarial é de aproximadamente R$ 11 mil, informa a reportagem da Rede Brasil Atual.

Outra OS que apresentou dados para a CPI foi o Instituto Sócrates Guanaes. Lá, também imperam os altos salários: o superintendente do Hospital Regional de São José dos Campos recebe R$ 21,5 mil; o diretor executivo do Hospital Regional de Registro, R$ 20 mil; e o diretor operacional do Hospital Regional de Itanhaém, R$ 17 mil.

Já a Fundação para o Desenvolvimento Médico e Hospitalar (Famesp) – que tem como ex-presidente o atual secretário adjunto da Saúde de São Paulo, Antonio Rugolo Júnior, apresentou as menores remunerações.  O diretor administrativo do Hospital de Base de Bauru recebe R$ 18,2 mil. Na maternidade Santa Isabel, o mesmo cargo recebe R$ 11 mil, mesmo salário do diretor técnico do Hospital Estadual de Bauru. Nas AMEs geridas pela Famesp os salários de dirigentes administrativos ficam entre R$ 3 mil e R$ 7,5 mil.

As informações não foram apresentadas de forma voluntária, mas devido a uma decisão judicial da última sexta-feira (17) que determinou a divulgação dos salários de dirigentes de todas as OSs que possuem contratos com o governo paulista e a prefeitura de São Paulo.

A única a responder a CPI sobre esse assunto antes da decisão foi a OS Casa de Saúde Santa Marcelina, que paga inacreditáveis R$ 32 mil para o administrador do hospital Santa Marcelina de Itaim Paulista e quase a mesma cifra para o responsável pelo hospital geral de Itaquaquecetuba.

FALTA COMPROMISSO

“O cargo de ministro da Saúde estará, em breve, vago. Graças a Deus!”, escreveu o médico Alfred Guarischi ontem em O Globo. Ele defende que os candidatos à Presidência respondam algumas perguntas, de modo que se comprometam a cessar com as mudanças constantes na pasta. Nem escolham o próximo titular como forma de agradar a base aliada no loteamento da Esplanada. Diz ele:

“Continuarão os escândalos de corrupção e a volta de epidemias? E mais: o aparelhamento político, impostos extorsivos e renúncias fiscais, que geram prejuízos aos pacientes, profissionais da saúde e empresários? (…) Há ausência de compromissos de longo prazo, nomeações políticas até para chefias técnicas, falta de um plano de carreira (como há no Judiciário), (des)organizações sociais — terceirização irregular de atividades-fim —, que trocam o corpo técnico seguidamente, e falta de concursos públicos para repor os servidores que se aposentam desestruturam o sistema de saúde. Não custa lembrar que é o sistema público o principal responsável pela vacinação, por emergências e transplantes de órgãos; que sarampo, hepatite e tuberculose não são evitados com perfumes caros; que uma carteira de plástico do plano de saúde nada vale num desastre; e que a fila em busca de um órgão é única e pública.”

É BOM, É RUIM

Já virou piada: não são poucas as vezes que um alimento é considerado saudável para em seguida ser considerado um risco à saúde, ou vice-versa. Pois chegou a vez do óleo de coco. Segundo Karin Michels, professora da Escola de Saúde Pública de Harvard e diretora do Instituto de Prevenção e Epidemiologia de Tumores da Universidade de Friburgo (Alemanha), o produto é “veneno puro”. Ela argumenta que este óleo contém ácidos graxos saturados – considerados pela Associação Americana do Coração um risco no desenvolvimento de doenças cardiovasculares. A Associação, que mudou suas diretrizes em junho, passou a considera-lo tão ruim quanto manteiga.

SOB ENCOMENDA

Folha traduziu reportagem do New York Times sobre mais um caso de conflito de interesses na ciência. O personagem é um endocrinologista da Universidade de Boston chamado Michael Holick que influenciou a criação do mercado de suplementos e testes de vitamina D, que movimento cerca de R$ 4 bilhões por ano. Holick participou da formulação das diretrizes nacionais dos Estados Unidos sobre as necessidades desta vitamina, e médicos passaram a solicitar exames para medir se os pacientes tinham deficiência a um custo de R$ 1,4 bilhão só em 2016. Eis que uma investigação feita a pedido do jornal americano constatou que ele recebe dinheiro da indústria desde 1979. Só de companhias farmacêuticas, recebeu aproximadamente R$ 652 mil entre 2013 e 2017. Da Associação de Bronzeamento Artificial, ganhou cerca de R$ 600 mil para suas pesquisas. O médico escreveu que o bronzeamento artificial era “fonte recomendada” de vitamina D se “usado com moderação”.

Mas no pano de fundo da história, há algo maior. E 2011, a Academia Nacional de Medicina divulgou um catatau de 1.132 páginas sobre a deficiência de vitamina D. Concluiu que a maioria da população do país produzia quantidades suficientes (20 nanogramas por mililitro de sangue) e aconselhou que médicos só testassem a deficiência em pacientes que corressem risco para enfermidades como osteoporose. Meses depois, estudo supervisionado por Holick – e feito a pedido da Sociedade de Endocrinologia – fixou o parâmetro em pelo menos 30 nanogramas por mililitro de sangue e, a partir disso, concluiu que havia uma epidemia de deficiência de vitamina D no país. Impulsionou a receita de suplementação. E ainda recomendou expressamente a realização de testes.

SARAMPO

A Organização Pan-Americana da Saúde divulgou ontem que os casos confirmados de sarampo dobraram em um mês. De 21 de julho a 21 de agosto, o total de casos notificados no ano subiu para 5.004. Em 20 de julho, o número era bem menor: 2.472. Quem puxou o crescimento foi a Venezuela (3.545, incluindo 62 mortes) e o Brasil (1.237, incluindo seis mortes).

SURTOS DE CHAGAS
O Instituto Evandro Chagas confirmou dois surtos de Doença de Chagas em fase aguda em Acará, no Pará. O primeiro deles foi encaminhado ao Instituto em julho; e o segundo foi descoberto em agosto. Já foram confirmados 20 casos de infecção e pelo menos um óbito. Os pesquisadores acreditam que nos dois surtos a doença foi transmitida por via oral, pela ingestão de açaí contaminado com fezes do parasita causados da enfermidade. Os principais sintomas são inchaço e febre prolongada.

TAMBÉM NO CHILE

A pressão pela descriminalização do aborto tem seu mais recente capítulo no Chile. Ontem, um grupo de 12 deputadas da esquerda apresentou projeto de leu no Congresso para tornar a interrupção voluntária da gravidez legal.  Elas usavam lenços verdes, como na Argentina. “Não é possível que as mulheres sejam levadas à prisão por abortar. Acreditamos na maternidade desejada”, disse a deputada do partido Revolução Democrática, Maite Orsini. A inciativa deve encontrar obstáculos entre os aliados do governo de Sebastián Piñera. “Não é parte da agenda; não o identificamos como uma situação à qual tenhamos que nos lançar toda vez que há prioridades que são de maior envergadura para a população”, afirmou o ministro da Saúde, Oscar Santelices, à AFP.

BREXIT

O NHS, sistema nacional de saúde do Reino Unido, não está preparado para a indefinição sobre o Brexit. A falta de acordo sobre a saída do país da União Europeia tem sido a principal crise enfrentada pelo governo. A informação vazou para a imprensa de um memorando enviado à direção do NHS na Inglaterra por um grupo que representa hospitais e serviços de ambulância. O texto alerta que a indefinição colocaria em risco imediato os serviços de saúde, dentre muitas coisas por afetar negativamente a cadeia de suprimento de remédios e a força de trabalho do sistema (que também é composta por profissionais estrangeiros). Eles reivindicam que o governo coordene um plano de contingência para os prestadores de serviços vinculados ao NHS.

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