Longe da meta de vacinação

Com Dia D, campanha nacional contra pólio e sarampo imuniza 40% do público-alvo. Ainda é pouco 

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20 de agosto de 2018

LONGE DA META

Sábado foi o ‘Dia D’ da campanha nacional de vacinação contra a pólio e o sarampo. E, ao que parece, foi proveitoso: no início dele só 16% do público-alvo da campanha – crianças com menos de cinco anos – tinham sido vacinados. Ao final, o percentual aumentou para 40% da meta. A expectativa do governo, porém, era ter chegado a 60% a esta altura da campanha. Ainda restam 7,5 milhões de crianças, do total de 11 milhões que precisam ser imunizadas até o final do mês. O Ministério da Saúde estuda fazer um segundo Dia D. Ao longo do sábado, mais de 36 mil postos de saúde foram abertos em todo o país das 8h às 17h.

“A resposta em campanhas de outrora foi mais rápida. A gente não chegava quase no meio da campanha com uma cobertura assim tão baixa. A impressão é de que as pessoas não estão preocupadas com o sarampo”, disse Isabella Ballalai, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, ao Estadão.

Enquanto isso, na Alemanha, o número de casos de sarampo triplicou em relação a 2017. Foram registrados quase mil casos. A diretora do Centro Alemão para Educação em Saúde, Heidrum Thaiss, alerta que, por lá, muitos pais acreditam que contrair a doença é bom, pois fortaleceria o sistema imunológico das crianças. A outra parcela que se recusa a vacinar os filhos teme reações à vacina. O último grande surto da doença no país aconteceu em 2015, quando foram registrados 2.464 casos.

BARBÁRIE

Dezenas de brasileiros atearam fogo em roupas e objetos pessoais de venezuelanos acampados em Roraima, usaram paus, garrafas e até armas de fogo para expulsá-los do país. Aconteceu na cidade que faz fronteira com a Venezuela, Pacaraima, no sábado. A justificativa dada para a barbárie foi a suposição de que venezuelanos estariam envolvidos em um assalto que deixou ferido um comerciante, e aconteceu na madrugada daquele dia. O Exército estima que 1,2 mil venezuelanos voltaram para o país depois dos ataques aos acampamentos.

Ontem, o governo anunciou o envio de 36 voluntários da área da saúde para atendimento dos imigrantes, em parceria com hospitais universitários, além de 120 homens da Força Nacional de Segurança. Michel Temer também comunicou que pretende acelerar a transferência de venezuelanos de Roraima para outros estados.

‘SOLUÇÕES’ 

Folha publicou ontem um ranking de Eficiência dos Estados (REE-F). Segundo o jornal, o objetivo do levantamento é mostrar “quais estados entregam mais educação, saúde, infraestrutura e segurança à população utilizando o menor volume de recursos financeiros”.

Uma das matérias destaca que em dez anos, quase metade dos servidores deve se aposentar. Para o jornal, a solução é contratar Organizações Sociais (OSs). Exemplos da saúde foram os mais citados, sempre evitando argumentos contrários à adoção. “Fazer concurso público é caro e gera pendências para o resto da vida com Previdência. Na área médica, o regime de PJ dá mais flexibilidade ao gestor e ao médico, que pode trabalhar em outros locais”, diz na reportagem Raphael Riodades, diretor do Hospital estadual Alberto Torres, gerido por OS. Na mesma matéria, Antonio Pinheiro Teles, ex-secretário de Planejamento do Amapá, lamenta que o estado tenha demorado a transferir a gestão das unidades de saúde para OSs. Outra ‘solução’, segundo a matéria, é passar reformas previdenciárias nos estados.

O jornal relacionou o resultado do ranking com o Índice de Desenvolvimento Humano. Afirma que os estados mais eficientes são aqueles com melhor IDH: “No geral, o desempenho na saúde é o que mais explica a variabilidade dos dados, especialmente o vetor da mortalidade infantil. Como se o quesito fosse o ponto final da matriz de causas e efeitos na cadeia de ineficiência do poder público. Entre os estados eficientes, a taxa média do fator é de aproximadamente 11,2 óbitos para cada mil bebês nascidos vivos, sendo o menor índice no líder Santa Catarina, com 9,9. No extremo oposto, o Acre fica na pior colocação, com 17,1. Cruzando-se os dados, percebe-se que a mortalidade infantil é maior nos estados onde o número de médicos por habitante é menor, onde falta saneamento básico e educação de qualidade, baixa participação do setor de serviços no PIB e alto comprometimento da receita com funcionalismo e Legislativo locais.”

POR TRÁS DA EDIÇÃO GENÉTICA

“Essa história começa há quase quatro bilhões de anos, quando a Terra era só mais uma rocha no sistema solar. Numa piscina de lava naquela rocha, algo surpreendente aconteceu. Uma longa molécula encontrou uma forma de copiar a si mesma. Moléculas similares, mais tarde, carregariam o código que tornou possível a seres vivos crescerem, digerirem, correrem, respirarem, lerem e lançarem foguetes para a Lua. Mas, por enquanto, essa molécula só sabia como fazer uma coisa simples, mas importante: se reproduzir. Foi o momento em que a vida emergiu”. Esta é a abertura de uma ótima reportagem publicadapela revista 1843 (editada pela The Economist), que fala sobre o trabalho da equipe liderada pela cientista Jennifer Doudna que descobriu uma forma eficaz de editar o código genético, a partir da imitação de um mecanismo de combate a vírus usado por uma bactéria que “pica” o DNA do invasor.

A descoberta de 2012 – conhecida como CRISPR – é hoje usada em praticamente todos os laboratórios do mundo. E a edição genética é uma mudança tão radical quanto democrática: pode, inclusive, ser feita em casa, a partir da compra de kits. E aí está um dos problemas levantados pela matéria: a ciência parece avançar bem mais rápido do que os governos são capazes de regular seus achados. Mas a 1843 também traz um relato cru sobre a competição em torno da descoberta, que tem um potencial bilionário pela frente e, no melhor cenário, pode ajudar a curar doenças genéticas simplesmente substituindo um código de doença por outro inócuo.

GENE ZUMBI

É como os cientistas batizaram um gene de elefantes capaz de matar células cujo DNA foi danificado. Apesar dos corpanzis, os animais intrigam há tempos pesquisadores por terem bem menos câncer do que humanos. A pesquisa revelou que o gene em questão, LIF6,  ficou “dormente” durante um tempo, mas “ressuscitou”; daí a pecha de zumbi.

ARGH!

Pesquisa da Associação Nacional de Química, dos Estados Unidos, alerta para os danos que o descarte incorreto de lentes de contato pode causar aos oceanos e rios. Não é novidade que muita gente joga as lentes pela descarga (por lá, 45 milhões de pessoas têm esse habito). As lentes ficam depositadas no fundo desses corpos d´água, e podem facilmente virar alimento de peixes. E vão parar dentro de peixes que comem esses primeiros. E, eventualmente, esses animais serão nossos alimentos. Acontece que as lentes são ótimas para acumular poluentes e outras ‘cositas’. Por exemplo: quem tem o hábito de usá-las por muito tempo contribuiu para que virem o criadouro potencial de amebas que se alimentam do globo ocular…

DE OLHO NO MERCADO

Eis outra iniciativa do conglomerado Alphabet, dono da Google, na área da saúde: a empresa DeepMind anunciou que planeja desenvolver um exame capaz de detectar mais de 50 tipos de enfermidades. O scanner terá inteligência artificial treinada para diagnosticar doenças melhor que os médicos de carne e osso. Os testes clínicos devem começar ano que vem.

GRATUITO

A Universidade de Nova York anunciou na última quinta que, a partir de agora, o curso de medicina oferecido pela instituição será gratuito. O comunicado foi feito durante cerimônia de ingresso de novos alunos. O preço do curso era de US$ 55 mil por ano. Segundo a Associação Americana de Faculdades de Medicina, os recém-formados têm de lidar com uma dívida média de US$ 202 mil. No caso de cursos como o da NYU – considerado um dos dez melhores do país – o endividamento chega a US$ 300 mil. A decisão é bancada por doadores privados e vai beneficiar 93 alunos do primeiro ano e 350 que ainda têm três anos de curso pela frente.

EBOLA

Subiu para 49 o número de mortos no surto de ebola que acontece na República Democrática do Congo. O surto foi declarado no dia 1º de agosto e, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, tem risco alto de se espalhar pela província de Norte Kivu, uma das mais populosas do país. Estima-se que duas mil pessoas tenham entrado em contato com o vírus. Noventa casos foram reportados até sábado, quando foi divulgado o último boletim do governo.

SINAL AMARELO

UOL entrevistou especialistas que alertam que zika e chikungunya podem voltar a ser problemas no próximo verão. Isso porque os vírus estão circulando e podem, como no caso da dengue, provocar epidemias, principalmente em locais pouco afetados em 2015-16, como o Sudeste do país. Para Carlos Brito, da Fiocruz Pernambuco, o país continua despreparado: “No Brasil tudo toma uma dimensão muito grande, porque é um país de dimensão continental. Então, não estamos preparados, nem os profissionais de saúde foram treinados, nem estamos tendo a dimensão da intensidade da doença, nem as instituições estão atentas para uma epidemia de grandes proporções em um estado como São Paulo, com 40 milhões de habitantes, ou no Rio de Janeiro, com 20 milhões de habitantes”, disse.

PODE SIM

Na Época dessa semana, o colunista Conrado Hübner defende a legitimidade de o Supremo Tribunal Federal julgar a descriminalização do aborto. Ele lembra que os movimentos de mulheres optaram em diferentes países por distintas vias de pressão institucional. Na Irlanda, na Suíça e em Portugal o tema foi levado a plebiscito. A via legislativa foi escolhida na Argentina e no Uruguai. Já nos Estados Unidos, no Canadá, na Alemanha e na Colômbia o caminho foi levar a questão às cortes. “Conquistas de direitos passam por diferentes caminhos procedimentais contingentes, produtos de escolhas pragmáticas. Não se pode presumir, de antemão, a superioridade de um caminho sobre o outro”, escreveu o professor de Direito da USP.

NOS TRÊS PAÍSES

E a luta pela interrupção voluntária da gestação no Brasil deixar de ser crime foi o assunto do último Profissão Repórter, que mostrou também a experiência do aborto legal no Uruguai e a luta travada na Argentina.

OPÇÃO CRESCENTE

No Brasil, a gravidez depois dos 50 tem se tornado mais comum. Em dez anos, o número de partos nessa faixa etária subiu 37%. Em 2016, foram 358 partos, quase um por dia. O Estadão entrevistou várias mulheres que recorreram à reprodução assistida.

DEPOIS DA DECISÃO

Matéria do Jornal do Commercio entrevistou duas mães que usam canabidiol para dar qualidade de vida aos filhos pequenos. Artur, sete anos, tem autismo e transtorno de déficit de atenção. Débora, oito anos, também tem autismo e é hiperativa. As famílias, que pediram autorização da Anvisa para importar a substância, comemoram a decisão tomada pelo Supremo Tribunal  de Justiça que, na última terça, liberou a importação direta para uma família em Pernambuco que entrou com ação contra a Anvisa. Os pais provaram que o medicamento ajudaria a conter as cerca de 240 crises epiléticas sofridas por mês pela filha, que tem paralisia cerebral.

FOI ABSOLVIDO

Na última quinta, o Tribunal de Justiça de São Paulo absolveu Daniel Tarciso da Silva Cardoso, ex-estudante de Medicina da USP acusado de estuprar uma aluna do curso de enfermagem em 2012. A 5ª Câmara de Direito Criminal confirmou sentença dada em novembro passado favorável a ele. Daniel foi acusado de drogar a vítima, imobilizá-la e violentá-la – primeiro desacordada e, depois, apesar de suas tentativas de se desvencilhar. Ex-policial militar, ele foi processado por homicídio durante uma briga no Carnaval de 2004. E absolvido: a Justiça considerou que a morte ocorreu em legítima defesa. Daniel se formou médico pela USP no ano passado.

FOI INDICIADO

Dr. Bumbum é oficialmente réu: na sexta, a 1ª Vara Criminal do Rio aceitou a denúncia do Ministério Público e decretou prisão preventiva do médico Denis Furtado por homicídio qualificado. Ele está preso desde o dia 19 de julho.

BOA NOTÍCIA

Mais ou menos. Explicamos: a pesquisa sobre os impactos dos subsídios fiscais do governo federal para o SUS – feita por Carlos Ocké, do Ipea, e Artur Fernandes, da Receita Federal – ganhou a manchete de domingo do Jornal do Brasil. Os achados dão a dimensão do problema, mas é bom que o assunto rompa a bolha e seja discutido por mais gente. Você conferiu os números aqui na newsletter do dia 19 de abril: em 13 anos, o governo deixou de arrecadar nada menos do que R$ 331,5 bilhões. O jornal destacou que o “afago” em dez anos foi de R$ 275 bi, privilegiando planos de saúde e hospitais. O link da matéria ainda não está disponível no site do JB.

AGENDA

Entre os dias 27 e 31 de agosto acontece na Faculdade de Direito da USP o V Congresso Internacional de Ciências do Trabalho, Meio Ambiente, Direito e Saúde. No primeiro dia, será realizada a conferência de abertura O mundo atual, as acelerações na vida e no trabalho, as contradições, a saúde, os direitos e as lutas sociais. O evento será palco de discussões sobre temas como o mundo do trabalho na América Latina no contexto da crise do capital, o empobrecimento e endividamento dos trabalhadores e suas famílias no Brasil e a reforma trabalhista.

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