Lobby dos combustíveis fósseis invade COP-28

• A presença de lobistas de poluidores na COP-28 • Anvisa constata veneno nos alimentos • Estudo sobre malária na Amazônia • Argentina: começa a resistência na Saúde • Mpox já matou 581 na República Democrática do Congo •

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Matéria da BBC reporta impressionante aumento do número de enviados por grandes empresas do ramo de carvão, petróleo e gás para Dubai, capital dos Emirados Árabes Unidos, para participar do grande evento sobre o clima. São 2.456 membros de tais corporações. Para efeito de comparação, em Glasgow, 2021, foram cerca de 500. A COP-28 é a cúpula climática que registrou a maior quantidade de presentes em toda sua história, com mais de 97 mil inscritos, entre representantes de governos, empresas, imprensa e sociedade civil. 

No dia dedicado à saúde, Tedros Adhanom, diretor da OMS, pediu o fim da exploração de combustíveis fósseis. Mas, como mostra declaração de Sultan Al Jaber, da monarquia dos Emirados Árabes e executivo da Adnoc, que disse não haver evidência entre queima de fósseis e aquecimento global, o lobby petroleiro deverá sair intocado do encontro. O setor projeta expandir sua produção em cerca de 110% até o fim desta década, o que inviabiliza qualquer pacto de combate às emissões de carbono e controle do aumento da temperatura em um máximo 1,5 °C até o fim do século, conforme definido pelo Painel Internacional das Mudanças Climáticas como passível de se evitar um colapso climático.

25% dos alimentos têm mais agrotóxico que o permitido

A Anvisa trouxe a público dados do seu Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos (PARA), responsável por observar amostras de alimentos que contam com a incidência de algum tipo de veneno em seu processo produtivo. Há dados preocupantes a respeito do uso cada vez mais intensivo dos chamados “defensivos agrícolas” na agricultura brasileira: 25% dos alimentos analisados contêm resquícios de tais produtos em quantidades acima do recomendado para a saúde humana. A agência reguladora publicou nota na qual diz ter condições de manter um controle confiável sobre a qualidade dos alimentos e que não está de braços cruzados. “Para esses casos [de alimentos com níveis elevados de veneno encontrados], a Anvisa vem adotando providências e recomendações com vistas à redução dos riscos identificados”. Os dados foram coletados em 2019-20 e 2022, com pausa durante o período de pandemia. É bom lembrar: organizações da sociedade civil enviaram ao governo Lula uma carta pedindo para que vete o chamado “Pacote do veneno”, aprovado recentemente pelo Senado. O PL propõe uma flexibilização das normas regulatórias para agrotóxicos, abrindo ainda mais a porteira para o envenenamento da comida, da terra e de populações indígenas e do campo.

Estudo pode ajudar a combater malária na Amazônia

Uma pesquisa coordenada por Fernanda Fonseca, vice-chefe do Laboratório de Modelagem em Estatística, Geoprocessamento e Epidemiologia da Fiocruz Amazônia, aferiu que rios de águas escuras possuem maiores condições de reprodução do Anopheles darlingi, mosquito transmissor da malária. O estudo comparou a incidência da doença em áreas de rios de águas claras (cristalinas), brancas (barrentas) e pretas (escuras). Concluiu, através de modelo matemático que ofereceu 99% de confiabilidade, que o mosquito se prolifera em maior quantidade no terceiro caso. Isso porque as águas escuras são mais ácidas, carregam menos sedimentos e têm maior quantidade de matéria vegetal (acumulada no seu curso, o que explica essa coloração), em decomposição. 

Após um período de maior sucesso no controle da doença, a malária voltou a crescer em 2019, segundo dados do Ministério da Saúde. “A situação epidemiológica continua preocupante e desafios como ter dados confiáveis sobre a incidência e distribuição da doença, bem como estratégias adaptadas localmente para melhorar o diagnóstico precoce ou o acesso oportuno ao tratamento, continuam sendo desafios importantes, especialmente em grupos e regiões vulneráveis”, explicou Fonseca. A pesquisa usou imagens de satéĺite de diferentes programas e abordou 50 dos 62 municípios do estado do Amazonas, que têm as maiores extensões fluviais do país e do bioma.

Encontro da saúde na Argentina antecipa enfrentamentos

Acabou, no último final de semana, o 10º Encontro Nacional de Saúde da Argentina, realizado em Exaltacion de la Cruz, província de Buenos Aires. O encontro reuniu cerca de 10 mil profissionais e estudantes da área. Realizado anualmente, o evento foi marcado por diversos debates, intercâmbios entre grupos de distintas partes do país e articulações técnicas e políticas. Com a proximidade da posse de Javier Milei, que reduzirá o status do Ministério da Saúde a secretaria, rufaram os tambores do enfrentamento contra o novo presidente, ideólogo da redução do Estado e dos serviços públicos. Presente no encontro, o atual ministro da pasta, Nicolás Kreplak, não poupou palavras. “São os mesmos dos anos 1990, 2001 e 2015, trarão endividamento, empobrecimento e exclusão. Nós, que estamos na Saúde, somos quem vai estar atrás de cada bairro, de cada escola, de cada centro de saúde e de cada hospital, acompanhando para que os danos sejam os menores possíveis”, discursou. Saúde mental e integração dos sistemas de saúde do país (o Outra Saúde explicou como funciona aqui) foram pautas destacadas do encontro.

Mpox descontrolada na República Democrática do Congo

Autoridades em saúde lamentam mais um fracasso da saúde coletiva global no país africano, que desde janeiro registrou 581 mortes pela mpox (inicialmente conhecida como varíola dos macacos). Para se ter ideia, a doença registrou 167 mortes no restante do planeta, nos últimos dois anos. Especialistas convergem em dizer que estigmas referente ao fato de a doença ter aparecido majoritariamente entre homens gays criam barreiras para uma resposta adequada de autoridades sanitárias. Além disso, a miséria endêmica do Congo associada aos surtos de cólera e sarampo que acometem o país centro-africano neste momento, ampliam as dificuldades. Para Oyewale Tomori, virologista nigeriano com experiência em mpox, “é provável que o estigma contra homossexuais dificulte as investigações no terreno e a formulação de medidas adequadas de resposta e controle”. O governo do país ainda não solicitou a compra ou doação de tratamentos, e esforços para doar vacinas enfrentam obstáculos regulatórios.

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