Brasil cumpre parcialmente metas de tratamento de HIV

• Brasil próximo a alcançar metas de HIV, mas há ainda milhares sem tratamento • A expansão da saúde-negócio nos EUA • A vitória do Panamá contra mineradoras • Holanda deixará de importar cientistas? • Gripe aviária chega a Galápagos •

Foto: NE10
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Boletim epidemiológico publicado pelo Ministério da Saúde na quinta-feira (30/11), às vésperas do Dia Mundial de Combate à Aids (1°/12), apontam que o Brasil já está cumprindo parte das metas de tratamento do HIV propostas pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/aids (Unaids). Das 1 milhão de pessoas que convivem com a condição no país, 90% receberam diagnóstico, 81% estão em tratamento antirretroviral e 95% destes já têm uma carga indetectável do vírus. Quanto a esses últimos, já se tornou praticamente um consenso entre os especialistas que “indetectável = intransmissível” – isto é, esses indivíduos não oferecem risco de transmissão de aids a outros, por exemplo, em uma relação sexual. Dois dos três objetivos ainda não foram cumpridos pelo Estado brasileiro: as metas das Unaids são conhecidas como 95/95/95 porque prevêem que os três índices alcancem essa porcentagem para que “a aids deixe de ser uma ameaça de saúde pública”, como explica a Agência Brasil.

… mas 190 mil seguem sem tratamento

Nesses três campos, como se vê pelas estatísticas, o Brasil está particularmente defasado na garantia de tratamento antirretroviral para os diagnosticados – apesar de, em linhas gerais, os números serem animadores e avançados em relação a outros países. Os 19% que ainda não o recebem representam 190 mil pessoas com HIV. A taxa de tratamento dos homens é levemente mais alta que a das mulheres – assim como a dos brancos em relação aos indígenas e negros. “É sempre um cumulativo de vulnerabilidades”, diz Dráurio Barreira, diretor do departamento de HIV/aids, Tuberculose, Hepatites Virais, e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde. Além disso, os dados apontam que uma parte importante das novas infecções no último ano foi entre gestantes. “Em 2022, essas mulheres representaram quase 60% dos casos”, afirmou Dráurio à Agência Brasil.

10% dos médicos dos EUA são empregados do mesmo plano de saúde

Crônicas da etapa monopolista do capitalismo: a revista Stat noticiou que 10% dos médicos dos Estados Unidos trabalham para o mesmo plano de saúde. No total, 90 mil profissionais da medicina trabalham para a UnitedHealth, sendo que 20 mil deles foram somados só no último ano – uma significativa expansão. A cifra, divulgada na quarta-feira (29/11), reúne os que são diretamente empregados pelo grupo e os que possuem algum outro tipo de vínculo. A UnitedHealth é a maior empresa de saúde dos EUA. Além disso, é a 11ª maior empresa do mundo (no geral, não só da saúde), com receitas similares às de gigantes como Apple e Shell. Os números demonstram o quanto a saúde é um negócio na maior potência econômica do planeta: das 50 maiores companhias do mundo, 6 estão na área. Todas elas, norte-americanas e privadas. Somadas, suas receitas chegam a US$1,5 trilhão, quantia próxima do PIB da Espanha, da Austrália, ou de 75% do PIB brasileiro.

Protestos que adiaram COP do Tabaco derrotam mineradoras

Há pouco mais de 3 semanas, a COP-10 do Tabaco que aconteceria no Panamá foi adiada por conta da instabilidade política no país, sacudido por grandes manifestações populares. Os protestos questionavam um acordo firmado pelo governo que concedia a maior mina de cobre da América Latina à First Quantum, uma multinacional canadense, por 20 anos. A COP é a instância de deliberação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT), acordo internacional que formula políticas de combate à epidemia do tabagismo. Na última terça (28/11), o povo panamenho obteve sua vitória: no dia da Independência do país, a Suprema Corte declarou inconstitucional a Lei 406, que continha o contrato com a First Quantum, por lesar a soberania nacional. Com a estabilização das ruas, é provável que se confirme a previsão de realização da COP no início de 2024 – e, como alertou O Joio e o Trigo, a indústria tabagista já está aproveitando o tempo a mais para pressionar o Brasil a ter posições pró-cigarro eletrônico no evento.

A vitória da extrema-direita e a ciência na Holanda

As eleições holandesas da última sexta-feira (22/11) deram a vitória ao partido liderado por Geert Wilders, um expoente da extrema-direita europeia. Após o resultado, a Science entrevistou diretores de entidades científicas e administradores de universidades locais que são unânimes em afirmar que as medidas propostas por Wilders seriam um desastre para a ciência no país – como costuma ser o caso quando políticos do tipo ascendem ao poder. Mas vale uma reflexão sobre as diferenças entre a situação da Holanda e a da Argentina. O futuro presidente argentino propõe o fim do Ministério da Ciência, o fechamento da prestigiada agência de fomento Conicet e a redução das verbas para o setor – já Wilders, em sua xenofobia, quer reduzir a entrada de estudantes internacionais e o fim dos cursos em inglês nas universidades. É possível, portanto, que o que esteja em risco não seja propriamente a ciência da Holanda – mas sua capacidade de manejar um mecanismo de importação de pesquisadores de países do Sul Global, que perpetua desigualdades históricas na academia. Uma crise não da ciência, e sim do brain drain.

Gripe aviária ameaça fauna de Galápagos

A vigilância epidemiológica internacional identificou a presença do H5N1, vírus da gripe aviária, nas ilhas Galápagos. O agente infeccioso foi encontrado em amostras recolhidas em aves mortas no arquipélago. Parte do território do Equador, as Galápagos foram famosamente visitadas por Charles Darwin no século XIX devido a sua notável biodiversidade, relatada em seu livro A Origem das Espécies. A Revista Pesquisa Fapesp alerta que a chegada da doença ao arquipélago traz preocupação pois ali vivem grandes quantidades de espécies endêmicas – ou seja, que só vivem naquela região. Cientistas acreditam que o vírus pode ter alcançado as ilhas por meio de aves migratórias infectadas que, ao percorrerem longas distâncias, levam a gripe a novos locais. Como a biodiversidade e as belezas naturais da região também atraem um grande número de turistas, cientistas também apontam que há um risco de transmissão da doença para seres humanos.

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