Anvisa aprova vacina para vírus sincicial respiratório

• Chicungunha tem aumento de 142% em SP • Laboratório Orion, de máxima biossegurança • Crise climática começa a gerar acidentes de trabalho • Programa para acelerar acordos com planos de saúde •

Foto: CBC
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Após um ano de alta das doenças causadas pelo agente infeccioso, a Anvisa aprovou o registro de uma vacina contra o vírus sincicial respiratório (VSR) – a primeira no país. O VSR é o principal responsável por casos de bronquiolite, conforme nota da autarquia. Em maio, como acompanhou este boletim, o Amapá chegou a decretar emergência na saúde pública após um surto do vírus causar a superlotação dos leitos hospitalares do estado. Crianças e idosos foram os mais afetados – e, por agora, a Anvisa recomendou o uso da nova vacina apenas para maiores de 60 anos, em dose única. Produzido pela farmacêutica britânica GSK, o imunizante tem o nome comercial de Arexvy. Devido às emergências do primeiro semestre, “o pedido de registro do medicamento foi enquadrado como prioritário”, continua a nota da Anvisa. Em junho, outro imunizante, desenvolvido pela Pfizer, havia sido aprovado pelas autoridades sanitárias dos Estados Unidos. O próximo passo para a utilização da Arexvy no país será sua aprovação pelo Conitec, ainda pendente.

Casos de chicungunha mais que dobram em SP

Em 2023, as arboviroses explodiram na mais populosa unidade federativa do país. Já são 142% mais casos de chicungunha em São Paulo do que no ano passado, segundo dados estaduais: foram 2.167 registros e 12 óbitos, contra 893 confirmações e nenhuma morte em 2022. No início do ano, a Organização Mundial da Saúde já havia previsto que a chegada do El Niño – cujos efeitos são intensificados pelas mudanças climáticas – poderia “aumentar a transmissão da dengue e de outros arbovírus, como a Zika e a chicungunha”, nas palavras de seu diretor-geral. A UFMG identificou até mesmo uma alta da infecção simultânea dos pacientes por mais de um vírus transmitido pelo Aedes aegypti. Para membros do Comitê de Arboviroses da Sociedade Brasileira de Infectologia, o cenário é ainda pior para o ano que vem – há expectativa de aumento de casos nas principais metrópoles e de disseminação da doença em regiões onde hoje não há registros dela.

Um laboratório de máxima biossegurança no Brasil

Um acordo de R$ 1 bilhão firmado entre o ministério da Ciência e Tecnologia, ministério da Saúde e Instituto Robert Koch, da Alemanha, financiará o laboratório Orion, no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas. O local será um centro de excelência de monitoramento, armazenamento e estudo de patógenos em condições de máxima biossegurança, um equipamento inédito na América Latina. O Orion estará integrado ao Sirius, tecnologia aceleradora de partículas, conectado a três fontes de luz síncroton, condição exclusiva do Brasil. O instituto alemão ajudará no treinamento e formação de cientistas brasileiros no trabalho com os micro-organismos capazes de causar graves doenças, cujo padrão de segurança o país ainda não domina. A novidade vem a reforçar o projeto nacional de soberania sanitária, recomendação da OMS aos países em desenvolvimento após a pandemia de coronavírus. O Orion terá 20 mil metros quadrados de extensão e a fase 2 do Sirius está contemplada no novo PAC.

“A pandemia recolocou no centro do debate a importância do domínio nacional de uma base produtiva em saúde, bem como o papel do Estado na coordenação de agentes e investimentos no enfrentamento da crise sanitária. Nesse contexto, a implantação do laboratório de biossegurança nível 4 é estratégica para o país. E a conexão entre o NB4 (definição do padrão de biossegurança do Orion) e a fonte de luz síncrotron abrirá grandes oportunidades de pesquisa e desenvolvimento na área de patógenos, posicionando o Brasil como liderança global”, comemorou a ministra de CT&I, Luciana Santos.

Mudanças climáticas afetam até acidentes de trabalho

Uma pesquisa realizada em conjunto por cientistas da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e da Universidade Federal do Paraná (UFPR) identificou as características dos acidentes de trabalho ligados à temperatura no Brasil. Segundo o estudo, de 2006 a 2019, foram 210 mil notificações ao Ministério da Saúde motivadas por desconforto térmico: elas se concentraram no Sudeste, em especial no estado de São Paulo, e ocorreram principalmente dentro das próprias empresas. Suas principais vítimas foram os homens – e as partes do corpo mais afetadas foram as mãos, os braços e as pernas. Para mitigar os danos à saúde dos trabalhadores, os pesquisadores recomendam “pausas frequentes ao longo da jornada de trabalho, principalmente durante as ondas de calor” – mas só o combate efetivo às mudanças climáticas pode reverter as condições críticas que estão gerando tantos acidentes de trabalho.

Para diminuir a judicialização na saúde privada

Em novembro, o Tribunal de Justiça de São Paulo lançou o programa Conciliando com a Saúde, que visa acelerar entendimentos entre usuários de planos privados de saúde e suas seguradoras. A iniciativa é mais um sintoma da crescente conflituosidade jurídica entre ambos os entes, com aumento das reclamações dos usuários a respeito de questões como negação de tratamentos e até cancelamento unilateral de planos, em especial de clientes que fazem terapias mais caras. “A cada 25 minutos, há uma nova ação na Justiça contra planos de saúde. Isso não faz mais sentido, pela simples razão de que saúde e integridade física, que são os bens maiores da vida, precisam de uma solução rápida. Não há efetividade, as empresas perceberam isso e aceitaram nosso convite”, falou Maria Lúcia Ribeiro de Castro Pizzotti Mendes, coordenadora do Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos (Nupemec) e desembargadora. A iniciativa de Maria Lúcia já recebeu adesão de 43 empresas que operam no estado. 

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