COP-28: carta contra PL do Veneno é entregue ao governo

• Manifesto contra investida do agronegócio • Na COP, a fala de Tedros Adhanom • Movimentos debatem saídas reais à crise climática • Plataforma para acompanhar dados de vacinação • Ministério lança bot em parceria com a Meta •

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No sábado, 28/11, a primeira-dama Janja recebeu de movimentos sociais um manifesto contra o chamado Pacote do Veneno. Trata-se do Projeto de Lei 1459/2022, aprovado na semana passada pelo Senado, em evidente ofensiva da bancada ruralista para esvaziar ainda mais os controles sobre a ação do capital agrário e sua sanha pelo uso intensivo de agrotóxicos – muitos deles banidos em outros países. “Diversas são as formas de exposição e de violação de direitos individuais, coletivos e difusos por agrotóxicos. E são as comunidades camponesas, povos indígenas e comunidades tradicionais os mais expostos e vulneráveis a tais violações devido ao racismo ambiental. Essas pessoas, Sr. Presidente, seguraram a sua mão quando te entregavam o Brasil no dia 1º de janeiro de 2023, subindo a rampa do Palácio do Planalto. O povo brasileiro não quer respirar agrotóxicos. O governo brasileiro precisa refletir a coerência entre o discurso ambiental em espaços multilaterais e a prática governamental de cuidado com as pessoas”, clama o texto.

O Instituto de Defesa do Consumidor, um dos signatários da Carta, tenta puxar um movimento de pressão para que Lula vete o PL, caso aprovado de vez nas duas casas legislativas, o que parece provável dada a desproporcional representatividade dos grandes proprietários de terra no Congresso brasileiro. “A questão climática é urgente. Por isso, é essencial que Lula vete o PL 1459/2022 pelo bem da nossa população e também da natureza. Essas substâncias geram uma série de impactos na biodiversidade e na saúde humana. Não há como avançar na garantia de direitos socioambientais se o uso de agrotóxicos for ainda mais flexibilizado no país”, criticou Julia Catão Dias, especialista do Programa de Consumo Sustentável do Idec e que viajou à COP-28.

Diretor da OMS rebate negacionismo de sede da COP-28

Diante da escalada de eventos climáticos destruidores mundo afora, parece uma alucinação ver uma Cúpula do Clima ser sediada por uma monarquia absolutista cujos líderes sobem ao palanque para dizer que não há relação entre aquecimento global e combustíveis fósseis. Mas foi isso que aconteceu em Dubai, quando Sultan Ahmed al-Jaber, membro da monarquia dos Emirados Árabes Unidos, CEO da petroleira local Adnoc e presidente da COP-28 afirmou não haver evidências científicas a este respeito. Por ações como essa é que a cúpula está fadada ao fracasso. No entanto, as falácias dos líderes globais do capitalismo só ecoam nas paredes do poder. Fora deste âmbito, a contestação aumenta. “A relação com a saúde é a forma mais convincente de mostrar às pessoas o impacto das mudanças climáticas”, afirmou Tedros Adhanom, que defendeu o fim da exploração das fontes fósseis de combustíveis para evitar o colapso climático. Sua participação marca a primeira edição da cúpula do clima que reservou um dia exclusivo para temas relacionados à Saúde.

Do lado de fora, movimentos debatem saídas

Como tem se tornado uma marca de tais eventos, a Cúpula do Clima tem seus debates mais incisivos do lado de fora das deliberações oficiais. As Zonas Verdes são o espaço onde movimentos e ativistas ambientais se encontram e promovem seus próprios debates, com participação também de atores políticos e empresariais. Apesar de não haver poder deliberativo, é onde se pode encontrar as elaborações mais profundas do que está em jogo. Um destes eventos paralelos foi o painel “Desafios e oportunidades na geração de energia na e para a Amazônia brasileira”, que reuniu diversos grupos indígenas e quilombolas, para debater os projetos energéticos na Amazônia brasileira, dentre outras iniciativas de “desenvolvimento” econômico que acabam se associando, a exemplo da mineração. “Queremos fazer parte de um desenvolvimento justo para nossa comunidade, que há gerações vêm cuidando da região para que tenhamos um clima equilibrado”, falou Katia Penha, da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ). O painel, organizado pelo Instituto Energia e Meio Ambiente (IEMA), pode ser assistido aqui.

Plataforma permite acompanhar taxas de vacinação

Foi lançada nesta segunda-feira a plataforma VacinaBR, ferramenta digital que permitirá o acompanhamento em tempo real das taxas de vacinação para diferentes doenças no Brasil. Desenvolvida em parceria do Instituto Questão de Ciência e a Sociedade Brasileira de Imunizações, a plataforma é mais um esforço da sociedade civil para combater o negacionismo científico da extrema-direita, cujos líderes, devidamente vacinados, seguem a investir forças na desinformação em massa. Na semana passada, a ministra Nísia Trindade teve de contra-atacar Eduardo Bolsonaro em audiência na Câmara dos Deputados, quando o filho do ex-presidente responsável por pelo menos 700 mil mortes na pandemia tentou associar vacinas em crianças com mortes súbitas. 

“Na sua fala, deputado, é muito preocupante uma correlação entre vacina e mortes súbitas. Gente, onde vamos parar gerando esse pânico na população? Fatos científicos: mais de 110 mortes de crianças em 2023 por covid-19, crianças menores de 5 anos. É em cima desses dados que estamos trabalhando para colocar a vacina de covid-19 no Calendário de Vacinação. Não há nenhuma morte de criança associada à vacinação, isso eu posso afirmar com base em nossos estudos. Nenhuma morte de criança em decorrência de vacinação”, afirmou Nísia. Resta saber se um dia os responsáveis pelo morticínio da pandemia serão julgados pelos crimes contra a saúde pública que insistem em cometer.

Ministério lança bot sobre vacinas

Junto do lançamento da VacinaBR, o Ministério da Saúde lançou um chatbot para whatsapp que fornece informações a respeito de imunizantes. A inteligência artificial responderá dúvidas, emitirá alertas de fake news e oferecerá informações variadas sobre saúde pública. A iniciativa faz parte do programa Saúde Com Ciência, lançado em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, dentro do escopo do Pop Ciência, programa que visa financiar jovens estudantes na produção de conteúdo científico e torná-lo acessível ao público. Desenvolvido pela empresa Robbu, e com a colaboração da Meta, corporação dona do Whatsapp e Facebook, o lançamento deste assistente virtual confirma o objetivo anunciado pelo governo de envolver as grandes empresas de redes sociais no esforço de combate à desinformação.

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