Esperando mortes subirem para agir

Cúpula do Ministério da Saúde estaria aguardando posição do Planalto e número de óbitos subirem para tomar medidas de contenção da segunda onda de infecções; especialistas dizem que hora de agir é agora

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A cúpula do Ministério da Saúde estaria aguardando uma posição do Palácio do Planalto para tomar atitudes em relação ao repique de casos da covid-19 que está sendo considerado por muitos especialistas uma ‘segunda onda’ da pandemia no Brasil. E isso poderia acontecer só depois que houver uma alta consistente no número de mortes. A informação também é do Estadão, que apurou que aumentou a pressão de secretários municipais e estaduais de saúde para que o governo federal ajude a controlar a curva de infecções e volte a custear leitos exclusivos para o tratamento dos doentes. 

“Será uma ação tardia, se deixar para agir após o aumento de óbitos. Este é o último dado que vai registrar alta. São semanas até se traduzir em aumento nos óbitos”, afirmou Marcelo Gomes, pesquisador da Fiocruz e coordenador da plataforma InfoGripe, que capta o aumento nas internações por síndrome respiratória aguda grave (SARG) e concluiu em seu último relatório que há sinais de crescimento em oito capitais, espalhadas de Norte a Sul do país.

Aparentemente, os militares da pasta se fiam não em boletins epidemiológicos que monitoram o comportamento da epidemia, mas em conversas telefônicas. Teriam ligado para secretários estaduais de saúde e saído convencidos de que os números mais elevados se devem ao represamento de dados depois do ataque hacker. Mas o presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Carlos Lula, parece preocupado: “A Europa já vive sua segunda onda. É questão de tempo ela chegar ao Brasil”, disse ao jornal.

O Brasil registrou 181 novas mortes por causa do coronavírus nas últimas 24 horas, atingindo um total de 169.197 óbitos desde o início da pandemia. Foram 484 mortes em média nos últimos sete dias

Na sexta-feira, atingimos a marca dos seis milhões de casos. Um levantamento da Folha indicou que seis capitais brasileiras já têm mais de 80% de lotação de UTIs dedicadas ao tratamento da covid-19. São elas: Vitória, Florianópolis, Porto Alegre, Curitiba, Manaus e Rio de Janeiro. Nessa lista podem figurar também Recife e Macapá, que não informaram o jornal, mas ficam em estados que registravam na semana mais de 70% de ocupação.  

Também na sexta, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) divulgou um alerta às autoridades sobre a gravidade da situação sanitária: “O quadro verificado hoje pode em pouco tempo levar a uma situação pior do que já vivemos até aqui. Tanto nos hospitais públicos quanto privados, as taxas de ocupação estão aumentando e chegando em alguns níveis acima de 90%, o que indica que o sistema de saúde pode entrar em colapso rapidamente e o crescimento de óbitos ser maior ainda em função de falta de assistência”. 

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