A soma dos testes encalhados é ainda maior

Além dos quase 7 milhões de exames PCR encalhados no Ministério da Saúde, pelo menos outros 605 mil estocados nos estados perdem a validade entre dezembro e janeiro

Foto: EBC
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Pelo menos 605,5 mil testes estocados nos estados perdem a validade entre dezembro e janeiro. Apenas São Paulo responde por 220 mil deles, com vencimento no próximo mês. Com isso, o número total de exames que podem, em breve, ir parar na lata do lixo chega a quase 7,5 milhões – contando com os 6,86 milhões sob a guarda do Ministério da Saúde. O levantamento é de Mateus Vargas, do Estadão, e foi feito a partir de informações de 17 estados e do Distrito Federal. Mas esse número pode ser maior, já que nove estados se recusaram a fornecer os dados. São eles: Acre, Alagoas, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Santa Catarina.

Sergipe é apontado na reportagem como um exemplo do problema de o governo federal repassar o teste sem os insumos necessários para sua realização. De acordo com o governo sergipano, 400 mil exames PCR chegaram ao estado em outubro acompanhados de apenas 110 mil reagentes de extração. Há também uma flagrante desorganização interna, já que o estado sequer soube informar quantos desses testes vencem nos próximos meses. 

Segundo a Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial, que defende os interesses de 48 empresas, cerca de 15 milhões de testes no país podem vencer sem terem sido usados.  

Como a Anvisa tem se posicionado

O Ministério da Saúde conta com o aval da Anvisa para conseguir se livrar do esqueleto no armário da vez: 6,86 milhões de testes PCR com vencimento entre dezembro e janeiro do ano que vem. Mas o Valor conta que pleitos semelhantes foram negados pela agência recentemente. Autorizar a extensão do prazo de validade de um produto a Anvisa até autoriza…

“O problema é que a decisão só vale para novas importações, ou seja, produtos que já estejam em estoque não podem ser utilizados”, resume o repórter Murillo Camarotto, que apurou que na última reunião da diretoria colegiada, realizada no dia 12, foram rejeitados três pedidos do gênero feitos pelas empresas Oltramed,1000Medic Distribuidora e VR Medical.

Essa última história tem detalhes que ajudam a colocar em perspectiva o caso envolvendo a gestão Eduardo Pazuello. A empresa VR Medical importou da China lotes de um teste sorológico, aquele que detecta anticorpos de quem já ficou doente. O registro foi concedido pela Anvisa em março, com data de validade definida em seis meses. 

Com base em novos estudos feitos pelo fabricante que atestavam a durabilidade do teste, em junho a empresa pediu que a agência estendesse o vencimento do produto para 12 meses. A Anvisa concordou. 

Mas negou o pedido de que os lotes que já estavam no Brasil fossem manuseados, a fim de atualização das datas. A agência argumentou que há a “possibilidade de complicações advindas da inadequada execução do retrabalho, por empresa que não faz parte do sistema de qualidade do fabricante”.

Diante disso, a VR Medical solicitou que a mudança fosse aprovada sem a necessidade de adequação de todos os rótulos. O pedido também foi rejeitado. Um parecer da Procuradoria-Geral junto à Anvisa, datado de 9 de novembro, afirma que para além dos riscos de manuseio, a legislação brasileira proíbe a remarcação. 

A empresa foi aos tribunais, alegando que a posição da agência era ilegal, equivocada e tinha “efeito desastro para o cenário atual de combate à pandemia”. Teve seu pleito negado pela 13ª Vara Federal de Brasília. 

Agora é esperar para ver o posicionamento da Anvisa no caso que tem potencial para derrubar do comando do ministério o general especializado em logística. 

Falando em Pazuello, ontem o ministro desviou de perguntas sobre os testes que mofam no depósito em Guarulhos. Ele estava de saída de um evento no Conselho Nacional de Justiça e deixou o local sem falar com a imprensa. O silêncio de Pazuello, em breve, pode ficar ainda mais ensurdecedor. Isso porque a comissão do Congresso encarregada de acompanhar as ações do governo para combater a pandemia aprovou uma audiência pública com o ministro sobre o caso, ainda sem data marcada. Mas, como se trata de um convite, o general não é obrigado a ir.

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