Doria e Bolsonaro, um contra o outro na vacinação obrigatória

Presidente marcado por discurso negacionista fala agora em necessidade de ‘comprovação científica’

.

Este texto faz parte da nossa newsletter do dia 20 de outubro. Leia a edição inteira.
Para receber a news toda manhã em seu e-mail, de graça, clique aqui.

Foi o próprio Jair Bolsonaro quem introduziu no debate público a discussão sobre a obrigatoriedade da imunização contra a covid-19 quando, no final de agosto, disse a apoiadores que “ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina”. Tanto a declaração não era um mero detalhe que a Secretaria de Comunicação da Presidência foi rápida em transformá-la em peça publicitária do governo. 

De sexta-feira para cá, o presidente já repetiu em um punhado de ocasiões que a vacina não será obrigatória no Brasil. Desta vez, porém, ele não está falando sozinho, mas se valendo do tema para situar-se no polo contrário ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB). O presidenciável tucano, que se elegeu em 2018 na esteira do bolsonarismo, tenta firmar-se como opção light da direita desde que a pandemia começou, alguém que respeita a ciência e os especialistas – e faz isso, claro, para se contrapor a Bolsonaro. 

Doria tem dito que a vacina será obrigatória em São Paulo. Também já antecipou algumas vezes a data do início da campanha para dezembro, embora a CoronaVac ainda não tenha chegado ao fim dos testes da fase 3 – como, aliás, nenhuma no mundo chegou. Ontem, ele declarou que o Brasil precisa de “paz, amor e vacina“… 

Bolsonaro aproveita a chance para inverter os sinais. Ele, que é o maior marqueteiro de um medicamento sem base na ciência para o tratamento da covid-19, destacou ontem algumas vezes a importância de “comprovação científica” para a vacina. Agora, ele seria o porta-voz da razão moderada, enquanto o rival, nas suas palavras, estaria “levando terror perante a opinião pública”. Nesse mashup políticoBolsonaro tenta pegar carona na ciência ao mesmo tempo em que reafirma posições que sustenta desde o início da crise, como as acusações de que os governadores fazem alarde. Reconhecido internacionalmente pelo autoritarismo, ele ainda posa de defensor das liberdades individuais – sem colocar na equação a variável fundamental em qualquer discussão sobre imunização: o interesse coletivo.

Leia Também: