Por que a pandemia pode piorar a resistência a antibióticos

Embora Organização Mundial da Saúde tenha orientado médicos a não prescreverem medicamentos sem indícios de infecção, estudos mostram que recomendação não foi seguida

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Na semana passada, falamos aqui do relatório anual da OMS sobre tuberculose, que indicava como a faixa de pessoas que criaram resistência a antibióticos foi grande em 2019, alcançando 465 mil doentes. Pois bem: uma reportagem da BBC Brasil aborda como a pandemia pode piorar ainda mais o problema da resistência antimicrobiana. Isso porque, mesmo sem eficácia comprovada para a covid-19, antibióticos estão sendo amplamente receitados durante a pandemia. 

Não é preciso ir muito longe para ter um exemplo disso, afinal, nos tornamos o país em que o governo federal – presidente, incluso – faz propaganda do uso da hidroxicloroquina associada à azitromicina. No mundo, esse antibiótico ficou só atrás dos analgésicos, sendo prescrito para covid por 41% dos 6,2 mil médicos entrevistados por um aplicativo. A resistência à azitromicina pode afetar o tratamento de doenças como otite e gonorreia – e, segundo a OMS, ela faz parte da categoria de antibióticos em que há maior urgência em se desenvolver novas drogas. 

A própria organização publicou em maio um guia para tratamento da covid-19 que recomendou que antibióticos não fossem utilizados no tratamento de casos suspeitos ou leves. E mesmo nos casos moderados, a entidade indicou que o uso só deveria ser feito após indícios de uma infecção bacteriana.

Mas vários estudos mostraram que os médicos usaram muitos antibióticos para evitar coinfecções, independentemente de elas existirem de fato ou não, e azitromicina para, supostamente, ‘fortalecer’ o sistema imunológico – usando como base aquele famigerado artigo francês, sem revisão de pares e com apenas 30 pacientes, que lançou a fama da hidroxicloroquina no combate ao novo coronavírus.

A taxa de coinfecção da covid-19 é baixa (estudos têm sugerido que acontece em 5 a 7,5% dos casos, quando a influenza tem taxas bem maiores, de 30 a 40%) e a eficiência da azitromicina foi refutada em um estudo publicado pela Lancet. Ou seja, estamos correndo riscos desnecessários de aumentar a resistência a antibióticos.

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