Diante do colapso, secretários estaduais de saúde defendem lockdown já

Gestores pedem para que Ministério da Saúde, enfim, assuma coordenação das medidas, mas pasta se comporta como avestruz mais uma vez

.

Este texto faz parte da nossa newsletter do dia 2 de março. Leia a edição inteira. Para receber a news toda manhã em seu e-mail, de graça, clique aqui.

Os secretários estaduais de saúde pressionam para que o governo federal coordene a adoção de medidas padronizadas para o enfrentamento da crise sanitária e coloque na rua um plano de comunicação que conscientize a população da gravidade do momento. Dentre as ações, eles defendem lockdown em todos os estados que ultrapassarem o índice de 85% de ocupação dos leitos de atendimento dedicados à covid-19. Para os locais onde a situação não chegou a esse nível, a carta prega pela adoção de outra medida coordenada: o toque de recolher nacional, que funcionaria das 20h às 6h, inclusive nos finais de semana. 

Segundo a colunista Bela Megale, o documento teve apoio unânime de todos os responsáveis pelas pastas de saúde – incluindo os aliados de primeira hora do presidente Jair Bolsonaro –, embora seja assinada apenas por Carlos Lula, presidente do conselho de secretários estaduais, o Conass. O texto fala com todas as letras que o país enfrenta o pior momento da pandemia e, ainda assim, continua faltando “uma condução nacional unificada e coerente” para a crise.

Questionado pelo jornal O Globo, o Ministério da Saúde se portou como avestruz, repetindo fórmulas vagas. A pasta comandada por Eduardo Pazuello respondeu que recomenda o uso de máscaras (embora o ministro não as use) e que as pessoas evitem aglomerações (das quais o general participa). “Cabe reforçar, ainda, que estados e municípios têm autonomia para definir a organização local de acordo com a necessidade e situação epidemiológica de cada região”, diz o ministério na nota. 

As medidas defendidas pelo Conass colocam numa saia justa também os governadores ao serem muitíssimo mais rigorosas do que os anúncios que vêm sendo feitos por eles nas últimas semanas. A proibição de eventos presenciais, inclusive os religiosos, está na lista. Pois ontem mesmo o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), assinou um decreto em que considera cultos e missas como atividades essenciais

Na Bahia, atos religiosos também estão a salvo do decreto de restrições do governador Ruy Costa (PT). As regras vão sendo prorrogadas a conta gotas: começaram a valer na sexta, foram prorrogadas domingo por apenas 48 horas… Apesar de determinarem fechamento de comércio, dão a dimensão do medo de desagradar parcelas da população que tem sido a regra geral diante do colapso no sistema de saúde. “Não é fácil. É duro receber mensagens de pessoas que perguntam assim: ‘E o meu negócio? E a minha loja?’. O que é mais importante: 48 horas de uma loja funcionando, ou a vida humana?“, questionou o governador emocionado durante uma entrevista concedida ontem.

Considerando apenas os leitos de UTI, o lockdown defendido pelo Conass deveria ser decretado já na metade do Brasil. Segundo um levantamento do jornal O Globo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Goiás, Distrito Federal, Rondônia, Roraima, Ceará e Pernambuco já estão na casa dos 90%. Há outros nove estados que oscilam entre uma ocupação de 80% e 89%. 

Leia Também: