CFM questiona a ciência mais uma vez

• Médicos devem dar opinião sobre vacinas? • Dalcolmo preocupa-se com formação médica no Brasil • Adolescentes e os remédios para emagrecer • ÆSOP para detectar novas pandemias • Teste brasileiro de leptospirose • Cabo Verde sem malária •

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O Conselho Federal de Medicina (CFM), entidade médica que tem se posicionado, nos últimos anos, ao lado de figuras da extrema-direita negacionista, começou o ano com mais uma polêmica. Como resposta à entrada da vacina anticovid no Calendário Nacional de Vacinação, após decisão do Ministério da Saúde, o CFM abriu uma consulta aos médicos do Brasil. Quer saber se eles concordam com a obrigatoriedade da vacina e se já atenderam crianças com covid ou complicações decorrentes da doença. Segundo os números oficiais, apenas em 2023, foram registrados 5.310 casos de covid em crianças menores de 5 anos – 135 morreram. Dados do Observa Infância, da Fiocruz, dão conta de que entre 2020 e 2021, a covid matou mais que o triplo de crianças de 6 meses a 3 anos que a soma de todas as mortes nessa faixa etária ao longo da última década por doenças que podem matar e são preveníveis por vacinas. Além disso, um estudo chinês feito em 2022 mostrou que crianças não vacinadas representavam 90% dos casos moderados e graves da doença. “A pesquisa parece não ter outro propósito senão o de alimentar uma falsa controvérsia em torno da vacina para covid-19, fundada em puro negacionismo médico-científico e teorias da conspiração”, denuncia nota publicada pela Frente pela Vida. A Sociedade Brasileira de Imunização, por meio de sua presidente Mônica Levi, também se pronunciou: “Nós consideramos que não faz sentido o Conselho Federal de Medicina fazer uma pesquisa sobre a opinião médica de algo que já foi discutido pela Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19”.

Dalcolmo avalia a formação médica no Brasil

Avaliando a situação do ensino médico no país, a professora Margareth Dalcolmo, pesquisadora da Fiocruz e  presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) afirmou que considera “uma tragédia a formação de muitos hoje no Brasil em diversas universidades privadas. Temos unidades formando profissionais sem ter nenhum hospital de base para treiná-los”. A O Globo, ela opinou que o “aumento exagerado e sem critérios na abertura de cursos de graduação e oferta de vagas na rede privada”, como feito nos últimos anos, não tem sido uma boa estratégia para combater a falta de médicos em regiões estratégicas e desatendidas do país. Para Dalcolmo, é preciso apostar mais na universidade pública – e criar planos de carreira regionais, em especial no Mais Médicos, para fixar os profissionais nos locais prioritários.

Adolescentes na preocupante busca pela perda de peso

Uma revisão bibliográfica recente publicada no JAMA Network Open revela que quase 1 em cada 10 adolescentes utilizou produtos para perda de peso sem prescrição médica, como laxantes e suplementos, no mundo. Apesar de medicamentos de perda de peso como Ozempic e Wegovy receberem enorme atenção nos últimos meses, os adolescentes, particularmente influenciados por plataformas como o TikTok, recorrem a opções mais acessíveis e sem necessidade de receita médica. O uso desses produtos, em especial entre as meninas, está associado a riscos cardíacos imediatos e comportamentos prejudiciais, podendo contribuir para o desenvolvimento de distúrbios alimentares e outros problemas de saúde mental. A pesquisa abrange mais de 600 mil participantes de até 18 anos em 90 estudos de diversos países – embora haja uma concentração desproporcional de dados sobre os Estados Unidos. Os pesquisadores destacam a escassez de estudos do tipo sobre a África, América do Sul e o Oriente Médio.

Um sistema para detectar novas pandemias

O Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), em colaboração com pesquisadores de outras unidades da Fiocruz, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Fundação Rockefeller, está estudando em profundidade o sistema ÆSOP (Alert-Early System of Outbreaks with Pandemic Potential), uma inovação para antecipar surtos infecciosos. Como se viu com o surgimento da pandemia de covid-19, o atual sistema global de vigilância e alerta sobre doenças infecciosas não é eficaz na detecção rápida de patógenos respiratórios de rápida dispersão. O estudo, publicado no Journal of Medical Internet Research, destaca o ÆSOP, reconhecido internacionalmente, que utiliza dados de diversas fontes, como atendimentos de saúde na Atenção Primária, vendas de medicamentos, mídias sociais e notícias, para antecipar surtos – em especial de H1N1 e covid. “Agora estamos trabalhando na consolidação do sistema, garantindo que os alertas possam ser dados ao Ministério da Saúde em breve”, revelou Pablo Ramos, coordenador do estudo e pesquisador do estudo e vice-coordenador do Cidacs/Fiocruz Bahia.

Novo teste de leptospirose vem do Butantan

O Instituto Butantan criou um novo teste para leptospirose, considerado superior aos já existentes. Estudiosos do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas da instituição pública paulista, responsáveis pela inovação, afirmaram à Folha de São Paulo que o exame é capaz de detectar a doença em 70% dos casos em que o teste MAT, recomendado pela OMS, resulta em falsos negativos. A falha no diagnóstico é particularmente comum quando o teste é realizado ainda nos primeiros dias dos sintomas da leptospirose. Os pesquisadores desenvolveram uma proteína sintética que, em contato com o soro do paciente, ajuda a identificar a infecção pelas bactérias Leptospira. O Butantan já solicitou a patente da descoberta, mas a coordenadora do grupo ressalta que ainda são necessários mais estudos antes de sua utilização em larga escala.

Cabo Verde erradica a malária

Na semana passada, Cabo Verde tornou-se um território livre da malária. Segundo comunicado público da Organização Mundial da Saúde (OMS), o arquipélago de língua portuguesa é apenas o terceiro país da África a alcançar o título – após a Nigéria e as ilhas Maurício. A certificação é concedida após a comprovação da interrupção da transmissão local da doença por três anos. A inclusão da meta de eliminação da malária no Plano Nacional de Saúde cabo-verdiano em 2007 e a criação de um Plano Estratégico Para a Malária, executado entre 2009 e 2013, são creditadas como passos decisivos para a recente façanha. A decisão de oferecer diagnóstico e tratamento gratuito para turistas e migrantes também foi considerada essencial para conter os “casos importados”. O diretor-geral da OMS Tedros Adhanom opinou que “a conquista de Cabo Verde […] demonstra que com decisão política, envolvimento da população, colaboração multissetorial e políticas públicas eficazes, a eliminação da malária se torna alcançável”.

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