Werner: Planos usam autismo para narrativa de crise

• “Querem colocar a população contra os autistas”, acusa a deputada • Bactérias resistentes se multiplicam no Brasil • Como impedir mortes por fome em Gaza • Equador: como a ciência encara a crise •

Foto: Rodrigo Romeo/Alesp
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“Comparar autismo com câncer é uma coisa que não faz o menor sentido. A sensação que deu pra gente é que os planos de saúde querem colocar a população contra os autistas”, rebateu a deputada estadual Andréa Werner a uma recente manchete da Folha de São Paulo que acenava aos argumentos das empresas de saúde suplementar para não cobrir os serviços de que necessitam os brasileiros com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Em entrevista ao Brasil de Fato, a parlamentar paulista avaliou que as operadoras de saúde estão em ofensiva para reverter a determinação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) de que sejam cobertas sem qualquer limite as sessões de fonoaudiologia, terapia ocupacional e psicoterapia de que necessitam os autistas. 

Sem isso, a qualidade de vida dessas pessoas tende a piorar bastante. “Muitas vezes, as crianças não podem mais ir para a escola porque, sem a terapia, apresentam um quadro de regressão de habilidades. Outras famílias fazem o que podem para continuar a ter as terapias, pagando por elas, mas aí têm problemas nas contas de casa para conseguir até mesmo o básico”, como explicou a deputada em entrevista a Outra Saúde. As condições econômicas dessas empresas, ela lembra, podem ser bem diferentes do que elas alegam. “Eles [planos de saúde] vêm mudando ao longo dos últimos dois anos para essa narrativa de crise, de que vão quebrar. […] Mas a realidade mostra que não é isso: fazem fusões e aquisições, estão muito bem na Bolsa de Valores, dão nome para estádios e arenas, compram clínicas e laboratórios”, conclui Werner.

Resistência microbiana cresce nos hospitais brasileiros

Um projeto internacional, coordenado no Brasil por uma professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), atesta: em nosso país, estão se multiplicando as bactérias resistentes aos antibióticos. A situação remete a um problema maior, em que “estamos vendo surgir bactérias contra as quais não há mais medicamentos eficazes”, como explica uma infectologista das autoridades sanitárias estadunidenses à reportagem da Folha. Entre outros perigos, isso leva à ampliação do risco da disseminação das infecções nos hospitais – e as “superbactérias” estão se tornando mais comuns exatamente nesses ambientes.

De acordo com um estudo publicado em junho do ano passado no periódico PLOS Medicine, no mundo, 136 milhões de infecções hospitalares são causadas por esses microrganismos multirresistentes por ano. O Brasil já é o quinto país mais afetado, com 4 milhões de casos anuais registrados. Em 2019, 1,27 milhões de pessoas morreram devido às bactérias resistentes aos medicamentos: uma cifra mais alta que a da malária, aids e tuberculose juntas, ressaltam os estudiosos. Tudo indica que a superlotação dos hospitais durante a pandemia, bem como o aumento do uso dos antibióticos, intensificaram a dispersão dos genes resistentes. Mas ainda “não temos um bom sistema de vigilância que integre a frequência de microrganismos resistentes nos hospitais e monitore a sua disseminação para a comunidade e o meio ambiente”, lamenta uma participante do estudo.

Medidas urgentes para impedir a fome em Gaza

A Faixa de Gaza, sob ataques incessantes de Israel há pouco mais de 100 dias, está cada vez mais próxima da famine – no inglês, a fome que pode evoluir rapidamente para a mortandade em massa. Respondendo a esse quadro emergencial, a OMS, a UNICEF e o Programa Mundial de Alimentos (WFP) lançaram um novo apelo pela entrada de ajuda humanitária no enclave palestino. Objetivo, o documento propõe quatro medidas imediatas: a abertura de novas rotas de entrada em Gaza; a ampliação do número de caminhões de suprimentos autorizados a entrar todos os dias; o fim das restrições ao direito de ir e vir dos trabalhadores humanitários; mais garantias de segurança para aqueles que estão distribuindo ou recebendo a ajuda.

Até aqui, a maioria dos palestinos mortos no conflito pereceu em decorrência direta dos bombardeios e trocas de tiros. Depois, com a destruição da infraestrutura de Gaza, começaram a se alastrar as doenças – bem como a falta de água e comida. Agora, um relatório do IPC confirma que praticamente toda a população do enclave, ou cerca de 2,2 milhões de pessoas, vive uma situação de insegurança alimentar aguda. “A fome tornará catastrófica uma situação que já é terrível, pois pessoas doentes são mais vulneráveis à inanição, e pessoas com inanição são mais vulneráveis à doença”, afirmou o diretor-geral da OMS. A urgência do comunicado sugere que a cifra de palestinos mortos na guerra, hoje em torno de 23 mil, pode se multiplicar no curto prazo.

A ciência do Equador em meio à crise

Um episódio de violência como o que se abateu sobre o Equador na última semana paralisa todos os âmbitos da vida em sociedade – a investigação científica inclusa. Uma matéria da revista Science entrevistou estudiosos de vários centros de pesquisa do país sul-americano para saber como o embate entre as Forças Armadas e as facções criminosas locais afetou seu trabalho. O vice-diretor de uma universidade pública na metrópole portuária de Guayaquil, epicentro do ocorrido, relatou que “decidiu não evacuar completamente a faculdade de imediato, pois a cidade estava um caos completo, mas designou áreas seguras dentro do campus para que as pessoas aguardassem em paz e ofereceu rotas seguras de saída”.

Na capital Quito, viagens de campo para sítios de pesquisa na cordilheira dos Andes foram canceladas. O governo também determinou a suspensão das aulas presenciais por uma semana em todo o país. Uma primatologista e diretora de uma reserva ecológica na Amazônia equatoriana lembra que, em sua região, os entraves no trabalho de conservação ambiental estão se multiplicando por conta da crescente presença das atividades criminosas. A complexidade da crise na segurança do Equador provavelmente fará surgir os vendedores das “saídas fáceis” – com consequências potencialmente graves inclusive para os cientistas.

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