A fila do SUS está andando

• Mais transplantes e doadores de órgãos • Produção de vacinas na Fiocruz • Dovato começa a chegar aos brasileiros com HIV • Estratégia contra a malária • EUA buscam saída à escassez de remédios • Adeus a dois defensores do SUS •

Foto: GZH
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Dados compilados pelo Ministério da Saúde (MS) apontam que 2023 registrou o maior número de transplantes dos últimos dez anos, sugerindo importantes avanços na redução da fila de cirurgias no país – agigantada durante a pandemia da covid-19. Os transplantes de rim, fígado e coração foram os mais frequentes. Cresceu também a quantidade de doadores de órgãos: foram 17% a mais que em 2022 e a expectativa é que a Política Nacional de Conscientização e Incentivo à Doação e ao Transplante de Órgãos e Tecidos, sancionada em novembro, amplie o movimento em 2024. Os avanços até aqui indicam que cinco estados poderão zerar sua fila de cirurgias no SUS: Tocantins, Sergipe, Piauí, Paraíba e Mato Grosso do Sul. O Programa Nacional de Redução de Filas, instituído pela ministra Nísia Trindade com um mês de governo, mostra sinais de êxito.

Brasil e América Latina querem vacinas da Fiocruz

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou nesta semana o investimento de R$30 milhões na vacina contra a covid-19 da Fiocruz, que utilizará a tecnologia de RNA mensageiro. À Agência Brasil, um representante do banco público afirmou que o apoio ao desenvolvimento do imunizante se justifica “na medida em que torna o país mais preparado para o enfrentamento de futuras emergências de saúde pública, com mais autonomia e mais celeridade no desenvolvimento de novas vacinas”. BioManguinhos, laboratório da Fiocruz responsável pela pesquisa, também se prepara para assumir um papel mais importante na resposta a emergências sanitárias a nível regional. O instituto assinará um acordo com uma rede das Nações Unidas que o fará ser acionado para o fornecimento de vacinas a países da América Latina em caso de novas epidemias ou pandemias. Em BioManguinhos, também se encontram em fase de testes novos imunizantes contra a zika e a febre amarela.

Primeira remessa do Dovato chegou

Nessa semana, o MS concluiu a entrega do primeiro lote do Dovato, importante remédio para o tratamento do HIV. Chegarão aos estados 5,6 milhões de unidades. O medicamento, que combina o dolutegravir à lamivudina, começou a ser produzido pela Fiocruz em período recente. Como informou Outra Saúde quando o ministério anunciou sua distribuição via SUS, o Dovato pode ser um grande aliado na adesão dos pacientes ao tratamento, por reduzi-lo, para muitos, à tomada de uma pílula por dia. À época, o questionamento já surgia: quem e quantos serão os elegíveis para receber o medicamento? Por enquanto, não muitos. Em torno de 460 mil pessoas usam o dolutegravir diariamente no país, mas apenas 30 milhões de unidades do Dovato serão entregues em 2024 – em tese, o suficiente para pouco menos de um quinto do total. Nesse primeiro momento, o ministério autorizou a mudança de terapia para pacientes maiores de 50 anos com adesão regular ao tratamento convencional e carga viral quase indetectável do HIV. Com o crescimento da escala de produção, espera-se que o Dovato esteja acessível para as maiorias em breve.

Uma estratégia para erradicar a malária

O arquipélago de São Tomé e Príncipe utilizará mosquitos geneticamente modificados para combater a malária. A nação lusófona na costa da África já foi uma região onde a doença era endêmica. Há cinco anos, porém, os óbitos caíram a zero com a utilização de diversas estratégias de combate ao mosquito Anopheles, vetor da doença. O número de casos, por outro lado, segue expressivo: em 2023 foram 2 mil, em um país de 200 mil habitantes. Agora, são buscadas formas de enfrentar um quadro em que os mosquitos que sobreviveram às campanhas anti malária são resistentes à maioria dos inseticidas e tratamentos conhecidos. A expectativa é que os animais geneticamente modificados, imunes ao protozoário Plasmodium, espalhem a característica entre a população de mosquitos da ilha e acelerem a erradicação da malária. Críticos da proposta apontam que investimentos em saneamento básico e moradia digna seriam mais eficazes em combater a doença melhorando ao mesmo tempo a qualidade de vida dos são-tomenses.

EUA comprarão remédios do Canadá

Há meses, os Estados Unidos vivem uma grave escassez de remédios. Uma medida recém-anunciada traz pistas do caminho que será adotado no enfrentamento da crise: a FDA autorizou os estados dos EUA a comprarem remédios do Canadá, onde eles são muito mais baratos. Antes, apenas indivíduos, não entes governamentais, podiam fazer esse tipo de importação. A proibição beneficiava as empresas farmacêuticas, mais “careiras” em solo estadunidense. Com a mudança, a Flórida estima que economizará US$150 milhões de seu orçamento para doenças como HIV/aids, diabetes e hepatite C. No fim do ano passado, o governo dos EUA avaliou opções para o combate à falta de medicamentos que iam da ampliação da produção nacional de genéricos ao aumento dos repasses às farmacêuticas em troca de prioridade nas entregas. Temeroso do esvaziamento de seus estoques pela demanda do vizinho ao sul, o Canadá estuda impor limitações à exportação de fármacos.

O adeus a Paulo Dantas e Antônio Carlos Figueira

No fim do ano passado, o Brasil perdeu os pernambucanos Paulo Dantas e Antônio Carlos Figueira, dois importantes nomes da luta pela criação e fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Dantas, histórico militante comunista, foi o primeiro presidente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde, o Conasems. Por sua vez, Figueira conduziu a Secretaria de Saúde de Pernambuco e presidiu o Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP). Ao se pronunciar sobre o falecimento de Figueira, Nísia Trindade destacou a importância de sua participação “na implantação de programas como o Mais Médicos e o de Valorização do Profissional da Atenção Básica (Provab)”. Quanto a Dantas, a ministra frisou sua atuação “com paixão e candura em defesa da saúde e da democracia. Seu amor pelo SUS é um exemplo para todos nós que lutamos por uma saúde de qualidade: o SUS da Constituição”.

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