Anticorpos contra novo coronavírus duram poucos meses, sugere estudo
Trabalho indica grande redução, principalmente em quem não teve sintomas. Mas algumas dúvidas permanecem
Publicado 19/06/2020 às 08:44 - Atualizado 19/06/2020 às 08:45
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A ideia de um ‘passaporte da imunidade’, defendida por Paulo Guedes e várias autoridades ao redor do mundo, é muito sedutora: quem se contaminou e tem anticorpos contra o novo coronavírus estaria imune a ele, podendo portanto voltar à vida normal. É também nisso que se fia a ideia de deixar o vírus correr mais ou menos solto, como faz a Suécia. Esse pensamento depende, é claro, de que a imunidade realmente exista e seja duradoura.
Já falamos aqui de pesquisas sugerindo que, sim, contaminados ficam imunes. Além disso, acredita-se que os anticorpos para outros coronavírus, como SARS e MERS, durem cerca de um ano, por isso os cientistas estavam confiantes de que no caso do SARS-CoV-2 a situação seria parecida. Porém, um artigo publicado ontem na Nature Medicine traz uma importante notícia sobre isso. Segundo os autores, os anticorpos podem durar de dois a três meses, especialmente nas pessoas que nunca apresentaram sintomas. Analisando amostras de 74 pessoas pessoas na China (metade sintomáticas e metade assintomáticas), os pesquisadores viram uma redução de 40% nos anticorpos das que não tiveram sintomas, contra 13% no grupo das que tiveram.
A reportagem do New York Times atenta para detalhes que fazem diferença ao interpretar as conclusões: o primeiro, mais óbvio, é que a amostra de pacientes foi muito pequena. O segundo é que não foi levada em consideração a proteção oferecida pelas células imunológicas que podem agir na destruição de células invadidas pelo vírus (as células T) ou produzir novos anticorpos quando o vírus invade (as células B).
Além disso, é preciso ver que tipo de anticorpos sofreram redução. O importante seria ver como se comportam os anticorpos neutralizantes, e outro artigo publicado na Nature sugere que mesmo níveis baixos desse anticorpos podem ser suficientes para impedir o desenvolvimento de novas infecções. Daí que as pesquisas não permitem concluir que infectados vão perder a imunidade – mas, com certeza, indicam ainda é preciso ter cautela ao pisar nesse terreno.