Quem decide sobre a volta às aulas?

Secretários de Educação publicaram protocolo. Escolas privadas não querem “esperar” as públicas. Desgovernado, MEC está fora da discussão

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Sem a participação do MEC, o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) publicou ontem um protocolo de retorno às aulas presenciais. Entre as medidas de prevenção à transmissão do coronavírus, estão o controle de temperatura de estudantes e funcionários, a distribuição de máscaras, a instalação de “estações de higiene”, a diminuição do número de alunos por sala, o cancelamento de atividades em grupo e a sinalização de rotas dentro das escolas e lugares marcados nos refeitórios para que os alunos mantenham distância entre si. Também haverá rodízio entre estudantes em sala e em casa, com continuidade das atividades online. Não há indicativo sobre datas. “A discussão no conselho não foi sobre quando voltar, mas como voltar”, resumiu a presidente do Consed, Cecilia Motta.

Mas os empresários da educação têm feito pressão sobre governos estaduais e municipais para retomarem as atividades antes das escolas públicas. “A escola pública já tem diversos problemas, uma série de questões que foram acumuladas ao longo dos anos. Não podemos ser colocados na mesma situação e esperar que elas tenham condições para que nós possamos reabrir”, afirmou Ademar Pereira, presidente da Federação Nacional de Escolas Particulares, em entrevista à Folha. É claro que se houver diferenciação, as desigualdades educacionais tendem a se aprofundar ainda mais, como apontam especialistas.

No caso do ensino superior, o Ministério da Educação divulgou ontem que vai prorrogar até o fim do ano a autorização para que aulas práticas e estágios sejam feitos de forma remota. A portaria com os detalhes deve sair amanhã. 

E a abertura do Sisu vai atrasar um mês. O sistema através do qual estudantes que fazem Enem escolhem vagas nas universidades públicas deveria ser aberto ontem. Mas Abraham Weintraub anunciou que as inscrições só começarão 7 de julho, sem explicar o motivo do atraso. A situação, que prejudica quem prestou o exame no ano passado e quer decidir o ingresso no segundo semestre de 2020, causou revolta nas redes sociais.

O ministro da Educação está às voltas com sua iminente demissão. Ontem, um ato com cerca de 15 gatos pingados foi organizado em apoio a ele em Brasília. Na manifestação, marcada por ataques ao Judiciário, sobrou até para o ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello. Ele foi chamado de “pai fracassado” pelo bolsonarista Renan Sena, aquele que empurrou enfermeiros no 1º de maio e é apontado como um dos autores do ataque ao prédio do STF com fogos, pelo qual chegou a ser preso no domingo. A crítica é uma referência a uma declaração do general feita em uma comissão da Câmara dos Deputados de que uma filha sua, de 12 anos, é de esquerda. 

Mais pragmática, a ala ideológica do Planalto tenta emplacar um substituto para Weintraub que seja do agrado de Olavo de Carvalho. Querem a continuidade da “guerra cultural” na pasta. 

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