A um passo do acordo

O Ministério da Saúde, Fiocruz e a farmacêutica AstraZeneca dão passo importante para a produção e distribuição de 100 milhões de doses da vacina

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Na sexta, o Ministério da Saúde, a Fiocruz e a farmacêutica AstraZeneca assinaram o memorando de entendimento que alinha os detalhes para a produção da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford. O documento é um meio de caminho entre as negociações iniciadas em junho e o acordo final, que deve ser fechado na semana que vem. E, segundo a Fiocruz, traz uma ótima notícia ao prever o “total domínio tecnológico” para que a fábrica Bio-Manguinhos tenha condições de produzir a vacina de forma independente. 

Dá para ver a importância dessa perna da negociação pelos valores estabelecidos. A transferência da tecnologia custa mais do que o dobro do processamento de cem milhões de doses da vacina (R$ 1,3 bilhão contra R$ 522 milhões). Além desses valores, serão repassados R$ 95,6 milhões para que a Fiocruz faça as adaptações necessárias tanto na área de produção da fábrica, quanto na área de controle de qualidade. 

Se a vacina – que está na fase 3 de testes – demonstrar eficácia, a produção de 30 milhões de doses começa em dezembro deste ano. As outras 70 milhões ficam para o primeiro semestre de 2021. Tudo isso será distribuído de graça, pelo SUS. “Sabemos que há incerteza sobre os resultados da última fase de testes clínicos, mas estamos otimistas porque a tecnologia desenvolvida pela Universidade de Oxford ultrapassou fases importantes que demonstraram sua segurança e potencial eficácia”, escreveu Nísia Trindade, presidente da Fiocruz, na Folha

Um levantamento da Bloomberg aponta que as nações ricas já garantiram 1 bilhão de doses das principais candidatas a vacina. O último acordo foi fechado entre Japão com a Pfizer, garantindo ao país 120 milhões de doses no primeiro semestre do ano que vem.

Falando nisso: o ministro interino, Eduardo Pazuello, se reuniu na semana passada com representantes da Pfizer. Mas, segundo o colunista Lauro Jardim, a conversa “se resumiu a um mero gesto de aproximação”.

PULANDO ETAPAS

Há cinco candidatas a vacina na fase 3 dos testes clínicos: além do imunizante desenvolvido pela Universidade de Oxford e patenteado pela AstraZeneca, há a vacina da chinesa Sinovac – que tem acordo de transferência de tecnologia e produção com o Instituto Butantan. Outras duas são da também chinesa Sinopharm, que é estatal, e estão sendo desenvolvidas em parceria com institutos de pesquisa em Wuhan e Pequim. A quinta iniciativa, da Universidade de Melbourne, não é exatamente contra o coronavírus, mas usa a vacina BCG de maneira a aumentar a capacidade do sistema imune. Outras 13 candidatas estão na fase 2

No sábado, o ministro da Saúde da Rússia, Mikhail Murashko, anunciou que o país deve iniciar vacinação em massa contra o novo coronavírus em outubro. Só que a vacina russa ainda nem passou dos resultados da fase 2, quando a segurança ainda está sendo avaliada. Apesar de ser o caso mais grave, o governo de Vladimir Putin não está sozinho nesse tipo de conduta. Uma subsidiária da Sinopharm tem incentivado a vacinação de funcionários públicos antes do final da fase 3 dos testes clínicos.

No setor privado, chama atenção a estratégia do maior fabricante de vacinas do mundo, o Serum Institute. Baseada na Índia, a empresa aposta na vacina de Oxford e está produzindo 500 doses dela por minuto. O objetivo é que centenas de milhões de doses estejam prontas para venda se a vacina passar da fase 3.  

Em tempo: um estudo publicado quinta-feira na Science mostrou que nos países onde a BCG é aplicada logo após o nascimento, a taxa de infecções e o número de óbitos foi menor nos 30 dias depois do primeiro caso ser notificado. No Brasil, a pesquisa concluiu que a quantidade de mortes computada até 15 de abril seria 14 vezes maior caso a BCG não estivesse no calendário nacional de vacinação. 

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