As novas revelações no caso das cervejas Backer

Relatório indica que empresa fabricava produtos contaminados um ano antes das primeiras intoxicações virem à tona.

Foto: Antonio Oliveira / Flickr
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A empresa Backer fabricava cerveja contaminada um ano antes de os primeiros casos de intoxicação virem à tona, o que aconteceu em janeiro deste ano. Essa é a conclusão do Ministério da Agricultura, que divulgou ontem à noite o relatório final sobre o escândalo que intoxicou 42 pessoas – tendo já causado a morte de dez consumidores

De acordo com a pasta, a cervejaria mineira usava duas substâncias tóxicas – monoetilenoglicol e dietilenoglicol – de maneira deliberada, em detrimento de alternativas seguras. 

A defesa da Backer alegou desde o início que a cervejaria não utilizava dietilenoglicol, ou DEG, um solvente orgânico que causou as intoxicações nos consumidores. Em junho, a cervejaria argumentou que a culpa pela contaminação por dietilenoglicol deveria ser creditada a um fornecedor que teria misturado DEG ao monoetilenoglicol, usado no processo de resfriamento para evitar que a bebida congele. Alegou ainda que a contaminação pelas substâncias teria acontecido em um único tanque, que havia sido instalado recentemente e onde foi detectado um defeito de fabricação. 

Mas o Ministério da Agricultura constatou que a contaminação não se restringiu à cerveja produzida nesse tanque: o DEG também foi encontrado em lotes comercializados antes da instalação da estrutura. Só em Minas Gerais, a pasta apreendeu mais de 56 mil garrafas de cerveja nas quais se verificou a presença dos contaminantes mono e dietilenoglicol. No Espírito Santo, foram outras nove mil garrafas. 

Também ontem, a Polícia Civil e o Ministério Público retornaram à sede da empresa, onde apreenderam fichas de produção onde se lê “vazamento de glicol” – o que sugere que a Backer já sabia do vazamento. Essas fichas haviam sido digitalizadas e entregues ao Ministério da Agricultura, mas com as anotações suprimidas. “Até então não sabemos se a supressão foi voluntária ou involuntária. Isso ficou nebuloso e o Ministério Público precisava ter acesso físico a essas fichas de produção”, explicou a promotora Vanessa Fusco, em entrevista coletiva. O material apreendido passa a integrar o inquérito policial e pode complicar a situação dos acusados.

No começo de junho, a Polícia Civil indiciou 11 sócios e funcionários da cervejaria, que segue interditada. De lá para cá, três pessoas morreram. O sofrimento dos intoxicados e suas famílias é grande. A última vítima fatal, Marco Aurélio Gonçalvez Cotta, consumiu a cerveja nas festas de final de ano em dezembro e morreu em 18 de julho, depois de uma longa internação. Alguns sobreviventes lutam para superar sequelas graves, como cegueira, paralisia facial e perda de função renal. 

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