A violência de gênero, subnotificada

• O machismo que impede a mudança • Mortes maternas são reduzidas em parceria entre hospitais • Plantio de maconha em discussão no STJ • Fungo preocupante se espalha nos EUA • Vacinação de covid em pessoas com síndrome de Down •

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Violência de gênero é muito pior do que estima governo, mostra estudo

Um estudo realizado por pesquisadores da Fiocruz, da UFRN, do Inca e da Uerj revelou que a taxa de homicídios de mulheres no Brasil aumentou 31,46% no período de 1980 a 2019. Mas, mais importante, a pesquisa buscou estimar quais os números reais do feminicídio, para além daqueles notificados pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) – que apresenta muitas falhas. A pesquisa utilizou um método de correção para tentar identificar com mais precisão a violência de gênero. Descobriu que, na região Norte, as ocorrências foram 49,9% maiores que o divulgado pelo governo; no Nordeste a discrepância é de 41% e no Sul de 9,1% – o erro é sempre para menos. No país todo, o crime levou embora 28,6% mais brasileiras do que o estimado. Como já é sabido, as mulheres negras morrem mais, assim como a faixa etária entre 20 e 39 anos. O aumento da disponibilidade de armas de fogo também piorou a situação.

O machismo que impede a mudança

O estudo deixa claro como a estrutura patriarcal e o machismo põem uma pedra sobre as possibilidades de mudança: mulheres com autonomia financeira em locais conservadores são vítimas com mais frequência. “Quem rompe com o papel de submissão nessas comunidades se torna um alvo. Essa comunidade vai usar de todos os meios para mostrar que as mulheres devem voltar ao seu papel de submissão. Daí a dificuldade de romper com o ciclo de violência. Isso não é uma questão de indivíduo, mas de Estado”, explica Karina Meira, pesquisadora da UFRN e coordenadora do estudo. O trabalho também ressalta a importância do financiamento de rede de apoio público às mulheres que sofrem violência de gênero. Apenas 2,4% dos municípios brasileiros contam com abrigos para pessoas nessa situação, e estão concentrados no Sul e no Sudeste. É preciso também, segundo o artigo, expandir o financiamento de programas de prevenção à violência, além da reversão das políticas de liberação de armas de fogo.

Mortes maternas são reduzidas quase pela metade em parceria do InCor com o ministério da Saúde

Uma iniciativa do InCor (Instituto do Coração), de São Paulo, está ajudando a reduzir as mortes maternas – que dispararam durante a pandemia – em hospitais públicos com menos estrutura. Em 11 estados do Brasil, após seis meses da iniciativa, a mortalidade foi reduzida em 47%: de 267 para 140 mortes por 100 mil nascidos vivos. Não se trata apenas de atendimento à distância das grávidas e puérperas, mas de um trabalho em conjunto entre os médicos de São Paulo e os dos hospitais parceiros. Há também capacitação das equipes para que estejam preparadas para outros casos graves que apareçam no futuro. Os estados que têm parceria são Rondônia, Pernambuco, Goiás, Ceará, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Paraíba, Amazonas, Piauí, Alagoas e Minas Gerais. O serviço é financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e pelo ministério da Saúde. O programa se encerra, a princípio, em abril – mas o secretário de Atenção Especializada do ministério garantiu que será renovado.

Cultivo de maconha medicinal entra em discussão no STJ

Entrará em breve em discussão, no Superior Tribunal de Justiça (STJ), a possibilidade de autorização sanitária para o cultivo da canábis com fins terapêuticos no Brasil. O caso em debate envolve uma empresa que pede que seja reconhecido o plantio da variedade chamada hemp, que possui baixa concentração de THC – a substância psicoativa da maconha. O uso medicinal da canábis é permitido pela Anvisa, mas há um entrave irrazoável: a impossibilidade de cultivar a planta obriga todos os pacientes a comprar o óleo canabidiol importado, caríssimo, ou pela via do mercado paralelo. Outra Saúde tratou sobre o assunto em recente entrevista com o médico e filósofo Paulo Fleury Teixeira. Ele critica essa visão estreita sobre as propriedades medicinais da maconha, uma droga de uso extremamente seguro e de grande eficácia no tratamento de doenças como autismo, epilepsia, esclerose múltipla, depressão e outras.

Fungo perigoso está se espalhando em hospitais dos EUA

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos emitiu um alerta: um fungo muito mortal está se espalhando em velocidade preocupante, em especial após o início da pandemia de covid. Trata-se do Candida auris, que afeta em especial pessoas idosas em ambientes hospitalares e já foi encontrado em metade dos estados norte-americanos. Segundo o CDC, os casos de infecção pelo fungo saltaram de 500 em 2019 para 1.474 em 2021 – ainda não há dados consistentes sobre 2022, mas estima-se 2.377 contaminações. Há uma hipótese de que o fungo possa matar o paciente em 90 dias, mas isso ainda não está claro, pelo fato de que os pacientes que não resistiram já tinham a saúde muito debilitada. Um grande problema é que o C. auris é muito resistente a medicamentos antifúngicos – e é virtualmente impossível de ser combatido. Mas um esforço de impedir o espalhamento em hospitais de Nova York e Illinois mostrou que é possível conter o avanço do fungo dentro dos equipamentos de saúde.

É preciso ampliar vacinação em pessoas com síndrome de Down

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e o ministério da Saúde alertaram que a taxa de vacinação contra a covid-19 e a gripe em pessoas com síndrome de Down está baixa no Brasil, apesar de a população fazer parte dos grupos prioritários para a vacinação. A condição aumenta o risco de quadros graves dessas infecções. Um estudo realizado na Inglaterra mostrou que as pessoas com síndrome de Down têm cinco vezes mais chances de serem hospitalizadas e dez vezes mais chances de morrerem de covid-19.

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