Pesquisa revela prejuízos em demora de tratamentos de menor de complexidade

• A demora para cirurgias simples no SUS e suas consequências • Fim da Funasa • Manifesto contra a mercantilização do sangue • Contra os lucros obscenos na pandemia • Anticoncepcionais e o risco de câncer de mama • Nestlé abre caixa preta •

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As pesquisadoras Cassiane Lemos e Vanessa Poveda, da Escola de Enfermagem da USP, publicaram um estudo que mostra os prejuízos da fila de espera de cirurgias de vesícula, hérnia e varizes, as mais comuns entre os pelo menos 900 mil brasileiros que aguardam por uma operação no SUS. Trata-se, concluem, de cirurgias relativamente simples que incidem na qualidade de vida e capacidade produtiva cotidiana do paciente. Dividida em três hospitais universitários – um do Sul, um do Sudeste e um do Norte – a pesquisa ainda explica que boa parte dos casos se deve ao diagnóstico tardio e, consequentemente, a maior demora de encaminhamento ao atendimento especializado. “Ao ter a estimativa de quanto tempo os pacientes esperam e também os fatores que influenciam essa espera, os gestores dos serviços de saúde podem pensar em estratégias para conseguir atender a essa demanda represada”, explicou Cassiane.

Funasa e a grita da pequena política

Apontada por diversos especialistas, inclusive do grupo de transição governamental, como um entreposto de interesses escusos, a Fundação Nacional da Saúde está em vias de ser fechada. No entanto, a iniciativa do governo, que passou imune a críticas de especialistas em saúde, gera resistência no Congresso, inclusive em parte da base aliada. Como mostra matéria de O Globo, Lula trocou a presidência do órgão justamente para acelerar seu fim, uma vez que a chefe anterior, Elvira Medeiros Lyra, se mostrava resistente. Criada para resolver os graves problema de saneamento que marcam o Brasil, a Funasa acabou se tornando local privilegiado de transações político-financeiras e nunca produziu grandes avanços em saneamento, ainda que o cotidiano de mudanças e tragédias climáticas deixe claro a urgência desta tarefa, num país onde quase metade da população não dispõe de serviços completos de saneamento. Apesar das ameaças de centrão e assemelhados, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, mantém-se firme em fechar a fundação, que tem 26 superintendências pelo país e acumula casos de corrupção em sua trajetória. Suas atribuições serão transferidas para o ministério das Cidades e os servidores diluídos por outros órgãos de governo.

Não à mercantilização do sangue

Uma notícia relevante da área da saúde é a tramitação na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado da PEC 10/2022, que “altera o art. 199 da Constituição Federal para dispor sobre as condições e os requisitos para a coleta e o processamento de plasma humano”. A proposta visa permitir a entrada da iniciativa privada na compra e venda de sangue humano. Em nota, a Frente pela Vida protestou veementemente contra a ideia. “Ao autorizar a coleta e processamento de plasma humano pela iniciativa privada, está-se abrindo uma janela para a comercialização de hemoderivados, o que foi proibido na Constituição Cidadã, aprovada em 1988. Em um tempo passado e sombrio, a crise econômica, desemprego e fome, fazia com que pessoas em absoluto estado de pobreza, vendessem o sangue para aplacar a miséria econômica, reforçando uma outra miséria, a humana.” A Frente pela Vida propõe aumento do investimento estatal na Hemobrás (criada em 2004), elevando ao máximo sua capacidade de processamento, e ao mesmo tempo, fortalecer a Coordenação Nacional de Sangue e de Hemoderivados (CNSH), órgão do ministério da Saúde encarregado de execução da política de atenção hemoterápica e hematológica conforme a Lei 10.205/2001, chamada, também, de “Lei do Sangue”.

Figuras públicas se levantam contra os lucros da pandemia

Em carta, cerca de 200 lideranças políticas de relevo, entre elas o ex-secretário geral da ONU, Ban-Ki Moon, pediram que os governos nunca mais permitam que um evento como a pandemia de covid se torne fonte de lucros privados exorbitantes. O manifesto se dirige claramente contra as empresas farmacêuticas, que, mesmo recebendo grandes financiamentos públicos para desenvolver as vacinas, trataram os imunizantes como uma mera mercadoria. O texto, assinado por líderes de diversos países, entre eles o brasileiro Fernando Henrique Cardoso, fala em 1,3 milhão de mortes evitáveis pelo “nacionalismo e sede de lucro”, que fez a chamada Big Pharma priorizar países ricos para o comércio de vacinas, e que tal momento “deve ficar como uma cicatriz na consciência da humanidade”. Enquanto isso, o CEO da Moderna, Stephan Bancel, defendeu em audiência no Senado dos EUA a venda de vacinas bivalentes a US$ 130, valor quatro vezes superior ao praticado em relação aos imunizantes anteriormente produzidos e vendidos aos Estados. Vale lembrar que a Moderna recebeu US$ 6 bilhões do governo norte-americano para desenvolver sua primeira vacina anticovid, sobre a qual lucrou ao menos US$ 4 bi.

Anticoncepcionais e câncer de mama

Um estudo publicado pela Plos Medicine verificou que todos os métodos hormonais de contracepção oferecem riscos de desenvolvimento de câncer de mama, uma novidade em relação à noção que considerava os anticoncepcionais que combinam estrogênio e progesterona os mais propensos a causar a doença. Qualquer que seja o método, os riscos aumentam entre 20% e 30%. No entanto, o mesmo estudo aponta que os riscos diminuem de forma expressiva ao se deixar de usar os anticoncepcionais, além de a incidência do câncer de mama a eles relacionado se ampliar de acordo com a faixa etária das mulheres. O estudo foi produzido a partir do acompanhamento de 10 mil mulheres que tiveram câncer de mama no Reino Unido entre 1996 e 2017.

Nestlé abre sua caixa preta

A multinacional suíça do setor alimentíciodivulgou pela primeira vez o valor nutricional de seu portfólio. Baseado no Health Star Rating (HSR), método de avaliação criado por cientistas australianos, a empresa dividiu o resultado de suas vendas em três grupos, de acordo com seu grau de qualidade. Excluído o grupo de produtos para animais ou não relacionados com o HSR, verifica-se que ao menos 35% do faturamento da Nestlé é oriundo de produtos de baixa qualidade. A revelação veio a público após pressão de público e até de acionistas, também influenciada pela crescente intenção de governos de aumentar a taxação desses produtos de baixa qualidade alimentar. No entanto, a empresa afirma que melhorar seus indicadores “tem um limite”, pois alta inflação e queda na renda dos consumidores dificultam a aquisição de produtos de maior qualidade.

Foto: Prefeitura de Aracaju

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