A custosa atuação do Ministério da Saúde como agente da desinformação

Pasta gastou R$ 88 milhões em propaganda para enaltecer agronegócio e cloroquina, além de fazer marketing próprio

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Eduardo Pazuello gastou mais com propaganda na pandemia do que os antecessores, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Foram R$ 88 milhões – recurso que daria para comprar 2,8 mil refrigeradores capazes de armazenar doses das vacinas da Pfizer e da Moderna. Não que manter uma linha de comunicação com a sociedade não seja fundamental durante uma crise sanitária que exige tantas mudanças de hábitos como esta. Mas, como mostra o repórter Diego Junqueira, apesar do considerável gasto público esse objetivo esteve bem longe de ser atingido – até mesmo porque não foi mirado

O Ministério da Saúde preferiu exaltar o agronegócio, fazer propaganda da entrega de insumos a estados e municípios e emplacar a cloroquina ao em vez de prestar informações sobre as formas de transmissão do coronavírus e recomendar distanciamento social. A peça dedicada ao agro custou R$ 30 milhões. “Vamos voltar, gente, vamos seguir em frente”, diz uma caminhoneira na propaganda que foi ao ar entre julho e agosto, quando o país registrava mais de mil mortes todos os dias.

Uma instrução normativa da Secretaria de Comunicação diz que o ministério deve usar sua verba publicitária para “informar, educar orientar, mobilizar, prevenir ou alertar a população para a adoção de comportamentos que gerem benefícios individuais ou coletivos”. Ao invés disso, a pasta gastou outros R$ 35 milhões em causa própria, fazendo marketing daquilo que seria sua obrigação: distribuir verbas, medicamentos, máscaras e equipamentos. 

A terceira peça publicitária mapeada na matéria da Repórter Brasil é ainda mais simbólica da deterioração institucional que atinge a pasta. Vocês certamente lembram dos planos para o “Dia D”, evento previsto para outubro no qual o general Pazuello pretendia lançar o “kit-covid” contendo as drogas ineficazes para a covid-19 que são a cortina de fumaça do governo Bolsonaro. A notícia causou tantas críticas que o ministro desistiu. Mas a propaganda, que custou R$ 3,4 milhões, foi ao ar mesmo assim. Na campanha “Coronavírus, tratamento precoce”, a pasta vende para os brasileiros a ilusão de que existe tal coisa. 

Todos os especialistas ouvidos pela reportagem demonstraram indignação com os fatos. Já o ministério não deu informações sobre gastos com outras campanhas, não disponibilizou um plano de comunicação para a pandemia cobrado pelo TCU com a desculpa de que ‘está em atualização’ e rebateu questionamentos com as invenções de sempre, como a de que o Supremo conferiu somente a estados e municípios a prerrogativa de falar sobre distanciamento social. 

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