A batalha das máscaras

Proteção na pandemia vira questão política nas mãos de governantes como Bolsonaro e Trump

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O Tribunal Regional da 1ª Região (TRF-1) acolheu um pedido da União e, ontem, derrubou a decisão que obrigava o presidente Jair Bolsonaro a usar máscara em locais públicos de Brasília. Em todo o Distrito Federal, o uso é obrigatório desde abril.  A União alegou o instrumento jurídico utilizado para obrigar o presidente a usar máscara – uma ação popular – não era adequado nessa situação. Isso não significa, porém, uma permissão para o presidente andar por aí sem nada no rosto. O que diz a desembargadora responsável pelo caso, Daniele Maranhão Costa, é que o fato de já haver um decreto no DF obrigando o uso da máscara “esvazia a necessidade de intervenção do Poder Judiciário”. De acordo com ela, basta “que o Distrito Federal se valha de seu poder de polícia para fazer cumprir a exigência, ou sancionar o infrator com a imposição de multa, em caso de não observância”.

Enquanto isso, o ministro interino da Saúde apareceu em um evento no Palácio do Planalto sem proteção. O general Eduardo Pazuello até cumprimentou políticos com apertos de mão. Depois de um tempo, uma assessora, tal qual uma mãe, lhe entregou uma máscara e um frasco de álcool em gel. 

Mais afeito ao confronto é Allan Garcês, coordenador-geral de Gestão de Projetos de Saúde Digital da pasta. Ele tem atacado frontalmente o STF nas redes sociais e nos atos pró-Bolsonaro em Brasília. Andou publicando fotos de si mesmo nos protestos, sem máscara, abraçando e beijando pessoas. 

O fato é que, como já apontamos na newsletter, repudiar o uso de máscaras há tempos se tornou uma decisão política, copiada de Donald Trump. Nos Estados Unidos, até os republicanos tentam convencer o presidente a se proteger, mas não conseguem. E olha que os analistas do Goldman Sachs divulgaram os potenciais benefícios econômicos de obrigar a população inteira a usar máscaras: de acordo com eles, isso poderia substituir as medidas de bloqueio (o que é questionável), que, por sua vez, reduziriam nesse momento 5% – ou US$ 1 trilhão – do PIB dos EUA. “Trump é literalmente incapaz de admitir erros, mesmo implicitamente, o que significa que ele nunca vai à TV declarar que todos devem usar uma máscara. Muito pelo contrário: é mais provável que ele declare que o uso de máscaras é ridículo e inútil”, escreve o jornalista Kevin Drum, no site Mother Jones.

Aliás, outro grupo contrário à ciência e próximo a esse tipo de governo é o dos movimentos antivacina. Nos Estados Unidos, eles começaram a se mexer ainda em janeiro, dizendo no Twitter que o coronavírus era parte de um plano para lucrar com um futuro imunizante. Agora, só metade da população dos EUA topa ser vacinada contra o SARS-CoV-2. Outros 25% estão vacilantes, e 25% não querem. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) de lá está trabalhando em um plano para aumentar a confiança nas vacinas desde já. Não vai ser fácil. Quanto a Trump, embora ele tenha falado com esperanças sobre um imunizante no momento da pandemia, sua trajetória contra a ciência obviamente inclui grandes acenos aos antivax. Além de ter feito declarações sobre uma suposta (e já refutada mil vezes) relação entre autismo e vacinação infantil, o presidente chegou a nomear um representante antivacinas para liderar uma comissão sobre “vacinação e integridade científica”.

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