Ato do MBL e direitas em São Paulo

No dia 12 de setembro as direitas hoje não-bolsonaristas realizaram ato contra Bolsonaro em São Paulo.

Saí de casa pouco antes das 14h e caminhei para a Paulista a partir do Paraíso. O ato de hoje guardava importantes indicadores de como a política deve seguir daqui para diante. Era a primeira vez que as direitas tomavam a iniciativa de finalmente romper publicamente com quem puseram no poder. Parece haver um racha na burguesia e uma das facções vem procurar apoio nas ruas.

Li depois que o mote geral das repercussões é de que foram um fracasso. Acho um pouco simplista essa análise, um pouco apressada e lacradora. Parece que o ato de São Paulo foi o maior do país, mas, se por um lado não trouxe para a rua o público potencial que busca sensibilizar, achei que para o militante de direita não-bolsonarista foi um evento importante. Calculei o número de participantes – mas só conto no final!

Saí de casa impactado pela ampla discussão nas redes sobre o ato e a participação da esquerda. Parte dela, notadamente petistas, boicotaram o ato e ficaram em casa. Apesar de muito hoje se ter apelado para a mobilização pública e de ter ouvido do palanque inúmeras menções acerca de um “despertar” e de um “começo de arco de alianças”, a verdade é que a esquerda e movimentos sociais (como o movimento negro) têm feito inúmeras manifestações Fora Bolsonaro e a elas a direita não acorreu. Pagar de inventor da roda agora não dá.

Apesar de ter saído com minha camiseta onde escrevi “Eu avisei”, entendo que esse tipo de ressentimento não faz amigos na direita – mas não era o que buscava hoje.

Mas tentei compreender como o público presente ia lidar com certo contorcionismo moral de ser contra quem eles ativamente elegeram. Tinha um recalque muito sensível lá, um desejo reprimido que ficava voltando nas falas e mensagens.

Notei que esta confusão de formulação estava presente na hesitação dos vendedores de bandeiras e panos políticos. Não havia mensagens ou imagens explicitamente bolsonaristas (retratos do coiso etc), mas vi outras que são velhas conhecidas do gado na rua: bandeiras de Israel, dos Estados Unidos, um pavilhão imperial brasileiro, tudo isso ao lado de uma bandeira LGBTQ+, algumas do Lula e até Marielle estava lá em efígie.

Segui e vi pelo caminho bandeiras da Força Sindical, camisetas brancas e da CBF.

O primeiro carro de som que vi foi do VemPraRua. Ouvi de longe o orador falar “eu vi uma camiseta que tem uma mensagem subliminar interessante. Ela trazia ‘nem corno nem pinguço’”. Ouvi isso ao mesmo tempo que vi o imenso pixuleco inflável onde Lula e Bolsonaro aparecem abraçados. Fiquei algo chocado com a agressividade, mas não surpreso. Essa formulação apareceu em muitas camisetas, cartazes e falas. Mas o VemPraRua estava mais radical que o MBL, onde certa diplomacia prevaleceu. Elaboro mais adiante sobre as diferenças entre os dois.

Não fiquei muito, segui e logo vi uma barraca do Novo, com seus militantes de laranja. Havia umas 50 pessoas em volta. O carro principal era do MBL e estava mais cheio de gente à frente, umas 3 mil pessoas à altura da FIESP. Uma faixa atada ao carro de som trazia “Democracia Já”.

O terceiro e último carro estava mais do lado do MASP, e estava identificado como “Direita Digital”. No caminho, vi uma bandeira do estado de São Paulo, mais de uma do PDT, camisetas do Palmeiras, SPFC e do Corinthians.

Vi o João Amoedo rodeado de fãs.

Militantes do PDT ofereciam rosas aos manifestantes. Vi também um grupo que tinha os cartazes “Volta Temer”! Achei estranhíssimo – e depois li que seriam militantes pagos pelo próprio vampiro.

Retornei ao carro de som do MBL, e tentei esboçar um perfil do público lá. Por um lado, havia muitos jovens, principalmente moços de 20 a 30 anos de idade. Senti falta da “família bolsonarista”, os coxinhas mais idosos e casais de 30-50 anos. Talvez fosse menos branco do que um ato bolsonarista, mas o odor de classe média preenchia toda a extensão da avenida. A variação classista e étnica se dava pelos sindicalistas presentes, homens e mulheres, geralmente com os jalecos de suas associações. Tendo ficado mais na massa em frente ao carro do MBL, ficou em mim a forte impressão de que este foi um ato de militantes. Como notou R, a direita também está dividida e com dificuldades de trazer suas bases, e aquele trecho do asfalto parecia os atos de esquerda onde jovens de coletivos e partidos faziam número e preenchiam o espaço com seu frescor e garra, mas que saem às ruas por interesse militante.

O MBL tem alguns aspectos que os diferenciam de outras agremiações. O carro de som era convencional, mas os oradores não ficavam em cima do veículo. Eles montam um palco na frente do carro, meio uma passarela a uns dois metros do chão. Isso alivia o formato púlpito que o carro de som impõe, com sua distância do asfalto. Como fazem, o orador fica mais perto do público, dando um certo ar de “town hall” americano, que é uma espécie de assembleia de bairro na paróquia local.

Já vi o MBL mesmo saindo total do palco e fazendo “dinâmicas” no asfalto, mais horizontal.

O MBL roubou vários elementos da esquerda, dentre eles o próprio nome (emulando o MPL – Movimento Passe Livre). Hoje, por exemplo, trouxeram um cartaz impresso “Não vai ter golpe” – que topete!

Também me parece que o MBL treina melhor suas lideranças. Todos eles (e são todos homens) sabem falar com multidões e usam os trucões da oratória: lisonjeiam os presentes, fazem uma piada antes de apresentar alguém, e principalmente sabem acolher o direitista desnorteado. Apesar da repressão recalcada às contradições gritantes da situação hoje, achei que o MBL e não o VemPraRua se preocupou em confortar o militante e principalmente dar uma narrativa que recuperasse de forma mínima a energia que dispenderam a partir de 2016. A “traição” do presidente foi citada inúmeras vezes.

A solução óbvia para o dilema foi a demonização pessoal de Bolsonaro. Se para a esquerda o ponto é derrubar tanto Bolsonaro quanto o bolsonarismo, na direita o viés liberal de só falar de indivíduos reduz tudo à questão moral. Bolsonaro é ruim porque é imoral e traidor. Na esquerda, “corno” e “louco” podem ser xingamentos, mas não são pauta.

Achei que o deserto narrativo que a direita e extrema direita não-bolsonarista atravessa estava expresso na relativa ausência de cartazes à mão. Como se diz sempre, o cartaz feito à mão apresenta oportunidades de fugir à rigidez das pautas da organização, liberando frequentemente uma imaginação política anárquica, por vezes off-topic, divertida, óbvia e surpreendente a um só tempo.

Mas hoje não. Anotei ou fotografei todos que vi, mas prevaleceu o material impresso. Literalmente faltou modos de nomear o enorme elefante que atravanca a sala de estar cívica do Brasil e deu para ver que tem um contingente muito expressivo de pessoas em busca de uma narrativa que as inclua.

Nos palanques, as formulações eram quase sempre muito genéricas, por “democracia”, pela “vida” – e é claro contra a corrupção, mas mesmo esta vista como um problema moral, resultado da ação de pessoas imorais.

Tenho certeza que, se Sérgio Moro for candidato, todos aqueles que votaram em Bolsonaro e se arrependeram vão votar no ex-ministro exatamente pelas mesmas razões pelas quais sufragaram o atual presidente.

Encontrei C e M. Conversamos um pouco e depois acabei achando um lugar perto do carro do MBL onde fiquei para ouvir os oradores – hoje não achei que os manifestantes seriam mais interessantes que os oradores. Fiquei o perto de uns meninos que tinham duas bandeiras da extrema-direita: a chamada Gadsden Flag (“não pise em mim”) e a outra do anarco-capitalismo.

Mais atrás tinha uma bandeira do Brasil que um maluco pintou de vermelho, com as inscrições “Fora Bolsonaro, Volta Lula e Fora Lira”.

O primeiro orador de algum peso foi Ciro Gomes. Foi bem aplaudido e foi relativamente breve, meio protocolar até. Reconheceu as diferenças políticas, pediu união e colocou Bolsonaro como mal maior. Falou do perigo à democracia etc. Foi correto e habilidoso, mas não foi memorável.

Meio de longe, a figura de Leonel Brizola nos contemplava a todos de uma bandeira amarela. O que ele diria do PDT hoje aqui é matéria de especulação.

Kim Kataguiri então falou, como muitos outros, que tinha divergências com muitos ali mas que o que estava em jogo era “o direito de divergir”. Isso é, é claro, inexato e hipócrita, já que eles atacaram a política, promoveram linchamentos virtuais e tinham seu próprio Gabinete do Ódio, lotado no gabinete de Kataguiri, onde os seus funcionários operavam o esgoto que desonrou a memória de Marielle (a própria Google já fechou páginas deles por causa da disseminação de fake news. Eles foram acampar na frente da sede da companhia em protesto).

João Amoedo, a seguir, foi apresentado como “um liberal que não se curvou ao governo, não se curvou ao bolsonarismo”.

Dá raiva, pois o Novo – e os parlamentares do MBL todos – se elegeram na onda Bolsonaro, e inclusive seguem votando com o governo quase sempre. O que a direita, tucano e liberal sabem mas pensam que ninguém percebe é que a agenda de Bolsonaro é exatamente a mesma deles: o liberalismo não tem anticorpo contra o fascismo porque ele realiza seu projeto, só que com violência aberta.

Além disso, Amoedo falou muito em “queremos um Brasil onde não haja medo de divergir, de ter uma opinião diferente, um Brasil sem medo e sem raiva”.

Difícil engolir: eu estive na Paulista para os comícios de Bolsonaro (que não estava presente), onde o Novo estava presente, aplaudindo e endossando o discurso do ódio, o exato discurso da “ponta da praia”. Quem lembra o que foi ser de esquerda a partir de 2016 sente muita revolta com falas como essa.

O povo aplaudiu muito Amoedo e entoou palavras de ordem como “Eu vim de graça”, “Bolsonaro na cadeia” e “Bolsonaro, ladrão, seu lugar é na prisão”.

Nessa linha, Kim Kataguiri anunciou a presença da presidente da UNE, “que já combati muito”. Na real o MBL já foi em ocupação de secundarista para bater na moçada e tem atuação violenta no movimento estudantil.

A presidente da UNE falou que “estou muito feliz de ver tanta gente jovem aqui”, flaou que precisa estar acima das diferenças etc. Ela falou sem aquela voz gritada que é de praxe em palanque de esquerda, uma mutação notavelmente agradável. Em seguida falou a presidente da Associação dos Pós-Graduandos. Falou em nome da ciência que proveu a vacina e puxou um “vida, pão, vacina e educação”, que o povo cantou junto.

Falou Joyce Hasselman, fogosa mas genérica. Em seguida um senador (“melhor é nem um ladrão de direita nem um ladrão de esquerda”) e depois um sindicalista, que discorreu, citando Gandhi, como era normal errar na vida. Gostei da sinceridade.

Tábata Amaral falou sobre a economia e contra a corrupção. E ainda “o silêncio dos bons me preocupa”.

Um moço de megafone à linha frente gritou “Lula é o caralho, vai tomar no cu!”. Vi uma bandeira do partido verde, e também uma grande faixa quadriculada do PSDB, com o nome de Bruno Covas impresso. Vi um cartaz feito à mão “O conhecimento destrói o mito” e outro “Villa tem razão”.

Falou depois a Simone Tebet e o povo aplaudiu muito, gritando “Simone terceira via!”. Ela citou Milton Nascimento e as Diretas Já. Depois falou Mandetta e marcou posição como o homem que disse não a Bolsonaro – em relação às vacinas e à cloroquina. “Achei que seria um governo técnico mas fui enganado”. Kkkkk! Foi muito aplaudido.

O escroto Mamãe Falei disse em seguida que “as duas lideranças que políticas que não estão aqui são as únicas que se beneficiam da atual situação é o PT e o próprio Bolsonaro”.

Nessa hora rolou alguma confusão na escada de acesso ao palco do carro de som. Algum tipo de briga onde socos foram trocados. Isso criou uma muvuca nos bastidores, veio a PM com seus escudos, mas, depois do povo entoar “Sem violência”, a coisa baixou e, apesar da tensão, não notei mais nada.

Falou então Isa Penna, do PSOL. Ela foi muito criticada por encorajar a participação no ato, mas estava lá e falou com grande energia. Puxou palavras de ordem, disse que “venceu a democracia”, e que “o processo de passar por cima de rancor do passado não é um processo que acontece na esquerda mas vai ter que acontecer”. Ela chamou os presentes ao ato do dia 2 de outubro – e foi a única a fazê-lo – nem Ciro citou a data. As pessoas à minha volta riram da ideia de ir a um ato da esquerda. Isa também celebrou a diversidade de bandeiras e cores.

O vento trazia por vezes o som do carro do VemPraRua, vozes distorcidas e ameaçadoras.

Nesta hora falou o Renan do MBL. Em sua fala indiferente, ele puxou a cançoneta canhestra “Chora Petista”, que o movimento inventou em 2016, só que hoje com nova letra anti-Bolsonaro. A primeira letra original era assim:


Chora, petista bolivariano/A roubalheira do PT tá acabando/Tua conduta é imoral/Fere os princípios da CF Nacional
Olê, olê, olê, olê/Tamo na rua pra derrubar o PT/Olê, olê, olê, olê/Tamo na rua pra derrubar o PT


Era muito horrível ouvir isso quando o MBL e o bolsonarismo eram aliados no discurso e prática do ódio, criminalizando o PT ‘bolivariano’ (?). E ainda deram, mais tarde, uma outra letra celebrando armas de fogo e vigilantismo:

Chora Bandido e Meliante/Com uma arma eu te pego no flagrante/Abre teu olho, ô Marginal/Com cidadão armado, o crime se dá mal.

Olê Olê Olê Olê/Quero uma arma para poder me defender/Olê Olê Olê Olê/Quero uma arma para poder me defender

Renan ainda coreografou o canto, pedindo a todos que se abaixassem e se levantassem cantando a música – outra apropriação de 2013. Tem vídeo na internet desse momento.

O MBL é um agrupamento extremista e violento que tenta fazer a transição para o poder institucional. Não dá para passar pano. Mas eles, ao contrário do VemPraRua, parecem ter percebido os limites do movimento, que incha e desincha, e por vezes morre. Eles buscaram a transição para a institucionalidade e provavelmente tem em vista a criação de um partido.

Tico Santa Cruz falou em seguida e iniciou sua fala de um jeito muito estranho, justamente celebrando a cultura que disee ter visto em ação naquele ato, com “música e dança como esta canção que vocês cantaram”, pois a cultura tem poder contra o autoritarismo etc. Achei de extremo mau gosto ele elogiar a cançoneta tétrica de miliciano. Em seguida ele cantou uma parte de sua canção “Micheque”. O povo sabia a letra e cantou junto. Falou sobre as diferenças na unidade etc.

A estatura dos oradores claramente estava baixando e foi a vez do governador Doria. Foi muito aplaudido e foi recepcionado ao som de “Calcinha! Calcinha!”. O governador pulou junto e sorriu aquele sorriso fixo que tem no rosto. Hábil orador, lisonjeou o público, falou como a vacina de São Paulo salvou o Brasil, e anunciou que “vamos mudar o Brasil outra vez”. Deu mais pulinhos ao som de palavras de ordem.

A ladeira abaixo seguiu com Janone e Mamãe Falei, que debochou de Janaína Paschoal. Ela tinha postado uma foto do ato mais cedo, mostrando pouca gente, em seu twitter. Ele pediu a todos os presentes que deixassem a frase “eu estava lá” nos comentários do post. Segundos depois anunciou que ela tinha encerrados os comentários.

Seguindo o descenso falaram outras pessoas, dentre elas o presidente do PDT São Paulo, que tinha uma bandeira brasileira nas mão. Encerrou sua fala dizendo “esta bandeira jamais será fascista!”. “Nem vermelha”, acrescentou uma moça ao meu lado.

Quase todos os oradores falaram do “resgate das cores nacionais”. Este debate é equivocado mas reforça a ideia de que fomos traídos por um falso patriota e que existe sim uma nação verdadeira que realmente nos representa. Parece óbvio que o ponto é menos retomar as cores hoje do que amanhã assistir de novo alguém “roubá-las”. Sempre haverá um Bolsonaro para furtá-las, é melhor ser internacionalista. De outra forma, tenho que amar Felipe Melo antes de Messi ou Maradona, o que é evidentemente uma falácia.

Os oradores tinham se tornado uma triste sucessão de parlamentares medícores do MBL, e quando o vereador Fernando Holiday começou a falar eram 17h30 e compreendi que era hora de ir embora.

Caminhei pela avenida agora sob a sombra do fim do dia e pensei no dia de hoje.

A primeira coisa foi sobre as Diretas Já, muito citadas como exemplo de mobilização ampla resolvendo diferenças. Me ocorreu que o movimento das Diretas foi derrotado. Foi derrotado porque o arco de alianças garantiu a transição conservadora ao invés de quentes e imprevisíveis eleições. Tanto foi um abafa que as eleições diretas NÃO foram imediatamente instauradas após a vitória de Tancredo na eleição indireta no Congresso – elas foram realizadas só cinco anos depois em 1989. Toda a campanha redundou no longo a agonizante governo Sarney, que era o chefe do governo militar no Congresso.

Ademais, quem quebrou o pacto de 1988 foi precisamente o PSDB e os conservadores e liberais, mais a virulência dos ‘movimentos’ como o MBL, VemPraRua e Revoltados Online (lembra?!) que ativamente demonizaram a política e a Constituição.

Cancelar Lula e garantir uma transição conservadora foi o intuito claro deste ato hoje. Tanto que a carta de Temer já deu uma esfriada nos ânimos mudancistas, e o impeachment perdeu fôlego. A jornalista Eliane Catanhede já colocou Bolsonaro como o “moderado” e o ministro Moraes como radical ao vivo, depois da missiva do vampiro. Essa galera aceita um Bolsonaro “domado”.

Mas hoje deu para ver que há um longo caminho também para a direita percorrer. Também deu para sentir que há um vazio narrativo que quem preencher vai conseguir mobilizar muita gente. Há uma dor genuína que precisa ser aplacada. O “eu avisei”, apesar de justo, doce e reto, não vai alcançar esse vazio. Suspeito que tudo vai se repetir, apenas com uma pessoa diferente, proba, honesta, que desta vez vai por tudo no lugar por força de seu caráter.

Contei umas 15 mil pessoas hoje, que deve ser menos do que esperavam (investiram muito nesse ato), mas não é desprezível. Se resta de pé o problema de como furar a bolha e chegar na sociedade, por outro lado hoje quem foi à manifestação reencontrou muitas narrativas que tinha perdido: a luta épica, as sementes do futuro, o estar do lado certo, o odiar um homem desprezível como Bolsonaro, e principalmente o estar juntos em um movimento de envergadura nacional. Renan falou muito nos presentes como “líderes”, como gente que vai aos seus bairros e trabalhos para fazer a diferença.

De outra forma, pelo menos neste ato, a frente ampla é uma fantasia. A terceira via vai se dar em aliança com militares se necessário, e contra Lula tudo vale. Acho que há grande potencial para uma mobilização anti-Bolsonaro pela direita, mas também vão ter que trabalhar muito para superar as contradições evidentes de suas posições.

O conforto simples da “flopagem” do ato hoje não resolve nada e dá a impressão que a esquerda está jogando bem e que o empate nos interessa. Não é assim, hoje não se resolveu nada para a esquerda.

Caminhei até o fim da avenida e fui para casa.

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