Resenha Semanal

21 a 28 de fevereiro 2020. A semana passou sob a ameaça de golpe. O carnaval iluminou o país com molecas alegorias…

Serão os Guardiões do Altar?

Muito se especulou sobre a viabilidade de um golpe bolsonarista durante a semana, ainda sob a sombra dos tiros contra o senador da república Cid Gomes. Por um lado, o presidente está acuado, pressionado por resultados econômicos, pelas investigações policiais que chegam cada vez mais perto de seu clã, pela PM sublevada (ainda estão amotinados no Ceará) e até mesmo pela imprens conservadora que só agora descobriu seus pendões autoritários. E teve o silêncio de Moro em relação às atrocidades de Bozo e às mortes (mais de 190) no estado do governador Rui Costa – o ministro não condenou a sublevação.

O vídeo publicado pelo presidente no carnaval chamando para uma manifestação de protesto contra o Congresso acendeu o alarme da oposição, mas também do ex-presidente FHC e do ministro do STF Celso de Melo, além de outras figuras que vinham se calando frente ao avanço autoritário do atual governo miliciano.

O vídeo em si era personalista e não fazia referência direta a golpe, mas outras chamadas para o ato envolveram generais e chamadas explícitas de fechamento do Congresso e STF. Deu medão.

Vai cair de Maduro?

Afinal, há mais militares no governo brasileiro do que no governo bolivariano da Venezuela.

No Haiti, policiais e soldados do exército trocaram tiros nas ruas, em um combate institucional que envolve a presidência. Na Bolívia, foi a sublevação dos policiais que disparou o golpe. Além, disso, a paranóia aumentou com numerosos relatos de violência e arbitrariedade policial durante o carnaval brasileiro – contra foliões, blocos, músicos, transeuntes que filmavam atividade policial. Teve tiroteio num bloco de São Paulo. Parecia que poderia ter um levante mesmo durante o carnaval. Até uma missa foi invadida por um PM, que discursou pedindo apoio à greve – vi o vídeo na rede.

Vox populi…

Mas, por outro lado, as condições políticas de um golpe não estão super colocadas: o partido de estimação de Bolsonaro, o Aliança pelo Brasil, conseguiu que apenas pouco mais de 3 mil assinaturas (das mais de 400 mil necessárias) fossem aprovadas pelas autoridades eleitorais. A imprensona conservadora também não parece que apoiaria uma aventura desse naipe, e os militares mandaram sinais trocados e parecem estar divididos. Em cima de tudo, Bozo não comanda mais as multidões gigantes sem o MBL, VemPraRua e a imprensa conservadora. As últimas manifestações estritamente bolsonaristas de 2019 reuniram pouco mais de 20 mil pessoas em São Paulo, o que parece ser seu limite.

No final de tudo, ficou a pergunta de sempre: era só mais um teste ou há um processo de golpe em curso?

2016: eu corri perigo e não me acolhestes
2016: eu corri perigo e não me acolhestes

É bom ver a imprensa conservadora tomando partido contra o presidente que elegeram, mas o fazem tentando ainda fazer colar a falsa equivalência LulaxBozo. Agora reclamam da virulência das milícias digitais, mas nada fizeram quando o alvo era Glenn Greenwald, Jean Wyllis e outros que tiveram que se exilar.

Claramente se desenha na imprensa conservadora impaciência com Bolsonaro, e o impeachment voltou nervoso à bocas e penas.

Parece que a direita em geral se cansou do presidente – mas poupa Paulo Guedes e Sérgio Moro. Está em curso o projeto “bolsonarismo sem Bolsonaro”. Guedes deve ser queimado em breve, mas Moro recorta figura mais enigmática: ele protege muito o presidente, banca o motim policial, persegue críticos do presidente (de punks a juízes)… Mas ele arriscaria muito se fechasse com o fechamento bolsonarista.

Rodrigo Maia: está bom assim como está?

Mas as reações institucionais ao ato golpista foram tímidas: Rodrigo Maia, Dias Tófolli e Alocumbre ou se calaram ou soltaram notas anódinas. Parece que estão deixando espaço para negociações.

O palhaço Bozo, aquele que aparecia na televisão, soltou um vídeo de apoio a Bolsonaro, que postou em seu twitter:

“O Bozo era a continuação do lar das pessoas. Não fazia nada de maldade. Portanto, Bolsonaro, tenha orgulho quando te chamam de Bozo, porque estão te chamando de pessoa boa.”

As “Empreguedes” no carnaval

Aliás, os desfiles foram plenos de críticas abertas ao governo e à pauta conservadora: um Sérgio Moro enjaulado, policiais espancando (coreograficamente) passistas, e as figuras religiosas revisitadas pela Mangueira. Achei uma bem-vinda mudança em relação às novelas bíblicas que hoje assolam a televisão.

Anagrama: desembaralhe as letras e descubra quem está em inebriante jornada de sucesso.

No mais, essa crise do coronavirus… será preciso toda essa histeria? Bolsas despencando por todo o mundo, atividade econômica paralisada, medidas extremas de emergência, gasolina no fogo extremista de direita (“os imigrantes são os culpados”). Mas há autoridades sanitárias que não avalizam tanto perigo assim, e dizem que o vírus ainda não é tudo isso. O filósofo G Agamben está alarmado com o estado de emergência e com poderes especiais que governos estão se arrogando.

Como ter certeza?

Solução do anagrama:

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