Resenha Semanal

14 a 21 de fevereiro 2020. Mais uma semana alucinante onde um motim de PMs dispara contra senador da república – e obtém apoio tácito ou aberto de autoridades. A esquerda segue no seu labirinto…

Minhas dúvidas continuam: devo acompanhar as manobras políticas do país ou desencanar e ir ser feliz na construção de outra coisa? Em termos mais teóricos, há ou não uma escalada em direção ao endurecimento e golpe? A imprensa não ajuda, fica jogando lenha na fogueira do dia. Amigos mais sensatos me dizem “mas para quê precisa de golpe? Está tudo funcionando para eles”. É verdade, mas a temperatura política aumentou muito esta semana e indicou que pode sim ter um rearranjo de calores explosivo no país a qualquer momento.

Continuam as aventuras de Movimentx e Partido...

…e prossegue a pantomima!

Na quinta-feira, parecia que a tempestade perfeita estava formada: Lula foi intimado pela lei de segurança nacional por ter declarado que Bolsonaro governa para milicianos, PMs amotinados atiraram duas vezes contra o senador Cid Gomes, Olavo de Carvalho pedindo golpe nas redes, e o gal. Heleno perdendo a paciência com o Congresso e sugerindo confronto. Além disso, os petroleiros em greve receberam o apoio de caminhoneiros que foram fechar o porto de Santos – e o Italiano, líder da categoria estradeira, foi detido. O ministro do TST Ives Gandra Filho ordenou a demissão sumária de todos os grevistas da Petrobrás.

Tudo isso logo depois do caso Adriano, que ainda está envolto em nuvem de mistério e leva as milícias para muito perto do clã.

Mas o Ceará marcou para sempre o que devem anotar os historiadores do futuro:

FORAM ELES QUE DERAM OS PRIMEIROS TIROS!

Os eventos de Sobral permitiram muita confusão e debate, já que o manejo do trator por Cid Gomes foi desmedido e tem a questão da greve de policiais ser legítima ou não. Mas o que arrepiou foi ver PM encapuzado dando tiro a partir das barricadas. Além disso, os amotinados saíram pelo centro da cidade fechando o comércio.

Sou do time que viu o ato do senador como o poder civil peitando milicianos bolsonaristas.

A bolsonarização das PMs é um processo que vem de longe. O clã se dedica a apoiar greves como essa faz muitos anos. Motins assim são comuns, e o normal é que todos os amotinados sejamao fim anistiados pelos legislativos estaduais depois de punidos pelos executivos. Muitos policiais entraram na política a partir de tais movimentos, muitas vezes incorporando suas patentes aos nomes. O Cabo Daciolo é um infame exemplo, mas também o atual candidato à prefeitura de Fortaleza Capitão Wagner. Este atacou Cid Gomes e pediu um BO por tentativa de homicídio contra o senador, declarando guerra ao governador do estado e à esquerda, prometendo sublevar a tropa.

Agora ficou um climão pesadíssimo: a greve continua no Ceará, as PMs de todo o país acenderam. E o governador de Minas deu 41,7% de aumento à sua polícia, mesmo com as Gerais em estado de penúria, aumentando a pressão sobre as administrações estaduais.

Nem o presidente nem o ministro Moro denunciaram o atentado. A imprensa não deu tanta bola assim, nem parece ver o perigo que corremos. A hipocrisia é brutal.

Recordo-me da grita geral que tem quando Black Block quebra vidraça de banco: a ordem republicana ameaçada, repúdios virtuosos à violência política, acusações de terrorismo… Rafael Braga e outros foram encarcerados por muito menos (a posse de Pinho Sol), e a lei antiterrorismo foi aplicada com muito vigor.

Alvejar um senador da república durante uma greve ilegal não é terrorismo? E depois, as PMs cansaram de lançar trator em cima de ocupações e favelas, derrubando lares, batendo e agredindo moradores e manifestantes…

De qualquer forma, o episódio mostrou o que todos sabem mas ninguém fala: O PODER CIVIL NÃO TEM CONTROLE SOBRE AS POLÍCIAS.

A imprensa conservadora começou a dar sinais de insatisfação com o presidente e começou um zumzum de impeachment. Muito hipocritamente estão fazendo auê com o caso da jornalista da Folha, Patrícia Campos Mello, que foi insultada por Bozo e atacada pelo Gabinete do Ódio nas redes.

Pau que bate em Chico…

A reclamação principal agora é a “falta de decoro”, que de repente foi descoberto pela imprensa. Vera Magalhães, Miriam Leitão e outros descobriram agora que o presidente é autoritário e misógino. Mas quando o alvo era só a esquerda, tudo estava bem.

Os ataques a Glenn Greenwald foram talvez mais sérios, mas a imprensona aceitou a intimidação do governo e não reclamou (EU AVISEI!!).

“Você é feia demais para ser estuprada”

Maria do Rosário foi vítima da violência verbal do presidente, mas mesmo assim os jornalões demonizaram Haddad e fizeram o falso espelhamento Bozo-Haddad. A Folha de São Paulo, inclusive, orientou seus repórteres a não se referir a Bozo como “extrema-direita”, durante a campanha.

Muita gente agora se arrependendo ou negando ter apoiado Bolsonaro. Lobão, dentre outros, busca justificar suas escolhas passadas.

No reino da jararaca

Janaína Paschoal declarou agora que nunca foi bolsonarista, apenas apoiou o capitão condicionalmente.

Até a Miss Bumbum 2016, Érika Canela, se arrependeu de ter chegado ao ponto de fazer uma tatuagem com o presidente com seu gesto “da arminha”. É só o começo. Vai ter muita gente dizendo “eu só bati panela”, “eu só repassei o que me passaram”, “eu só fui nas manifestações”…

Frito?

A imprensa também fica dando a fritura de Guedes, pois a recuperação da economia não acontece. Resumindo, nada do prometido destravou o Brasil: o congelamento dos gastos governamentais por 20 anos, a reforma trabalhista, a reforma da previdência…

O cineasta Zé do Caixão morreu nesta semana.

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