Vendo a esquerda britânica fazer o luto da fragorosa derrota eleitoral, ouvi eles se perguntando muitas das questões que nós também fizemos ou fazemos: vale a pena lutar na guerra cultural, isto é, fazer o embate simbólico nas redes, produzindo conteúdo para disputar o whatsapp? Vale a pena construir uma torrente de mesmo tamanho e virulência? Ou a pauta econômica é prioritária, o resto sendo apenas biombo histérico para exaurir as forças da esquerda?

Feita assim, a pergunta paralisa e divide, e portanto deve estar errada.

Tenho temido ser esmagado pelo tsunami incessante de informação e contrainformação, pelas trapalhadas escabrosas e os cômicos macabros. Temo me deixar possuir pela atitude que tenho censurado cerradamente nos outros: a alienação, naquele que diz “que chato está tudo, me avisa quando passar”. Me machuca especialmente ouvir isso de quem eu ainda espero ver “cair a ficha”, isto é, quem se omitiu ou acabou votando no Bozo. Tem que abrir o olho e ver o que fez!

Ao testemunhar que o dito centro, os liberais e tucanos em geral preferem nos ver nas mãos de milicianos, fundamentalistas e da justiça gangsterizada, tenho me surpreendido chavista: a luta é mesmo de classes, os reclamos democráticos da direita são oportunistas e hipócritas, uma ditadura do proletariado talvez não seja má idéia. Chavez armou o movimento social na Venezuela.

Mas tem sido bom tentar não me deixar levar pela melancolia, reconhecer amanhãs e inventar futuros junto com as pessoas, abandonando a ira que é santa mas também ressentida e onanista.

Li que um homem processa sua igreja por tê-lo feito vender seu carro na certeza que ia obter um milagre – o que não ocorreu.

Isso poderia abrir caminho para uma ação coletiva de todos aqueles que acreditaram que os salários em geral iam aumentar quando os encargos trabalhistas fossem extintos – dinheiro que o patrão certamente, garantiram, ia repassar ao trabalhador…

Já em Belo Horizonte, por outro lado, um homem quebrou uma agência do INSS a marteladas, inconformado com o estado atual do serviço. A luz do Chile está em todos nós…

O filme “Democracia em Vertigem” continua a provocar reações fortes na direita, especialmenre depois da aparição de Petra Costa na CNN. Na Globo, Bial falou contra a diretora em termos bem chulos. Até a Secretaria de Comunicação do governo, a SECOM, postou ataques ao filme.

Caetano Veloso fez vídeo em apoio ao filme, que repercutiu no exterior. Seria lindo se o filme de fato ganhasse o oscar, mas a concorrência é forte.

Aliás, o Chefe da Secretaria de Comunicação de Bolsonaro, Fabio Wajngarten, está cada vez mais enredado em evidente conflito de interesses – sua empresa recebeu valores das emissoras que ele contrata para divulgação de material público.

Na mesma área da comunicação, Luiz Galeazzo, “influenciador e publicitário”, um blogueiro do ódio, foi nomeado para cargo na área digital do governo. Mas o deputado Alexandre Frota postou fotos eróticas íntimas do nomeado, que rebateu com imagens do trabalho passado de Frota, que foi ator pornô.

Bato em quem dizer “é, mas as reformas estão passando”.

A escuridão continua sobre o Brasil: o governo de Rondônia, bolsonarista, determinou a censura de livros nas escolas do estado, incluindo “Macunaíma”, de Mário de Andrade, e “O Castelo”, de Franz Kafka. Depois da grita, o governo recuou.

Além disso, a campanha governamental da abstinência na adolescência, em substituição à educação sexual, vai mesmo adiante, com musiquinha e tudo.

O presidente Bolsonaro, em declaração paralela, disse que o PT é responsável por toda a depravação do Brasil, que aflora no carnaval. Este ano vou pra rua!

Aliás, está em ação em São Paulo e no Rio de Janeiro o “espião-folião”, que é um agente de segurança que vai aos blocos para filmar com câmera 360 graus, transmitindo a festa ao vivo para a polícia.

O governo vai mesmo liberar a mineração em áreas indígenas. O desmonte da FUNAI continua, e o órgão impediu funcionários seus de fiscalizar reservas, alegando que eram trotskistas e marxistas.

Cai o pano…

Solução dos anagramas:

Gostou do texto? Contribua para manter e ampliar nosso jornalismo de profundidade: OutrosQuinhentos