Outras Palavras debate a Opção Agroecológica no Brasil

Riquíssimo em território, água e sol, país poderia ter agricultura diversa, refinada e integrada aos biomas. Ela ofereceria ocupações dignas a milhões. Mas alternativa é omitida pelo agronegócio e mídia. É preciso enfrentar este ocultamento

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Por Antonio Martins

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O Agro é Pop, martela todos os dias, há mais de um ano, uma campanha publicitária realizada em conjunto pela mídia e pelas organizações mais reacionárias do agronegócio. Num certo sentido, a agricultura de devastação social e ambiental que temos tornou-se de fato aceita pelas maiorias. Há razões para isso. O país reúne, em abundância, os fatores naturais indispensáveis à produção agrícola: água, insolação e território. Ocupa, há anos, o primeiro ou segundo lugar entre os maiores exportadores agropecuários do mundo. São primários catorze, dos quinze produtos líderes na pauta nacional de exportações. Por séculos, a extração ou cultivo de pau-brasil, cana, gado e café marcaram a história e a cultura brasileira.

Mas o mito segundo o qual O Agro é Pop só sobrevive devido a uma imensa operação de ocultamento. As mesmas condições físicas que favorecem a existência de um agronegócio cada vez mais excludente e devastador permitiram, criar, no Brasil, uma Opção Agroecológica. As razões que a mantêm minoritária estão relacionadas às chagas de nossa formação nacional. A Agroecologia baseia-se em pequenas propriedades, num país que se formou a partir da Casa Grande, do latifúndio e da escravidão. Respeita a natureza, em contraste com lógicas que devastaram e seguem devastando nossos principais biomas. Produz essencialmente para colocar comida na mesa da população, em vez de basear-se nas cotações de commodities em bolsas de valores. Apropria-se do conhecimento dos povos originários e das sementes crioulas – em oposição a um modelo baseado na fusão entre os interesses dos grandes proprietários de terra e os das corporações transnacionais da transgenia e agrotóxicos.

Em que condições o Brasil, onde já vicejam experiências agroecológicas de grande relevância, pode adotar este modelo? Que tipo de Reforma Agrária ele exige? Como será capaz de alimentar 210 milhões de brasileiros? Quais suas relações com a mecanização? Esta nova agricultura poderia permitir que uma parte da população, amontoada nas cidades em condições desumanas, tivesse no campo uma opção de trabalho digno? Como transitar de uma agricultura paupérrima, baseada na produção em altíssima escala de commodities de baixo valor agregado, evoluísse para cultivos e criações mais refinados – por exemplo, sem venenos sobre as plantas e antibióticos para os animais? Que mercado consumidor é preciso, para tal projeto?

O debate que Outras Palavras realiza hoje, sobre Agroecologia x Agronegócio – Um Choque de Projetos, reúne três interlocutores que são pesquisadores e ativistas, simultaneamente. O agrônomo Paulo Petersen é um dos criadores e membros executivos da ANA – Articulação Nacional de Agroecologia – tão importante quanto ocultada pelo jornalismo convencional. Além de integrante da coordenação do MST em São Paulo, Gerson Oliveira é geógrafo. Filho de agricultores, acompanha de perto o dilema dos trabalhadores rurais assentados, que precisam escolher entre manter os métodos capitalistas e partir para uma agricultura orgânica contra-hegemônica e discriminada. Marenise de Jesus Oliveira, educadora, atua no interior da Bahia, ajudando a coordenar as experiências agroecológicas do Movimento Estadual de Trabalhadores Assentados, Acampados e Quilombolas – o CETA

De todos os aspectos relacionados à regressão produtiva do Brasil, a hegemonia do Agronegócio é, possivelmente, o mais brutal. Além de consagrar a falsa “vocação agrícola” do Brasil, ele afirma um modelo de produção cuja riqueza deriva de expropriação secular, e cujo caráter retrógrado não pode ser disfarçado pela existência de máquinas agrícolas potentes e intimidadoras. É hora de começar a desmascará-lo – e isso exige apresentar alternativas. Nos lançaremos a ela, esta noite.

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