Derrubada de avião russo: o mundo próximo à guerra
Noam Chomsky explica: Turquia, que é aliada dos EUA e disparou míssil, tornou-se ameaça à democracia e à paz internacional. Washington já é incapaz de gerir seu império
Publicado 24/11/2015 às 13:09
Por Antonio Martins
O fantasma de uma guerra global voltou a se manifestar esta manhã, quando dois aviões de caça turcos dispararam contra um bombardeiro russo, que atacava instalações militares do Califado Islâmico na Síria. O avião, que voava próximo à fronteira sírio-turca (há controvérsias sobre a localização exata) foi derrubado e destruído. Os dois pilotos ejetaram-se da cabine, mas foram capturados e mortos por terroristas. A Turquia integra a OTAN, aliança militar dirigida pelos EUA. É a primeira vez, desde os anos 1950, que ocorre uma escaramuça de tal natureza entre duas potências nucleares. Ainda não se sabe como reagirá Moscou (Vladimir Putin considerou-se “apunhalado pelas costas”), mas num mundo à beira de um ataque de nervos as consequências podem ser dramáticas. Por que a Turquia agiu deste modo? Quais podem ser os desdobramentos?
Dois textos de Noam Chomsky, intelectual norte-americano dissidente, ajudam a explicar os motivos – e, ao fazê-lo, tornam o fato ainda mais dramático. O primeiro, ainda sem tradução em português, foi publicado ontem, na revista digital Alternet. A Turquia está se convertendo rapidamente num foco de grandes tensões, bem no centro de uma região tradicionalmente explosiva, explica o filósofo e linguista. Pressionado por oposição de esquerda e por uma situação geopolítica desconfortável, seu governo tenta manter-se com base em repressão interna e na busca de um inimigo externo. Seus serviços de segurança são acusados de cumplicidade no atentado a bomba que matou 99 manifestantes pela paz, em meados de outubro (a autoria direta foi reivindicada pelo ISIS). Mais recentemente, o presidente Recep Tayyip Erdogan voltou-se contra a liberdade de expressão.
Para reconquistar maioria parlamentar nas eleições de 1º de Novembro, Erdogan silenciou a imprensa opositora. Os prédios do grupo de comunicação Ikea – sedes de dois jornais (Bugun e Millet) e duas redes de TV – foram invadidos pela polícia. O Estado assumiu o controle do grupo, demitiu 71 jornalistas e impôs nova linha editorial. No dia das eleições, ambos estamparam, em manchete, fotos do chefe de Estado, acompanhadas dos títulos “O presidente entre o povo” e “Turquia unida”. Após o pleito, dois jornalistas foram encarcerados e 30 processados, a pretexto de “insultar o presidente” e “fazer propaganda terrorista”. Na recente reunião do G-20, realizada na cidade turca de Antalya, dezenas de jornalistas locais foram barrados. Tudo isso, num país que os governos ocidentais rotulam como aliado democrático.
O descontrole de Erdogan deve-se, em parte, à situação delicada em que ele próprio colocou a Turquia, no cenário de um Oriente Médio em que o poder norte-americano declina. Aliado de Washington, o país foi pivô, desde 2011, do esforço norte-americano para usar a mão-de-gato do ISIS contra Bashar Assad, o presidente da Síria. Pela fronteira turco-síria, propositalmente escancarada, passaram milhares de fundamentalistas e enorme quantidade de material militar que alimentaram o terrorismo, relata Patrick Cockburn em A origem do Estado islâmico – um livro indispensável sobre o tema.
Porém os EUA, perdidos num emaranhado de alianças contraditórias na região, precisaram atender também a outros interesses – o que deixou a Turquia em sinuca geopolítica. Há dois meses, quando Moscou aliou-se ao governo sírio e lançou sua aviação contra o ISIS, Washington viu seu poder ameaçado. Reagiu dando apoio militar às guerrilhas curdas. Quando o fez, contrariou Erdogan, que promove uma guerra implacável contra o possível surgimento de um Estado curdo. A situação do presidente turco tornou-se ainda mais delicada após os atentados de Paris. Erdogan teme que os Estados Unidos fortaleçam os curdos, ao ampliar o apoio militar que dão a eles.
O ataque ao avião russo é certamente uma provocação com objetivo de sacudir o tabuleiro. Erdogan tem instrumentos para tentar reconquistar os EUA. O New York Times especulou há pouco que, a pedido da Turquia, a OTAN realizará, ainda hoje, uma reunião de emergência. Washington estará dividida. Manterá o apoio militar aos curdos, correspondendo à pressão da opinião pública internacional para derrotar o ISIS? Ou cederá à Turquia, um aliado que não deseja abandonar, para que as ambições geopolíticas norte-americanas não se degradem ainda mais no Oriente Médio?
O segundo texto de Chomsky – uma entrevista concedida em março último à revista Jacobine e já traduzida por Outras Palavras – enxerga o problema de uma perspectiva de mais longo prazo. O filósofo dissidente vê os EUA como um império decadente, que já não é capaz de construir hegemonia, porque tornou-se incapaz de satisfazer aliados ou neutralizar inimigos e agora age apenas segundo seus próprios interesses.
Foi esta condição declinante, explica Chomsky, que levou Washington a criar, no Oriente Médio, a situação ideal para formação do ISIS. Os EUA devastaram Iraque, Afeganistão e Líbia, em três guerras insanas. Estes países são exatamente, os santuários onde os fundamentalistas formam e treinam os terroristas que promoverão atentados como os que abalaram Paris.
Embora sempre esperançoso, Chomsky reconhece, na entrevista, que há razões para uma atitude mais cautelosa e alerta. Do contrário, frisa ele, “o mundo que estamos criando para nossos netos será cada vez mais ameaçador”.
Como você sabe disso? Estava lá?
De onde partiu esta informação que você propaga?
Você se crê mais habilitado que Noam Chomsky a obter informação de qualidade na conjuntura atual?
Outro ponto a levantar é que um dos pilotos foi resgatado pelos russos.
Os dois se ejetaram, um foi morto a tiros antes de chegar ao solo e o outro, resgatado, está vivo.
O que se vê é que o grande perigo no processo histórico mora na decadência de poderes hegemônicos, e não na sua consolidação. Não há dúvida de que o surgimento do Isis é obra pura e direta de Washington, ao travar guerras insanas e não completar o serviço, conquistando esse países após a natural (e desproporcional) vitória militar, através de apoio econômico e social, numa espécie de Plano Marshall para as terras arrasadas do Iraque e do Afeganistão. Deixou-se para trás a devastação, o caos e o ressentimento, um campo fecundo para o Estado Islâmico. Estamos só no começo, e as portas abertas da Europa permitirão a entrada de muitos terroristas. Só uma ação militar conjunta seguida de um grande plano de recuperação e de estímulo à economia e à educação no Oriente Médio poderá finalmente começar a sarjar a ferida de todos os erros cometidos ao longo do último século por Inglaterra, França e Estados Unidos nesse remendo lamentável que é a região, quadro agravado pelo encurralamento da sociedade, presa num beco sem saída para este século, com a sua visão petrificada do Alcorão…
Os “rebeldes anti-governo no lado sírio da fronteira” são a Al-Nusra, Al-Qaeda e ISIS. Compreendeu agora o porque de eles serem corretamente chamados de terroristas?! Não há “rebeldes moderados” na Síria (como alegam alguns países ocidentais – USA, Arábia Saudita, Qatar, Turkey… – os mesmos que forneceram e continuam fornecendo armamentos, equipamentos e intel para os terroristas na Síria).
O presidente Obama conseguiu desmoralizar o povo americana, quando reatou as relações diplomáticas com Cuba, através de seu ditador, Raul Castro.
Raul Castro, não fez qualquer sinal, a analistas internacionais e muito menos abriu uma fresta de liberdade ao povo cubano.
A Venezuela comunista afronta e o Obama nada faz, e muito menos deixou de comprar o petróleo desse país comunista.
Será que Obama tem coragem de enfrentar à Rússia?
Terroristas mortos por terroristas. isso sim.
Não é dificil saber para o porquê destes eventos… Não foi por acaso que a turquia abateu o caça russo, foi para provocar uma guerra Nato/russia… Em que a china pode-se meter ao barulho e está montado uma guerra mundial em que o médio oriente é o campo de combate.
E porquê perguntam vocês? Porque primeiro a russia quer manter al-asad no poder, coisa que os estados unidos já não querem, porque já não precisam dele… Então toca de provocar a russia.
Segundo, os estados unidos tem uma divida externa gigante! Como é que um país como os EUA para essa divida ou a reduz? provocando uma guerra… Assim não só vende armas como arranja um pretexto para atacar os países a quem tem a dívida (grande parte dela à china), ora se esta se junta ao barulho, os EUA esfregam as mãos de contente, podendo destabilizar mais uma parte do mundo que é uma grande pedra no sapato. Terceiro, continuam a destruir o médio oriente, que já se viu que se se unem, podem ser a próxima super-potência, porque com tanto petroleo, podem gerar grandes riquezas. Daí que após a primeira guerra mundial, foi prometido ao império otomano, dividido pela guerra, a criação do “grande estado arábe”. Em vez disso esse grande estado foi dividido em pequenos países, em que foram colocados governos fantoche… E a partir daí está o caldo entornado no médio oriente.
Leiam bem o que digo: os EUA vão fazer tudo para provocar uma guerra, dá-lhes muito jeito e como é bem longe da casa deles, ainda mais jeito dá… Por isso desde a 1ª guerra do iraque que andam a arranjar pretextos para invadir paíes do médio oriente, nada mais é que criar baes para poder atacar rapidamente a russia e a china. E já agora destruir aliados dessas potências, como poderia ser o iraque, a síria, etc etc…
“Os dois pilotos ejetaram-se da cabine, mas foram capturados e mortos por terroristas. “.. que contradição ein! Não gosto desse tratamento alegando que os terroristas são sempre os do lado de lá.. e os daqui são o que então? Santos em busca do santo graal na “guerra contra o terror”? Deprimente esse ponto de vista!
Grandes erros nessa matéria. Os pilotos russos não foram mortos por terroristas mas sim por rebeldes anti-governo no lado sírio da fronteira com a Turquia.
Foi muito triste e incompreensível uma tal atitude por parte da Turquia. Vi imagens dos paraquedas dos pilotos e depois uma foto de um deles abatido. Não havia necessidade do abate do avião. Mesmo que tivesse invadido o espaço aéreo da Turquia – o que duvido -, haveria sempre forma de o fazerem regressar à Síria. Espero que a OTAN pondere bem o que está em causa e um aliado que procede desta forma não deverá por em causa a organização, nem comprometer os restantes aliados.
Este é um muito bom artigo, que talvez explique bem as causas por detrás destas “jogadas” de tabuleiro.
o governo americano pedeu-=se ante o poderio das industria de bens e serviços bélicos….estava demorando para acontecer eventos assim e eles irão se tornar cada vez mas frequentes.As potencias nao podem eleger uma zona de guerra do tamanho do estado de Minas Gerais, atacar tudo o que se move e tudo o que voa, sem uma operação conjunta muito bem coordenada….pena são as crianças, explodidas sem piedade..realmente a Humanidade não merece continuar no planeta…e quem acreditou na Nova Era deve estar realmente atonito e muito frustrado com tudo isso…