A China homenageará seu reformador esquecido?

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Ocupação da praça durou 50 dias. Para Marília Andrade e Luís Favre, autores de “A Comuna de Pequim”, foi imensa ação por democracia socialista e contra tendências burocratizantes

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Às vésperas do 25º aniversário do levante da Praça da Paz Celestial, dois jornais lembram Hu Yaobang, cuja demissão e morte deflagraram movimento

Por Antonio Martins

Num Estado com 2.300 anos de História, todos os processos devem ser analisados no longo prazo, gosta de lembrar o economista José Luís Fiori. Mas vale acompanhar de que maneira a China — e em particular seus líderes recém-empossados — relembrarão, nos próximos meses, o grande levante da Praça da Paz Celestial, que durou 50 dias, entre abril e junho de 1989. Um primeiro sinal surgiu esta semana, na forma de discreta homenagem ao principal inspirador do movimento: o ex-secretário-geral do Partido Comunista (PC), Hu Yaobang.

Um artigo estampado num dos jornais dirigidos pelo PC, o Diário da Libertação, e assinado por um jornalista veterano, convocava o país a aprender com Hu — em especial por seu desejo de reformas, ousadia de inovar, honestidade e justiça. Poucas horas depois, aparecia outro texto, agora no Diário do Povo, o principal jornal do partido, com tiragem de 4 milhões de exemplares e reproduções em oito idiomas (aqui, em espanhol).  Recomendava o artigo do Diário da Libertação, tratando-o como “leitura essencial”. As duas menções são notáveis porque Yaobang foi, entre sua morte e 2005, personagem proibido na imprensa oficial.

Hu Yaobang, à direita, ao lado de Deng Xiaoping, que articulou sua demissão

Hu Yaobang, à direita, ao lado de Deng Xiaoping, que articulou sua demissão

O levante da Praça da Paz Celestial começou em 15 de abril de 1989, data da morte de Hu Yaobang. Ele havia sido afastado do posto máximo do partido pouco mais de um ano antes, por ser considerado “muito liberal”. O grande dirigente chinês de então era Deng Xiaoping, que não tinha posto formal na hierarquia partidária.

O falecimento de Yaobang desencadeou uma intensa onda de protestos na Praça da Paz Celestial (Tiananmen, em chinês), um símbolo nacional em Beijing. Ela terminou ocupada, majoritariamente por estudantes, que lá permaneceram, realizando assembleias diárias, até 3 de junho. Foram desalojados pelo exército, em meio a enorme violência. A cena célebre do jovem chinês que desafia uma fileira de tanques de guerra é um desdobramento da desocupação.

130416-ChinaOs sentidos da revolta ainda estão envoltos em controvérsia. A brasileira Marília Andrade e o argentino Luís Favre, que presenciaram parte dos acontecimentos, escreveram o livro A comuna de Pequimem que apontam o caráter revolucionário e anti-burocrático do levante. Outros analistas veem nele sentido pró-capitalista.

Eleita no ano passado pelo congressso do PC, e liderada pelo presidente Xi Jinping, uma nova geração de dirigentes chineses foi empossada em 2013. Uma boa resenha dos desafios que ela enfrenta foi publicada há semanas, no Le Monde Diplomatique francês, por Martine Bullard, uma jornalista que conhece e acompanha, em profundidade, os  assuntos chineses.

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