O novo recorde de violência sexual

Foram 66 mil estupros no país em 2018 — a maior parte das vítimas, meninas de até 13 anos (e dentro de casa). Leia também: pacientes com câncer esperam até 7 meses por diagnóstico; vacina pentavalente está em falta

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Por Maíra Mathias e Raquel Torres

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RECORDE DE VIOLÊNCIA SEXUAL

Batemos mais um recorde ruim. Em 2018, foram registrados 66.041 casos de estupro no país – o que dá uma média de 180 por dia. O número representa um crescimento de 4,1% em relação a 2017 e é o maior já registrado pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que começou a ser feito em 2007. As vítimas são, em geral, mulheres (81,8%). Infelizmente, essa não é a única má notícia do estudo divulgado ontem. 

“A cada quatro horas uma menina com menos de 13 anos é estuprada no Brasil.” O título da reportagem do El País sintetiza bem o principal (e triste) achado do Anuário: 53,8% das vítimas de violência sexual foram crianças do sexo feminino nessa faixa etária. Mais especificamente: o número de casos cresce a partir dos sete anos e atinge pico aos 13.  Os meninos também são alvo de ataques e, geralmente, os sofrem ainda mais jovens. Entre eles, as ocorrências aumentam drasticamente a partir dos três anos, com ponto máximo aos sete. 

De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança, responsável pela produção do Anuário, 76% dos autores desse crime são conhecidos da vítima que, geralmente, é violentada dentro de casa por pais, padrastos, avôs, tios, primos, vizinhos…  

EM VEZ DE PROTEÇÃO, VIOLÊNCIA

E há outros números bem emblemáticos no levantamento: caíram as mortes violentas intencionais, os crimes contra o patrimônio e os homicídios contra policiais… Mas as mortes causadas por policiais dispararam, cresceram os feminicídios  e aumentou o registro de novas armas legais. 

Nas mortes violentas intencionais, a queda foi de 10,8% (após o recorde do ano anterior), e o número de casos foi 57.341 – o menor desde 2014. Mas os assassinatos decorrentes de operações policiais nunca foram tantos. No ano passado, foram 6.220 mortos, uma alta de 19,6% em relação a 2017. Isso não para de crescer desde 2013 e, desde então, o aumento foi de nada menos que 183%. Enquanto isso, a quantidade de policiais assassinados caiu de 373 registros para 343, chegando ao menor número desde 2013. Não há uma explicação única para a queda nas mortes violentas e roubos, e se acredita que pode haver vários fatores. Na matéria da Ponte, pesquisadores apontam desde a dinâmica do conflito nacional entre PCC e CV até a macroeconomia e os investimentos em segurança pública. 

Numa coisa a maior partedos especialistas concorda: a queda de homicídios não é provocada pela alta nas mortes cometidas pela polícia. “Caso contrário, São Paulo não teria visto uma redução de 11% na taxa de homicídio, já que os policiais também mataram 10% menos. Ou então, em Roraima, estado mais violento do país no ano passado, não teria havido um crescimento de 65% na taxa de homicídio, uma vez que a taxa de mortes policiais subiu 183%”, exemplifica a reportagem da Piauí, que relaciona a letalidade policial com os estupros.

E chega à desconfortante conclusão de que a violência vem de quem deveria proteger:  “Acreditávamos no mito de que o Brasil era cordial e estava avançando em direitos humanos. Mas muitas pessoas não queriam esse caminho (…). Há um discurso punitivo que acaba invertendo os papéis em muitos momentos: ‘Eu deveria estar protegendo, mas tenho domínio sobre o corpo do outro.’ Seja a polícia decidindo sobre o corpo do jovem. Seja o familiar ou conhecido decidindo sobre o corpo da menina dentro de casa”, resume Cristiane Lima, coronel da reserva da PM do Pará.  

FALANDO EM ARMAS…

O filho 03 de Jair Bolsonaro quebrou as regras do hospital Vila Nova Star ao visitar o pai. Isso porque Eduardo Bolsonaro resolveu ir armado. Inclusive, posou para fotos com o revólver à mostra, como gosta de fazer. Questionado sobre o caso pelo colunista Guilherme Amado, da Época, o Vila Nova Star preferiu sair pela tangente. Em nota, falou que “não comenta detalhes sobre o assunto”. 

LONGA ESPERA

Em auditoria, o Tribunal de Contas da União identificou que 56% dos pacientes com câncer só recebem a confirmação da doença quando ela já está em estágio avançado, o que diminui as chances de cura. O percentual cresceu ligeiramente nos últimos anos: em 2013, eram 53%. Hoje, em alguns casos, a espera pelo diagnóstico chega a até 200 dias, ou quase sete meses. 

O TCU determinou um prazo de 90 dias para o Ministério da Saúde elaborar um plano de ação com medidas que agilizem o diagnóstico. Foram auditados o Ministério, a Secretaria de Atenção à Saúde, o Inca e as secretarias (estaduais e municipais) de 14 estados, e as informações coletadas se referem aos oito tipos de câncer mais comuns no país. Daí que, em nota ao G1, a Pasta relativizou o resultado, afirmando que “não representa o cenário nacional”.  O governo também diz que o relatório do TCU não incluiu a realização de cirurgias como início de tratamento, nem o aumento do número de notificações de casos de câncer. 

FALTA VACINA

Está faltando outra vacina no SUS. Trata-se da pentavalente, que protege contra difteria tétano, coqueluche, hepatite B e hemófilo B. O problema, segundo o Estadão, começou porque foram identificadas falhas no imunizante que o Brasil comprava da Índia, mais especificamente da empresa Biologicals. No início do ano, três lotes foram reprovados pelo Instituto Nacional de Qualidade em Saúde, da Fiocruz, e na sequência, em junho, a Anvisa vetou a importação. Três milhões de doses precisaram ser devolvidas.

O Ministério da Saúde saiu às compras, mas a chegada da vacina ao país está acontecendo de forma escalonada. Em agosto, chegaram 400 mil doses. Mas isso representa metade da demanda: todos os meses 800 mil doses são aplicadas no país. Segundo o governo, as coisas devem voltar ao normal só em fevereiro. 

PIOR AQUI

Falamos ontem do último relatório da OMS sobre suicídio no mundo, e a matéria de Patrícia Figueiredo, no G1, detalha como está o Brasil. E não está nada bem. Entre 2010 e 2016, a taxa global de suicídios caiu 9,8%, mas, aqui, subiu 7%. Aliás, a América foi o único continente que registrou aumento dos suicídios no período – 6%. O Brasil está, portanto, acima dessa média. 

A VER

Começou a ser contado o prazo de cinco sessões para a votação da reforma da Previdência no Senado. A primeira delas aconteceu ontem e contou com um debate que teve três expositores que falaram a favor da PEC  6/19 e quatro falando contra, incluindo o ex-ministro da Previdência Social, Ricardo Berzoini.  Como a tendência é de que a reforma passe, havia alguma esperança de que as supressões promovidas no texto pelo relator da reforma, senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), fizessem com que o texto tivesse que voltar para a Câmara dos Deputados. Segundo o Valor,essa tese foi discutida ontem ao longo do dia. Jereissati defende que não alterou o texto, mas fez “emendas de redação”. 

A FORÇA DO COCHILO

Um estudo feita por membros do Hospital Universitário de Lausanne, na Suíça, e publicada no periódico Heart, afirma que cochilar uma ou duas vezes por semana está ligado à diminuição na probabilidade de sofrer AVC ou de ter um ataque cardíaco. Os pesquisadores acompanharam 3,5 mil pessoas de 35 a 75 anos durante cinco anos, e descobriram que os cochiladores ocasionais tinham 48% menos chances de sofrer esses males. Mas quem cochila demais – mais de três vezes por semana – é em geral menos saudável. 

Uma ponderação de Naveed Sattar, professor da Universidade de Glasgow, no Science Media Centre: “Para provar [que cochilar é uma maneira de diminuir os riscos], seriam necessários ensaios adequados, mas não tenho certeza de quão viáveis eles seriam. Por enquanto, é muito melhor procurar boas noites de sono regulares e seguir os conselhos usuais de estilo de vida em relação a boas dietas e bons níveis de atividade”. 

NA RUA

Destacamos por aqui no final de agosto e, agora, é oficial: a UnitedHealth vai anunciar hoje a saída de Claudio Lottenberg do comando das operações do grupo no Brasil. Segundo o Valor, no lugar do ex-presidente do Albert Einstein, entra o médico José Carlos Magalhães. O contrato de Lottenberg com a multinacional ia até 2021. Mas a UnitedHealth está insatisfeita com os lucros apurados pela Amil, adquirida pelo conglomerado em 2012 por R$ 10 bilhões. 

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