Machismo sutil? Xico Sá dialoga com nossa colunista
“Vivo entre o macho-jurubeba da minha origem do Sertão e o macho em busca da delicadeza perdida aqui nesta urbanidade babilônica”
Publicado 14/11/2013 às 16:42
Por Xico Sá | Imagem: Pablo Picasso, A Flauta de Pan (1923)
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Em diálogo com:
O machismo sutil de quem nos cultua
Na luta feminista, há muito espaço para os homens. Mas alguns deles, tão convictos e extremados, querem… indicar-nos o caminho!
Por Marília Moschkovich
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Há quem veja sim machismo nas minhas crônicas, há quem diga que sou um macho feminista, há quem suspire (rs) “ah se todos os machistas fossem iguais a você”. Nesse carnaval, eu mesmo escancaro as minhas contradições: vivo entre o macho-jurubeba da minha origem do Sertão e o macho em busca da delicadeza perdida aqui nesta urbanidade babilônica.
Discordo do artigo da Marília, mas é um texto elegante e creio que respeita as minhas contradições. É o ponto de vista dela, minha gente, com a razão dela – a leitura que ela aprendeu a fazer do mundo. Não existe isso do que seja o certo ou verdadeiro. A única certeza é a contradição.
Fiquei muito orgulhoso, aliás, quando ela me põe junto com o Vinícius de Moraes. Aí ela mata, decifra a origem literária das minhas crônicas: sou uma cria da costela daquele lirismo da turma do poeta e mais do Antônio Maria (“ninguém me ama, ninguém me quer, ninguém me chama de meu amor…”), Paulo Mendes Campos, Rubem Braga etc.
Creio que não existe polêmica possível entre o que Marília defende e o meu amor derramado pelas mulheres. Ela tem o amor sincero dela, eu tenho a minha sinceridade em uma certa prosa poética – não escrevo discurso ou tese, escrevo literatura ou algo próximo disso.
Me deu um pouco de enjoo ler a resposta de Xico Sá.
Muitos homens sofrem assedio sexual publico tb. No entanto, às vezes sentem-se até lisonjeados desde que não seja um beijo de um homossexual. Aí a coisa pega!!!
Muitos rapazes que responderam com violência à asdedio sexual deselegante de gays foram retratados como homofobia.
No entanto, homofobia seria se este manifestasse aversão a outro homem mas, como o gay se classifica como diferente de nós homens, restaria à ele acusar-nos de heterofobia (fobia a diferencas) ou mesmo procurar a delegacia da mulher e Lei Maria da Lenha.
TENHO FOBIA DE HOMEM SE ENCOSTAR EM MIM.Como homem é meu igual e homo significa igual tb,
SERÁ ISTO HOMOFOBIA?
Humm…eu nem pretendi colocar isso em questão…mas temo que sim.
… este Xico Sá é aquele que ajuda o PIG a vender a porcaria dos produtos deles?
Vazio dos tempos? Só se for dos tempos das vossas vidas! Nunca vi tantas demandas de tantos setores da sociedade clamando por algo a ser feito. Só não vê quem não quer ver. Sim, tamanha frustração com a hora presente pode resultar até neste vazio existencial mencionado. Ater-se a rótulos – feministas, machistas, ensaístas,maniqueístas – é empobrecer qualquer diálogo, por outro lado, não reconhecer a legitimidade das reivindicações feministas da atualidade é total alienação. E, bem, se estou a conversar com quem sequer imagina o que seja uma feminista, realmente estamos tangenciando essa alienação. Mais cômodo assim: não imaginar o que seja mas julgar de antemão.
Presumo que sejam “bandeiras para agitar o vazio dos tempos”.
Definicao pefeita!!!
Meu caro Xico,
Aqui do outro lado do Atlântico estou com você como se diz desse lado do rio salgado.
Em rigor confesso que não sei o que seja um ou uma feminista, ou machista.
Presumo que sejam bandeiras para agitar o vazio dos tempos.
Depois, uma feminista, para o ser, já não o é, porque pode sê-lo, mas deixou de o ser quando passou a poder sê-lo. Complicado?
Abraço.
Gil Teixeira
Lisboa/Portugal
Entendimento do mundo é outra coisa. Não é Fla-Flu. 🙂
Quem se aprofunda nas questões feministas não lida com dados subjetivos, ou com relativização da verdade, com “pontos de vista”. Lida com dados reais e brutais sobre a violência contra a mulher, por exemplo. Daí ser muito bobo, quase ingênuo, considerar “feministas” as crônicas do Xico Sá. Lê-las é um passatempo, como ler horóscopo, quando bem escrito. E, sob um ponto de vista pessoal, penso que os dramas do macho certamente seriam minorados se eles pudessem sair de seus egocentrismos, e pudessem deslocar seus pontos de observação. Mas é difícil fazê-lo enquanto o medo de perder o pódio secular está nas entranhas. Entre lá e cá, parece que o mais sensato é colocar a mulher também em algum lugar de destaque: uma passarela! E derramar sobre ela todo esse amor incontido de macho, como pétalas de rosas provindas de um céu de bem-aventurança, que se espraiam pelo teclado, blog, mundo virtual. Esse culto é bom demais na intimidade, mas quando lido tem gosto de final de domingo.
E que o patriarcalismo, suas mazelas, vítimas e toda a ignorância circundante passem bem longe, que é para não chamuscar de mal estar esse amor de macho tão pouco convencional. Mas se está rendendo polêmica, “curtir” e “compartilhar”, alguém mais vai reclamar? Para variar, somos nós, mulheres, nossas estrias ou a falta delas, nossas gordurinhas ou a falta delas, nosso cabelo branco ou tingido, a inspiração que falta quando a tela está em branco e não escrever é o mesmo que ficar sem salário.