Quando a política descamba…‏

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Por Tadeu Breda, no Latitude Sul

Não sei o que escrever para acompanhar o vídeo que segue. É tudo muito nebuloso na minha cabeça. Acredito que seja uma peça publicitária importante, que sem sombras de dúvida marca uma transformação na campanha presidencial do PSDB, DEM e coligados. É a passagem de uma postura agressiva e denuncista, com óbvios fins eleitorais, para uma atitude que ainda não sei como classificar.

A propaganda do Tiririca, perto disso aí, é um alívio democrático…

Enfim, eis o vídeo:

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Dentro de tanta estupefação, talvez caibam alguns comentários.

É curioso como o PSDB, apesar de destrinchar e tripudiar o PT e sua candidata à presidência, não destina nenhuma crítica a Lula. Pelo contrário, elogia sua capacidade conciliadora. Mérito político do ex-sindicalista? Incoerência da oposição? No vídeo, um sujeito de terno, barba postiça e barriga de travesseiro aparece segurando cães raivosos. Os rotweillers representam as “alas radicais” do PT, que, sugere o narrador, Lula conseguiu domar durante seu governo. A habilidade do presidente, portanto, teria garantido a vigência dos valores democráticos no país.

A alegoria dos cães nada mais é do que uma releitura da capa publicada pela Veja antes do segundo turno das eleições de 2002, em que uma coleira vinda do além tenta impedir o avanço de uma criatura infernal. Qualquer semelhança com o mitológico Cerberus não é mera coincidência. É um cão de três cabeças: Lenin, Marx e Trotski, identificados por plaquinhas no pescoço, babam e esbravejam. É de tirar o sono…

Não é novidade para ninguém que Veja e PSDB atuaram em estreita parceria durante o governo Lula. Talvez por isso o vídeo utilize exatamente a revista, devidamente em chamas, para representar a imprensa que está ameaçada com uma eventual vitória de Dilma Rousseff. Outros exemplos são os grandes jornais do país — Folha, Globo e Estado. Um aparelho de rádio e um televisor também são calados e sufocados.

É curioso observar que, para ilustrar os ataques à imprensa, o PSDB tenha utilizado apenas grandes veículos de comunicação, os legítimos representantes das maiores corporações de mídia do país. Abril, Grupo Estado, Folha da Manhã e Organizações Globo. Quatro conglomerados empresariais que, juntos, chegam a praticamente todos os lares brasileiros, dos mais ricos aos mais pobres, e que por décadas definiram, com exclusividade, as linhas gerais da opinião pública.

Com a chegada da internet, porém, e sua popularização, hoje em dia há outras vozes a serem ouvidas. É possível que a hegemonia da grande imprensa esteja chegando ao fim — tomara. Claro, ainda falta um longo caminho pela frente. A influência dos veículos alternativos não faz nem cócegas na capacidade de inserção e alcance dos meios tradicionais. Mas o fato é que, antes, não era possível ter acesso a versões alternativas dos fatos cotidianos. Vigia a ditadura do discurso único. Agora — e, em boa medida, graças às publicidades oficiais — existe maior pluralidade de vozes.

Enfim, são opiniões difusas. Seria extremamente enriquecedor que cada um adicionasse pontos de vista aos meus. O espaço dos comentários está aí para isso. De qualquer maneira, fica aqui o registro do dia em que as ideias políticas da ala conservadora brasileira definitivamente foram anuladas pelo marketing e, pior, pela pixação falaciosa, pela tentativa de amedrontar a classe-média tradicionalista — que é quem ainda teima em votar no PSDB. Em 2002, foi Regina Duarte, atriz da Globo, quem botou a cara na TV para dizer que tinha medo do PT e que por isso votaria no Serra.

Oito anos depois, produziram este vídeo. Talvez um grito desesperado para tentar reverter o resultado das pesquisas. Esperemos que seja isso. –tadeu breda (cc)

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Um comentario para "Quando a política descamba…‏"

  1. Foucher disse:

    Um artigo meu no site de Antonio Martins para responder a essa midia tradicional truculenta e às vezes fascista http://www.ponto.outraspalavras.net/2010/09/23/velha-midia-nova-derrota/

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