Voluntário que morreu não havia recebido a vacina

Informação foi vazada por fonte desconhecida. Morte não teve relação com vacina e ensaio segue normalmente

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Um brasileiro de 28 anos que participava dos testes da vacina de Oxford/AstraZeneca morreu. Quem soltou a informação primeiro foi O Globo – o que foi seguido por incontáveis republicações em outros veículos e nas redes sociais. Não havia então detalhes importantes: a causa da morte, se o voluntário havia recebido o imunizante contra o novo coronavírus ou se estava no grupo de controle (nesse ensaio, o placebo não é uma substância inerte, mas a vacina contra meningite). A Anvisa disse ter sido formalmente notificada sobre o óbito no dia 19, e que o comitê independente que acompanha o caso sugeriu o prosseguimento do estudo.

Se houvesse razões para crer que a vacina havia provocado a morte, ele seria pausado. A continuidade, então, sugeria duas possibilidades: ou o voluntário fazia parte do grupo controle, ou havia tomado a vacina mas a morte não tinha relação com isso. Pouco depois, o mesmo jornal publicou que o rapaz havia morrido por covid-19. Quanto ao braço da pesquisa de que o voluntário fazia parte, não era possível saber isso oficialmente: o estudo é desenhado de modo que os participantes não saibam se tomaram a vacina ou placebo, e essa informação é sigilosa. Porém, cerca de uma hora depois que a notícia sobre o óbito saiu, a Bloomberg disse que, segundo “uma pessoa a par do assunto”, o homem tomara placebo. Uma nova reportagem d’O Globo disse o mesmo: “uma pessoa ligada ao estudo clínico” afirmou que o voluntário não recebeu a vacina. 

Não está claro quem vazou esse dado, mas foi imediato o benefício para a AstraZeneca, que tinha visto suas ações despencarem. Com as novas informações, elas voltaram a subir. 

É preciso pontuar que, mesmo que o homem tivesse tomado a vacina, uma coisa seria certa: a morte foi por covid-19, então não poderia ter sido decorrente de um efeito colateral do imunizante. Sabemos que a AstraZeneca busca uma eficiência de 50% (um percentual semelhante à meta de outras empresas), o que significa que, se metade dos que tomaram a vacina se infectarem, isso já será considerado um resultado de sucesso. Além do mais, ainda não sabemos se a vacina tem essa eficácia – é para isso que os ensaios são feitos, afinal. Portanto, não é impossível que alguém que tomou a vacina se contamine e, eventualmente, tenha complicações, ou mesmo que morra. Esse seria um resultado indesejado, mas não inesperado, e não indicaria falha na segurança. 

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