PÍLULAS | Violência, estupros, feminicídio – e a pandemia com isso?

• Poluição e gravidez • Há agrotóxicos na água da torneira • ONU debate sistemas alimentares globais • Enfermeiras se manifestam no 8M • Covid vira endemia? • Descoberta sobre os casos graves • União Europeia protela suspensão de patentes •

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Segundo novos dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, uma mulher foi estuprada a cada dez minutos no país em 2021. Houve aumento de 3,7% em relação a 2020. Os dados coletados apenas com polícias civis de todas as unidades da Federação apontam que os números podem ser maiores, devido à subnotificação. O aumento segue a tendência de maior abertura da flexibilização do isolamento social imposto pela crise do coronavírus, ampliando a possibilidade de notificações. Em doze estados, a taxa ficou acima da média nacional. Em relação ao feminicídio, houve recuo de 2,4% no ano passado em comparação a 2020. No caso de homicídios contra mulheres, a tendência alta ocorreu durante o período mais rígido do isolamento, marcado por menor possibilidade de mobilidade das mulheres em relação a seus agressores. “Retrocesso de 20 anos”, constatou um relatório da entidade ONU Mulheres. A investigação feita em 13 países, baseada em depoimentos de mais de 16 mil mulheres, aponta que duas em cada cinco mulheres sentiram o impacto negativo da pandemia na sua saúde mental. Do total, 45% declararam ter sido vítimas de violência desde o início da pandemia.


O impacto das mudanças climáticas nas gestantes

Kristie Ebi, professora do Centro de Saúde e Meio Ambiente Global da Universidade de Washington, disse que acredita-se que aproximadamente mil pessoas morreram devido às recentes temperaturas extremas em um curtíssimo espaço de tempo. E o último Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) reiterou que podemos esperar que essas ondas se tornem mais frequentes. A segunda parte do relatório, lançada recentemente, focada em impactos climáticos, adaptação e vulnerabilidades, incluiu uma nova seção detalhando os riscos que as grávidas enfrentam em um clima em mudança. Em entrevista ao The 19th News, Ebi conta que ainda há pesquisas para compreender a relação entre a exposição de calor e o baixo peso ao nascer, natimortos e outros resultados adversos da gravidez. Sobre o IPCC incluir um novo foco em gestantes, a pesquisadora ressalta a necessidade de um maior financiamento para prever impactos e proteger as pessoas mais vulneráveis. Além de criar um sistema de delimitar pessoas em nível de risco e um procedimento de resposta rápida envolvendo bombeiros, departamento de polícia e uma ampla rede de órgãos de defesa civil.


Cuidado com a água que você bebe

O que sai da sua torneira? Com base em testes feitos por empresas responsáveis pelo abastecimento em centenas de municípios, e que integram a base de controle do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), do Ministério da Saúde, a Repórter Brasil lançou o Mapa da Água. Ele revela como a água tratada pode carregar agrotóxicos e outras substâncias químicas que são perigosas à saúde quando estão acima do limite fixado pelos órgãos de controle – e onde ocorreu este tipo de contaminação. Em parceria com a Agência Pública, através de reportagens, apontaram com exclusividade que a água da torneira foi contaminada por produtos químicos e radioativos em 763 cidades. Segundo a matéria, São Paulo e Florianópolis foram as cidades mais afetadas entre 2018 e 2020. Levantamento revela que 1 em cada 4 cidades que fizeram testes encontraram substâncias acima do limite. Outra reportagem mostrou que tratamento de água em 493 cidades geravam substâncias que agravam o risco de câncer e outras doenças crônicas.


ONU tem esperança de salvar sistemas alimentares globais

Existe muito a fazer, mas a Organização para Agricultura e Alimentação (FAO) deve concluir que é possível restaurar os ecossistemas alimentares que sustentam toda a vida na Terra, diz Denise Oliveira e Silva, nos Cadernos do Centro de Relações Internacionais em Saúde (CRIS) da Fiocruz. Os sistemas corporativos têm promovido problemas climáticos econômicos e desigualdade social. “Para a FAO-ONU, a resiliência somente será alcançada”, diz ela, “se houver a estabilização da renda e o suporte de programas de proteção social nos momentos de crises principalmente para populações de baixa renda”. Denise menciona as populações tradicionais que produzem em comunhão com os ciclos da natureza: “Resta-nos torcer que estas heroínas e estes heróis sejam vitoriosos no tempo político e existencial para a humanidade”.


A mobilização das enfermeiras no 8M

Ontem, profissionais da enfermagem foram a Brasília intensificar a luta pela proposta do piso salarial, que está atualmente travada na Câmara. Marcada para o Dia Internacional da Mulher, a mobilização simboliza a grande relação da luta entre a reivindicação por melhores condições de trabalho da enfermagem e a luta feminista. Maioria de mulheres, sua situação é uma síntese da desvalorização do trabalho de cuidado, relegado a elas. Nas redes sociais do Sindicato de Enfermeiros do Estado de São Paulo, as imagens de caravanas vindas de vários estados mostram a mobilização da categoria para pressionar que o presidente da Câmara, Arthur Lira, coloque imediatamente em votação o Projeto de Lei 2564/20. Durante o ato, Alexandre Padilha, do Grupo de Trabalho que avaliou o PL e que comprovou a viabilidade de sua aprovação, se manifestou: “A maior homenagem que o Congresso Nacional pode fazer no dia 8 de março, Dia Internacional da Luta das Mulheres, é aprovar o piso da categoria que tem o maior número de mulheres da Saúde, que é a enfermagem. A categoria que é a mais importante para a defesa da saúde das mulheres. Porque quem faz o papanicolau, é a enfermagem. Quem faz o pré-natal é a enfermagem. Quem recebe a criança, quando ela nasce e coloca ela no berço, é a enfermagem”.


Bolsonaro ordena rebaixar covid a endemia

Apesar do compromisso público do governo em distorcer ou encobrir os dados para se opor às restrições sanitárias na pandemia, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, começa a correr para rebaixar o status da pandemia – o que significa que o país passaria a conviver com o vírus, com um número estável de mortes. A pasta agora encomenda estudos para reforçar sua tese de que o país controlou o vírus. Segundo mostrou a Folha de S. Paulo, a ideia principal é defender o fim das restrições, como o uso obrigatório de máscaras. Mas a mudança esbarra em algumas questões, como o aval emergencial concedido pela Anvisa para uso de vacinas e medicamentos contra a covid. Outra é a liberação de orçamentos extraordinários, por fora do teto de gastos, destinados à pandemia. O vice-presidente do Conass, Nesio Fernandes, defende que não há respaldo epidemiológico para decretar o fim de crise sanitária, e que o discurso pode enfraquecer a campanha de vacinação.


Descoberta para tratar pacientes graves de covid

Um estudo publicado na revista Nature encontrou 16 variantes genéticas em pessoas que desenvolveram estágio grave da covid. Segundo noticiou a Folha, os resultados sugerem que pacientes com a doença grave têm genes que predispõem a falha em limitar a capacidade do vírus em fazer cópias de si mesmo, ou inflamação excessiva e coagulação do sangue. A partir dos dados, é possível desenvolver tratamentos para pessoas muito doentes. A análise genética foi desenvolvida com base em 56 mil amostras de pessoas na Grã-Bretanha, e identificou as diferenças em genes de pacientes gravemente doentes quando comparados com o DNA de outros participantes. Ao todo, cientistas já encontraram 39 diferenças genéticas que acarretam no agravamento da enfermidade.


União Europeia atrasa suspensão das patentes mais uma vez

Não chegou à decisão esperada a reunião do Conselho da Organização Mundial do Comércio (OMC), dia 22/2, sobre a proposta de suspensão de direitos de propriedade intelectual no âmbito da pandemia da covid, informa a última edição dos Cadernos do Centro de Relações Internacionais em Saúde (CRIS) da Fiocruz. A proposta havia sido apresentada pela Índia e África do Sul em outubro de 2020, e é essencial para aumentar o acesso dos países menos abastados às vacinas. A autora do artigo, Cláudia Chamas, diz que entidades da sociedade civil fizeram apelos para uma adoção rápida da suspensão, inclusive para medicamentos e diagnósticos, não só vacinas. O Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, havia sugerido em Bruxelas que a proposta estava à beira do fracasso devido à recusa da União Europeia em ceder.

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