Um retrato das doulas no Brasil

Mapeamento da Fiocruz analisou o universo das profissionais que auxiliam na gravidez e nos partos. Descobriu: pela falta de oferta de formação pública, são principalmente brancas. Atendem mais no SUS. E, ativistas, compartilham seu conhecimento gratuitamente

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Embora regularizada apenas desde 2013, a profissão de doula existe há décadas. São mulheres que prestam auxílio físico e emocional a gestantes, parturientes e puérperas. Oferecem informações, fazem-se presentes durante o parto e podem ajudar a tomar decisões. Tendo em vista essa formalização do trabalho e a sua profissionalização, a Fiocruz organizou uma pesquisa para compreender o perfil das doulas brasileiras, a partir de cinco estados, de quatro regiões do país: Mato Grosso, Paraíba, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo. Ouviu cerca de 700 profissionais. Criou, a partir do mapeamento, uma série de infográficos, e o projeto seguirá para a publicação de um livro que dá voz às profissionais.

A pesquisa ajudou a pintar um retrato de quem são as doulas no país. Sua renda, em média, é de até três salários mínimos, e a maior parte delas complementa o sustento com outros trabalhos. Entre elas, quase a totalidade (98%) possui certificação, e apenas 37% têm outra formação na área da Saúde. São, em maioria, brancas – com exceção da Paraíba, onde 57% são pardas ou negras. As pesquisadoras da Fiocruz atribuem a grande predominância das brancas em estados como São Paulo e Santa Catarina à formação oferecida: nesses estados, as instituições que oferecem certificação são privadas. “No caso da Paraíba, a gente tem uma trajetória de processo formativo de uma instituição pública que possibilita que outros perfis de mulheres possam se tornar doulas, assim como fazemos na EPSJV [Escola Politécnica de Saúde, ligada à Fiocruz]”, explica a professora e pesquisadora Morgana Eneile, uma das autoras do estudo.

O mapeamento também registrou o perfil das mães que procuram essas profissionais, e descobriu que é constituído, majoritariamente, pela classe média (58%) e classe média baixa (35%). E entre os locais de nascimento, 52% dos partos atendidos pelas doulas são feitos no SUS. Outro ponto de destaque da pesquisa foi mostrar o importante papel da internet para as profissionais. Entre elas, 78% utilizam as redes sociais para transmitir informações e conquistar novas pacientes. Há, ainda, um importante fator do ativismo pelo parto humanizado. Muitas das doulas afirmam que sua experiência ao dar à luz influenciou muito ou foi o motivo principal para seguirem a atividade. E são atuantes: “78% das doulas promovem essa difusão de informação em saúde, com a metade investindo em rodas e eventos de apoio à gestação e puerpério, em sua maioria, gratuitas”, conta Morgana.

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