Por que a Saúde pode entrar em greve em SP

Eclode, na maior cidade do país, movimento por condições dignas de trabalho na pandemia. O que reivindicam. Como sua luta pode melhorar atendimento à população. As medidas protelatórias da prefeitura e os próximos passos

AMA/UBS, em São Paulo. Pressão das novas ondas de gripe e ômicron enchem hospitais – e sobrecarregam trabalhadores da Saúde (Foto: Rubens Cavallari/Folha)
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Um grave alerta, que pode refletir uma crise crescente no país, está vindo das Unidades Básicas de Saúde da cidade de São Paulo. Na última sexta-feira, 14 de janeiro, trabalhadores da Atenção Primária à Saúde divulgaram uma carta em que reportam as gravíssimas condições de trabalho que enfrentam, com a entrada da onda de casos da variante ômicron, após uma forte alta de casos de gripe H3N2 e quase dois anos de pandemia. Os trabalhadores da Saúde denunciam as jornadas de trabalho extenuantes, o não pagamento das horas-extras, a necessidade de contratação de profissionais, escassez de medicamentos e equipamentos básicos para o trabalho e as decisões tomadas sem diálogo pela Prefeitura. Há uma greve marcada para a quarta-feira, dia 19, encabeçada pelos médicos.

O problema também passa pela campanha de vacinação. A autointitulada “capital mundial da vacina” fez um trabalho muito efetivo de imunização da sua população, mas não recompensou aqueles que tornaram isso possível. Trabalhadores e gestores do SUS relatam que, algumas vezes, ficavam sabendo que deveriam trabalhar aos sábados pela mídia. E eles também estão adoecendo: no final de 2021 e neste início de janeiro, com a crise da gripe seguida da nova explosão de casos de covid, muitos postos de saúde ficaram sem profissionais – exigindo a transferência de outros médicos e enfermeiros, aumentando sua demanda. 

Há, ainda, a determinação de que metas sejam cumpridas – mesmo com toda a demanda da pandemia ainda afetando a todos. Alguns remédios importantes também estão em falta, segundo a nota escrita pelos sindicatos: “Não temos medicamentos básicos para conduzir duas infecções coexistentes (covid-19 e influenza): dipirona, ibuprofeno, salbutamol, diclofenaco, loratadina, antibióticos acabam nas prateleiras de nossas farmácias, impactando diretamente a Assistência Farmacêutica”. E o Sindicato dos Médicos também critica a gestão da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) durante a pandemia: “A Prefeitura resolveu ampliar os dias e horários de atendimento das unidades de saúde, sem consultar os profissionais. Disse, também, que contrataram 280 médicos e enfermeiros extras e autorizaram a contratação de mais 700. Contudo, não se sabe onde estão alocados esses trabalhadores e, conforme visita do Simesp às unidades de saúde nesta semana, as equipes seguem desfalcadas.”

As exigências principais são: “contratação imediata de mais equipes para o atendimento de síndromes gripais; garantia de condições mínimas de trabalho; desobrigação do comparecimento em fins de semana e feriados; e retomada dos espaços de discussão entre o Sindicato e a Prefeitura”. Como uma primeira reação ao movimento organizado dos profissionais das UBSs, a secretaria anunciou autorização para contratação de novas equipes e o pagamento das horas extras. Mas a atitude é vista com descrença pelo Sindicato dos Médicos – que também denuncia a falta de diálogo da Prefeitura com a categoria. Questiona uma melhor definição de que profissionais serão contratados, e cobram uma resposta às outras demandas elencadas.Por considerarem que sua situação atual poderá agravar o atendimento à população, que já está em condições críticas, o Sindicato está organizando uma greve e um ato em frente à Prefeitura, no dia 19. Os médicos  chamam a população para unir-se ao movimento. Buscam uma abertura do diálogo com a secretaria, para que possam discutir o desfalque nas equipes. Para rever a paralisação, precisam de que um diálogo real – não apenas promessas vazias — seja estabelecido.

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