A transição começa a se definir

O núcleo militar indica 25 nomes para a equipe de transição e especialistas avaliam desafios para o governo Bolsonaro, inclusive na saúde

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. Essa e outras notícias aqui, em dez minutos.

31 de outubro de 2018

OS DESAFIOS DO PRÓXIMO GOVERNO

Especialistas dos governos passados falaram ao Estadão sobre os desafios de Bolsonaro em algumas áreas. Na saúde, quem avaliou o cenário foi Temporão, ministro da pasta entre 2007 e 2011: “A proposta para a saúde não explicita seu compromisso com o SUS. A saúde é percebida pela população como um dos principais problemas do país. O maior desafio será a revogação da emenda constitucional 95, que congelou as despesas com as políticas sociais por 20 anos. Mas Bolsonaro não apenas votou a favor da emenda como defende sua manutenção. Sua proposta de governo afirma que conseguirá fazer mais com os recursos atualmente disponíveis que serão decrescentes em termos reais ao longo dos próximos anos. Ou seja, a sustentabilidade econômica do SUS deverá ser seu maior desafio”.

E muitas críticas ao programa do presidente eleito estão na coluna de Claudia Collucci na Folha. Ela rebate, por exemplo, a falácia de que o SUS já tem dinheiro suficiente, pois estamos muito atrás dos países da OCDE, ao contrário do que afirma Bolsonaro. Diz também que o posicionamento dele em relação ao Mais Médicos está equivocado –  na conferência internacional sobre atenção primária em Astana (Cazaquistão), que Collucci, cobriu, a OMS divulgou uma publicação em que coloca o Mais Médicos com um caso de sucesso, aprovado por 95% da população que o utiliza. Para a jornalista, um grande desafio vai ser exigir a profissionalização dos gestores e acabar com o “balcão de negócios”, não aceitando interferência política dos partidos na nomeação do novo ministro e dos cargos-chave da pasta.

PREVIDÊNCIA

Bolsonaro já afirmou que quer tratar da reforma da Previdência o quanto antes. Vai semana que vem a Brasília conversar com Temer, porque espera destravar ao menos parte dela ainda este ano. Já seu futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, criticou esse projeto e disse que o governo vai encaminhar um novo, diferente, no ano que vem. Bom, o Conselho Nacional de Saúde lembrou que repudia o projeto em pauta hoje.

EQUIPE DE TRANSIÇÃO

Os  grupos que assessoraram  Bolsonaro durante a campanha começaram a definir a equipe da transição do governo.  E o núcleo militar, comandado pelos generais da reserva Augusto Heleno e Oswaldo Ferreira, já mandou 25 nomes ao deputado Onyx Lorenzoni, que deve coordenar o processo. É esse o grupo que vai ser responsável pela transição em áreas como saúde, segurança, infraestrutura, trabalho, meio ambiente, internacional, justiça e defesa. Segundo o Estadão, entre os nomes indicados está o do consultor e coronel da reserva do Corpo de Bombeiros Luiz Blumm, para saúde e defesa.

E o general Mourão, vice de Bolsonaro, sinalizou  fusões de ministérios. O da Segurança Pública deve voltar a integrar a pasta da Justiça e a Educação vai se unir com Esporte e Cultura. Saúde, Trabalho e Minas e Energia estão, por enquanto, a salvo do corte.

MUNICÍPIOS PEDEM DINHEIRO

O presidente da Confederação Nacional dos Municípios, Glademir Aroldi, já se reuniu cinco vezes com a equipe de Bolsonaro e deve conversar com ele de novo nos próximos dias, segundo o Estadão. O motivo é que os prefeitos querem garantir um repasse de R$ 28 bilhões, que hoje figuram como os chamados restos a pagar. Os municípios estudam também mudanças no modelo de repasse – e Bolsonaro disse em seu discurso após o resultado da eleição que “os recursos federais irão diretamente do governo central para os Estados e municípios”. Na matéria, o ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega diz que não há dinheiro suficiente para o repasse, por isso a proposta é inviável. Ele diz que, se forem somadas as despesas de pessoal, previdência, educação, saúde e juros, todas obrigatórias, o valor já ultrapassa a previsão de receitas para o ano que vem: “Vão transferir o quê?”, questiona.

COMO LIDAR?

O psicanalista Christian Dunker falou na Vice sobre a saúde mental dos brasileiros depois dessas eleições. Nas relações familiares, afirma, o dano é maior do que se imagina, porque quem xinga esquece o que disse, mas quem é ofendido, não. A reparação, segundo ele, é possível mas dá trabalho, e as pessoas não estão muito dispostas a isso. “O mais esperado é que sobrevenha uma espécie de pressão para o esquecimento, de perdão por decurso de prazo, de redução do efeito das palavras, o que é péssimo para a vida política e para a elaboração de conflitos. Os efeitos desta ausência do trabalho de reparação podem ser sentidos, inesperadamente, muito tempo depois: o filho que se recusa a cuidar do velho pai doente, a filha que se retira para outro país perdendo contato com sua família de origem, o sobrinho que corta relações diplomaticamente com aquele ramo da família. Tudo isso de forma limpa e silenciosa, desperdiçando assim nosso capital social mais precioso e nossa relações de cuidado mais importantes para o seguimento da jornada. O sofrimento mal tratado individualiza as pessoas, que depois se queixarão de solidão e abandono”.

DEMISSÕES E CORTES

Começam hoje demissões de 1.400  profissionais de saúde no Rio. A prefeitura de Marcelo Crivella anunciou o corte de 239 equipes, sendo 184 de saúde da família e 55 de saúde bucal. A região de Jacarepaguá, Barra e Cidade de Deus, na Zona Oeste, será a mais atingida, com 36 equipes a menos, uma redução de 28%. O secretário-geral da Casa Civil, Paulo Messina, garantiu que equipes que atuam dentro de comunidades não serão atingidas. “O poder público não pode deixar de disponibilizar Atenção Básica para todo carioca, mas há um atendimento desigual. Numa clínica da família da Barra, cada consulta dura em média 30 minutos. Na unidade da Rocinha, são dez minutos. Algumas áreas têm mais equipes do que precisam e outras têm menos. Vamos reorganizar isso”, disse ao Globo, sugerindo que vai haver um nivelamento, mas por baixo. E, segundo a reportagem, apesar de sua promessa, áreas carentes como Bangu, Realengo e Santa Cruz também terão profissionais demitidos.

DEPOIS DA TRAGÉDIA

Uma matéria da Vice fala sobre os problemas na saúde mental de quem foi vítima do acidente da Samarco em Mariana, três anos atrás. Entre os jovens, 80% têm estresse pós-traumático e  39,1% possuem rastreio positivo para depressão. Os dados são da Pesquisa sobre a Saúde Mental das Famílias Atingidas pelo Rompimento da Barragem do Fundão em Mariana.Também entre jovens foi apontado que

TOMAR CUIDADO

A proteção de dados pessoais, que de vez em quando abordamos por aqui, é pauta desta entrevista com Dennys Antonialli, diretor-presidente do InternetLab, centro de pesquisa em direito e tecnologia. Segundo ele, a prática de estabelecimentos como farmácias pedirem o nosso CPF para a gente ganhar desconto é abusiva: “Em troca de descontos – ou da mera promessa deles -, os consumidores são induzidos a fornecer dados capazes de identificá-los e de registrar seus hábitos e preferências, como itens de listas de compras de supermercado e medicamentos para tratamento de doenças específica”. Hoje, empresas como farmácias têm poucas barreiras vender ou repassar a terceiros os dados coletados, e as pessoas ficam expostas a abusos, vazamentos de dados e uso desautorizado de suas informações pessoais. É possível que, no caso das farmácias, eles sejam vendidos a planos de saúde. Ele diz que a lei de proteção de dados no Brasil, aprovada este ano e que entra em vigor em 2020, pode se tornar inócua se não houver estratégias de conscientização dos cidadãos.  Por exemplo, uma das regras para a coleta de dados é a exigência de consentimento. Mas, sem essa conscientização, “vai ser pergunta que todo mundo responde dizendo que concorda porque não há como dizer não se essa continua sendo a única forma de obter descontos ou vantagens”, diz Antonialli.

OUTROS EFEITOS

Têm saído muitos estudos que relacionam o uso de redes sociais e telas como notebooks e smartphones a problemas de saúde mental. Mas talvez haja outros. No início deste ano, no Reino Unido, terapeutas ocupacionais expressaram preocupação de que as crianças chegassem às escolas sem conseguir de realizar tarefas simples, como segurar um lápis corretamente, porque tinham um contato exagerado com celulares e tablets nos anos anteriores. Agora, o professor Roger Kneebone, do Imperial College London, disse que os estudantes estão chegando à faculdade de medicina sem a necessária destreza manual para realizar tarefas cirúrgicas simples e necessárias, como suturas.

AINDA A HEPATITE C

A Comissão de Assuntos Econômicos do Senado aprovou ontem a edição de um projeto de decreto legislativo que anula a decisão do Inpi de conceder à farmacêutica norte-americana Gilead a patente do medicamento sofosbuvir, usado contra a hepatite C. Ainda precisa passar pelo plenário do Senado, antes de ir para a Câmara. Como já dissemos aqui, a Fiocruz tem tecnologia e registro para produzir o medicamento, e a quebra da patente poderia economizar do governo federal cerca de R$ 1 bilhão por ano.

GRIPE E PNEUMONIA

Estar gripado pode realmente facilitar a chegada da pneumonia, segundo um estudo publicado na Nature  Immunology. O vírus da gripe silencia a resposta imune inata, principalmente a ação dos monócitos, células responsáveis por lidar com corpos estranhos como vírus e bactérias. A bactéria que causa a pneumonia às vezes ficar no nariz das pessoas por muito tempo sem causar problema algum mas, quando a imunidade baixa, pode ir para o pulmão, provocando a doença.

VACINA DA DENGUE

A vacina contra a dengue, da farmacêutica Sanofi, deve ser aprovada pela FDA (tipo a Anvisa dos EUA). Só que há controvérsias em relação à sua segurança e viabilidade. No ano passado, a própria fabricante reconheceu que a vacina parece aumentar o risco de infecção no caso de crianças vacinadas que nunca tiveram dengue antes.

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