A demissão em massa no Rio

Ia começar ontem, mas ficou para semana que vem: 1.400 profissionais de equipes de Saúde da Família e de Saúde Bucal serão demitidos

Manifestação na Câmara dos Vereadores. Crédito: Flora Castro / Brasil de Fato

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. Essa e outras notícias aqui, em dez minutos.

01 de novembro de 2018

ADEMISSÃO EM MASSA NO RIO

A Secretaria municipal de Saúde afirma agora que, na capital fluminense, a demissão dos 1.400 profissionais das equipes de Saúde da Família e de Saúde Bucal vai começar na semana que vem (o secretário-geral Paulo Messina tinha dito que o processo começaria ainda ontem). A medida tem gerado bastante discussão na cidade e, na terça, houve um protesto na Câmara dos Vereadores.

“Essa reestruturação é um processo doloroso que se dá em virtude da necessidade de um ajuste fiscal”, disse, ontem, a secretária de Saúde Ana Beatriz Busch.

E Paulo Messina afirma que a culpa é do prefeito anterior, Eduardo Paes. Diz que houve um crescimento desordenado das equipes naquela gestão e classifica como “ilegal” a contratação em escala “absurda” no período das eleições de 2016. As demissões, segundo ele, vão gerar economia de R$ 166 milhões para outros setores da saúde.

O poder público argumenta que vai cortar postos de trabalho nas equipes com baixa produtividade, e as que permanecerem vão aumentar o número de atendimentos. Ao Globo, o vereador Paulo Pinheiro (PSOL) contou que, há quatro meses, questionou a Secretaria sobre a queda no número de atendimentos na Atenção Primária no Rio. “A secretária disse que os profissionais, sem salários, não estavam trabalhando e que a violência vinha levando ao fechamento de unidades por vários dias. Então, muito da baixa produção dessas equipes é por não ter condições de trabalho. As pessoas diabéticas, hipertensas vão acabar procurando as unidades de alta complexidade. É uma economia porca, deixa de gastar da prevenção e vai gastar o triplo dentro dos hospitais”, disse ele, que está articulando um mandado de segurança ou ação popular pedindo a suspensão dos cortes.

As demissões não são o único problema dos trabalhadores na cidade. Como já dissemos por aqui, em muitas unidades os pagamentos estão atrasados. Auxiliares e técnicos de enfermagem dizem que estão sem receber há pelo menos dois meses e, ontem, Ana Beatriz prometeu que os salários vão ser normalizados… até janeiro.

OS MINISTÉRIOS DE BOLSONARO

O futuro presidente já definiu o tamanho e o desenho dos ministérios. Como prometido, vai haver várias junções e, dos 29 atuais, devem restar de 15 a 17. É o menor número desde Collor, quando havia 16. Técnicos do atual governo avaliam que a redução de gastos com isso vai ser irrisória.

Continuam separados os ministérios da Saúde, Defesa, Trabalho, Minas e Energia, Relações Exteriores,  e o Gabinete de Segurança Institucional. O de Transportes vai se chamar Infraestrutura, e está em discussão se ele vai abrigar Comunicações (área hoje vinculada ao de Ciência e Tecnologia). Uma nova pasta – o Ministério da Família – vai incluir Direitos Humanos e Desenvolvimento Social.

O Ministério da Educação vai se unir a Cultura e Esporte, e o ensino superior vai deixar de ser sua atribuição, passando para o de Ciência e Tecnologia. E foi no Twitter que Bolsonaro confirmou: o comando dessa pasta vai mesmo ficar com o ex-astronauta Marcos Pontes. Em outra rede social, o Facebook, Pontes já tinha se manifestado sobre o convite. E o Nexo traçou um perfil com características não muito positivas do futuro ministro.

Como já se falava antes da eleição, uma das pastas vai ser o superministério da Economia, que será comandado por Paulo Guedes e vai incluir as atuais pastas de Fazenda, Planejamento, Indústria e Comércio Exterior.

Também deve haver um superministério da Justiça que inclua a Transparência, a Controladoria-Geral da União, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras e a Segurança Pública. A superpasta já foi oferecida ao juiz Sérgio Moro (segundo o Estadão, Moro e Bolsonaro devem se encontrar hoje). Outro superministério deve ser o de Integração Nacional. A Secretaria de Governo deve se juntar à Casa Civil, que será comandada pelo pelo deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS).

A fusão entre os ministérios da Agricultura e do Meio  Ambiente, que aparentemente pegou muitos eleitores de surpresa, não é uma ideia nova, foi prometida várias vezes por Bolsonaro durante a campanha. A repercussão está sendo a pior possível e, ontem,  Lorenzoni disse que “o presidente ainda não bateu o martelo”. O ministro da Agricultura soltou nota manifestando contrariedade à fusão.

O FUTURO DA POLÍTICA DE DST/AIDS

Um conjunto de 26 entidades da saúde escreveu um manifesto pedindo a Bolsonaro que mantenha os programas de DST/Aids entre as prioridades. A política tem 33 anos  e envolve os gestores das três esferas de governo, a sociedade civil organizada e a comunidade científica. O texto foi lido na terça-feira  durante as comemorações dos 30 anos do Centro de Referência e Treinamento de São Paulo e 35 anos do Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo.

SAÚDE INDÍGENA

Em Minas Gerais, índios maxacalis enfrentam um surto de diarreia desde o último dia 14 nas aldeias de Pradinho e Água Boa, nas cidades de Bertópolis e Santa Helena de Minas. Já foram 197 pessoas com os sintomas e mais de 70 precisaram ser internadas. É muito, especialmente se a gente considerar o tamanho das aldeias: em Pradinho há 958 indígenas, já em Água Boa, são 843. Morreu uma criança por conta da virose, e outra morte ainda está sem causa confirmada.

Longe dali, em Cuiabá, indígenas de várias etnias fizeram uma manifestação no Distrito Sanitário Indígena para pedir investimentos de saúde. Dizem que houve redução no número de agentes de saúde. No mês passado, eles já tinham protocolado no MPF uma carta elencando as demandas de diversas comunidades e relatando as condições precárias da Casa de Saúde Indígena da cidade

CPI DA SAÚDE

Ainda em Cuiabá, foi lido ontem o relatório da CPI da Saúde na Câmara dos Vereadores. A conclusão é que houve improbidade administrativa, crimes de responsabilidade e danos ao erário público. Houve também ingerência e indicações políticas em contratos temporários. Isso poderia ser feito emergencialmente, mas foram mais de mil contratos.

PANDEMIA À VISTA?

Começou no El País uma série do jornalista Simon Parkin sobre a gripe aviária, que está “está a poucas mutações de se tornar a pandemia mais longa e perigosa que nosso planeta já vivenciou”. Na primeira matéria, ele lembra como a doença começou a afetar humanos, com o surto de Hong Kong em 1997. Desde então, ela não matou tanta gente assim – foram 500 vítimas, muito menos do que as 35 mil que morrem todo ano nos EUA pelas gripes sazonais. Mesmo assim, a gripe aviária está entre as ameaças de grandes desastres no futuro, porque pode evoluir para se tornar mais transmissível e mais letal.

NOVA MARCA

A Amil está mudando sua marca pra consolidar a estratégia de foco na atenção primária e na redução de custos, algo que tem sido uma tendência em vários planos. A ideia é priorizar médicos de família. Na Folha, Cláudio Lottenberg, presidente do UnitedHealth Group Brasil, grupo controlador da Amil, fala disso. Mas também de outras expectativas para o futuro: “No momento em que a economia retoma o crescimento, isso aumento o emprego e, com esse acesso, aquele dinheiro que era para o SUS passa a ser usado no sistema privado”

FIM DA RESTRIÇÃO

A partir de hoje, a Rússia volta a permitir importações de carne suína e bovinade nove fornecedores brasileiros. O embargo vinha desde o ano passado por causa da presença de ractopamina nos produtos e, embora essa substância seja permitida no Brasil, é proibida lá.

ATÉ QUE NEM TANTO ESOTÉRICO ASSIM

Temos mesmo uma aura individual. Não é o campo energético ou espiritual que de a gente ouve falar, mas uma coisa chamada expossoma humano: uma ‘nuvem’ pessoal de micro-organismos, elementos químicos e outros compostos que nos acompanha sempre. Já se tinha uma noção desse conceito. Mas agora, geneticistas da Universidade de Stanford, na Califórnia, demostraram que é possível medir individualmente os elementos do ambiente a que cada pessoa está exposta. E a descoberta é importante porque a medição pode fazer diferença na hora de estudar e prevenir doenças como asma, alergias e até câncer e problemas cardíacos. A pesquisa começou há cinco anos e foi publicada na revista Cell.

INDESTRUTÍVEIS

No livro We are indestructible, o fotógrafo holandês Mads Nissen documenta a vida de produtores de cocaína na selva colombiana. A Vice o entrevistou.

COMUNICAÇÃO E SAÚDE

Ontem o jornalista Antonio Martins, cofundador do Outra Saúde, participou de um seminário internacional que comemorou os 30 anos do SUS. Aconteceu na Fiocruz, e marcou também o aniversário de dez anos da revista Poli, experiência inovadora de jornalismo editada pela Escola Politécnica. O papel das mídias na construção e desconstrução do Sistema Único foi o assunto da mesa. No debate, além de Antonio, estiveram Cátia Guimarães, editora da Poli e João Brant, pesquisador da democratização da comunicação.

PODCAST

O Ministério da Saúde agora tem um. Chama Pausa para Saúde.

AGENDA

Este mês acontecem vários encontros preparatórios para o 8º Simpósio Nacional de Ciência, Tecnologia e Assistência Farmacêutica (8º SNCTAF). A Abrasco e o Cebes prepararam um documento de contribuição.

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