Começou a Conferência de Astana

Evento vai debater como alcançar a ‘saúde para todos’, meta aprovada há 40 anos na Declaração de Alma-Ata

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25 de outubro de 2018

COMEÇOU A CONFERÊNCIA DE ASTANA

Enquanto a maior parte de nós dormíamos, na capital do Cazaquistão, Astana, começou a Conferência Global de Atenção Primária à Saúde. “Estamos aqui por causa da visão [de alcançar] saúde para todos [no ano 2000]. Mas também estamos aqui porque precisamos reconhecer que nós não atingimos essa visão. O que temos hoje é saúde para alguns”, disse o diretor da OMS Tedros Ghebreyesus na abertura do evento, realizado 40 anos depois da histórica Declaração de Alma-Ata que traçou a meta.

Agora, o desafio é atualizá-la. Para a OMS, a resposta repousa no conceito de cobertura universal à saúde, que por sua vez é um dos objetivos a ser alcançados até 2030, de acordo com a Agenda para o Desenvolvimento Sustentável da ONU. Mas há quem aponte, como o Conselho Nacional de Saúde brasileiro, que a cobertura universal é um caminho para a mercantilização do direito à saúde. A OMS tem usado como exemplos dessa cobertura tanto países com sistemas públicos universais, como Reino Unido, quanto outros que garantem um pacote mínimo de serviços médicos para a população via compra no mercado privado, como o México. Alma-Ata, em 1978, deu ênfase para a construção dos sistemas.

A transmissão ao vivo de plenárias e painéis ministeriais pode ser conferida por aqui. E para quem quer se aprofundar um pouco mais: essa semana, o Lancet publicou uma edição inteiramente dedicada aos debates de Astana, que incluem um conjunto de temas, como a valorização da força de trabalho na atenção primária à saúde. A conferência termina amanhã.

ESGOTAMENTO

O agro é tech, diz o comercial veiculado pela Globo há cerca de dois anos. Da publicidade para a realidade, contudo, vai um salto. É o que mostra a Repórter Brasil, em uma reportagem sobre o ritmo de trabalho de cortadores de cana em fazendas no interior de São Paulo que vendem para a Raízen. Alguns colhiam mais de 22 toneladas por dia. “O que mais dói é a cabeça, as cãibras, as costas. Só quem vê de perto sabe o sofrimento de um cortador”, disse um jovem de 24 anos durante a fiscalização do Ministério do Trabalho que encontrou cerca de 80 pessoas em situação de jornada exaustiva, sem pausas para refeição ou descanso, o que caracteriza trabalho análogo à escravidão.

NA ÁGUA

Os habitantes de Pilar do Sul (SP) beberam por mais de uma década água tratada com excesso de flúor. Enquanto o nível recomendado fica entre 0,6 e 0,8 miligramas por litro, se aplicava mais de cinco miligramas por lá. Alguns moradores desenvolveram fluorose, uma doença que destrói o esmalte dos dentes de forma irreversível. Os atingidos serão finalmente compensados: a Justiça condenou a prefeitura e a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, a Sabesp, a oferecer tratamento odontológico permanente e pagar por indenização por danos estéticos e morais. Um grupo de 60 já se habilitou, mas o número pode chegar a 150 pessoas afetadas, pois muitas famílias sequer sabem da decisão judicial.

CASO RARO

Segundo o Estadão, uma estudante de medicina morreu depois de ter sido picada por uma formiga. Aconteceu em Salvador. Michelle do Valle tinha 24 anos e chegou a ser levada para o hospital pelo Samu, mas deu entrada na unidade em coma. A picada evoluiu para síncope grave com choque circulatório e parada cardiorrespiratória.

AUTOMEDICAÇÃO

Tomar remédios sem prescrição médica é uma prática comum para 79% dos brasileiros maiores de 16 anos, de acordo com levantamento do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade feito em setembro, com 2.126 pessoas em 129 cidades do país. O número chega a 91% na faixa etária entre 25 e 34 anos. Os principais sintomas que levam à automedicação são dor de cabeça, febre, resfriado e dores musculares. Nos levantamentos anteriores, feitos em 2014 e 2016, o percentual foi menor: de 76% e 72%, respectivamente.

RECORDE

Em setembro, o Tribunal de Justiça de São Paulo atingiu um recorde nada positivo: julgou 24.623 ações contra planos de saúde. Ou 130 por dia útil. A maior parte das pessoas (52%) recorreu à judicialização por ter tido cobertura e tratamentos negados pelas empresas. E 28% reclamaram do reajuste de mensalidades. Quem acompanha de perto os números é a Faculdade de Medicina da USP. Desde 2011, quando começou a coletar os dados, nunca se viu nada assim.

CONTRA A ENXAQUECA

Aplicações de botox. Estímulos elétricos. Massagem. Acompanhamento alimentar com nutricionista. Psicoterapia cognitiva. Uso de medicação contínua. É a combinação disso tudo, numa abordagem individualizada e multidisciplinar, que tem dado certo para algumas pessoas que há anos sofrem com dores, segundo matéria da Folha sobre novidades no tratamento de cefaleias e enxaquecas.  Outra arma contra esse tipo de dor de cabeça é uma classe de medicamentos nova chamada anticorpos monoclonais, cuja aplicação custa por volta de US$ 600. Começou a ser usada nos Estados Unidos em março e, em 2019, chega ao Brasil. As soluções existem… ‘Só’ basta ter acesso a elas.

OPIOIDES

O jornal promoveu um evento sobre dor na semana passada (com patrocínio do laboratório Cristália, da farmacêutica Mundipharma e da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor) e hoje divulga algumas matérias. Uma delas diz que na América Latina em geral, Brasil incluso, se usa menos opioides do que o nível “considerado adequado”. Enquanto nos Estados Unidos – onde há uma epidemia gerada pela prescrição indiscriminada desses medicamentos – a média está em 500 miligramas por pessoa ao ano, por aqui fica em 10 mg. Há dois fatores que contribuem para isso, segundo João Batista Garcia, professor da Universidade Federal do Maranhão: em muitos lugares não há opioides disponíveis. “Recentemente, avaliei um paciente em Altamira, no Pará. Ele tinha câncer de pâncreas e não podia mais consumir analgésicos por via oral. Apesar de sentir dor e falta de ar, nenhuma farmácia ou hospital da região tinha morfina injetável. Essa é uma amostra do que acontece em todo o país”, contou. E, de acordo com ele, os médicos brasileiros não prescrevem com medo de gerar dependência ou overdose nos pacientes – como aconteceu em outros países.  “Esses riscos, porém, estão distantes da realidade brasileira, onde a dor ainda é subtratada”, disse.

ENQUANTO ISSO…

Falando em opioides, Donald Trump assinou ontem uma nova lei para expandir as opções de tratamentos para pessoas dependentes dos medicamentos. Só no ano passado, a epidemia matou nada menos do que 72 mil pessoas nos Estados Unidos. A legislação também pretende brecar a entrada de drogas como o fentanyl vindas de fora do país, sendo a China o principal alvo, de acordo com o presidente.

UM COPO ATRÁS DO OUTRO

Uma pesquisa tentou desvendar o mecanismo por trás do famoso pé na jaca, quando as pessoas abusam do álcool e bebem um copo atrás do outro. Partindo de premissas conhecidas, como o mecanismo de recompensa disparado pelo consumo de bebidas (dopamina) e a área do cérebro afetada (VTA), os pesquisadores queriam entender o caminho que o álcool percorre ali para desencadear esse processo. Eles descobriram que a substância atua bloqueando canais de potássio conhecidos como KCNK13, o que faz com que os neurônios fiquem hiperativos e liberam mais dopamina. “Sem o canal, o álcool não pode estimular a liberação de dopamina, e o ato de beber não recebe a ‘recompensa’”, disse o coordenador do estudo, Mark Brodie, da Faculdade de Medicina da Universidade de Illinois, à Forbes.

ONDA DE ATAQUES

A República Democrática do Congo está enfrentando um surto de ebola, como sabemos. E tudo está ainda mais difícil depois que uma onda de violência irrompeu no país, envolvendo grupos rebeldes e milícias que têm como alvo os profissionais de saúde. No sábado, dois trabalhadores da unidade médica do exército do país foram mortos na cidade de Butembo. O possível efeito colateral é a desorganização da resposta ao surto. Até agora, foram registradas 157 mortes ligadas à doença, 122 delas confirmadas. Os casos são 244, e 63 pessoas se recuperam da infecção.

ESCALADA

Por aqui, muita violência também – mas vinda do Estado. Sílvia Ramos, coordenadora do Observatório da Intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro projeta um número recorde de homicídios causados pela polícia fluminense. Ela foi entrevistada pela Agência Pública.

DIREITO DE MORRER

Na Espanha, o Congresso está decidindo agora mesmo se aceita um projeto de lei que quer estabelecer a eutanásia como direito individual franqueado a pessoas com doenças graves ou incuráveis e prognóstico de vida limitado.

E NO CANADÁ

Para fechar, um assunto mais leve. O El País relata como é comprar maconha no Canadá, onde a comercialização e consumo recreativo foram legalizados na semana passada.

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