SP e RJ lideram alta de casos de Covid no Brasil

Molnupiravir terá causado mutações no vírus? • Cigarros eletrônicos: os debates sobre a regulamentação • Árvores superaquecidas na Amazônia • Doença da urina preta • Migração de aves preocupa por levar doenças •

Foto: SEAS/CE
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O fim do inverno foi marcado por um aumento dos casos de covid. Segundo boletim do Infogripe divulgado neste dia 28/9, Rio de Janeiro e São Paulo observam maiores aumentos do número de infecções. Outras quatro capitais também apresentam alta. “No Rio de Janeiro continua tendo um ritmo de crescimento na curva de novos casos semanais de covid-19. Em São Paulo, é um ritmo lento de crescimento, restrito, assim como no Rio de Janeiro, à população de idade mais avançada. Mas é um sinal de que está presente. Ou seja, o vírus está circulando com maior intensidade, levando a aumento das internações, principalmente nos grupos mais vulneráveis”, falou Marcel Gomes, chefe do Infogripe, ao Globo. Dentre as mortes por gripe registradas no período analisado, de seis semanas, a covid lidera disparadamente, com 77,5% dos casos.

Antiviral pode ter causado mutações no coronavírus

Um estudo recentemente publicado na Nature identificou indícios de que a utilização do molnupiravir, antiviral da gigante farmacêutica Merck, no combate à covid-19 teve importantes ligações com várias mutações no coronavírus. O fármaco foi o primeiro antiviral no mundo a receber autorização de uso para essa finalidade. “A evidência dessa transmissão seria um sinal genético nas novas linhagens do vírus associadas ao tratamento com o molnupiravir”, explica uma reportagem da Folha sobre a pesquisa. Em nota, a farmacêutica que produz o medicamento nega veementemente qualquer ligação entre ele e o surgimento de novas variantes do vírus. O motivo de tamanha recusa pode ser econômico: é possível que a descoberta leve países a deixar de indicar o molnupiravir a pacientes com covid-19 – impactando, assim, os lucros da Merck.

Congresso debate regulamentação dos cigarros eletrônicos

Nesta quinta-feira (28/9), a Comissão de Assuntos Sociais do Senado Federal promoveu uma audiência pública que discutiu a possibilidade de regulamentação dos cigarros eletrônicos – os “vapes” e similares – no Brasil. A atividade foi realizada por iniciativa da senadora Soraya Thronicke (Podemos/MS), que defende que “muito mais perigoso do que regulamentar, é não regulamentar”, como afirmou à Agência Senado. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária, por sua vez, proíbe desde 2009 a venda, a importação e a publicidade desses produtos – tendo mantido essa interdição após novo debate em 2022. Na audiência, se destacou que a Pesquisa Nacional de Saúde de 2019 identificou que 70% dos usuários dos cigarros eletrônicos têm entre 15 e 24 anos. Além disso, 17% dos adolescentes com mais de 13 anos já os experimentaram. Aí mora o risco da nova mina de ouro que a indústria tabagista quer explorar no país, com o apoio de vários parlamentares.

Perigo de superaquecimento em árvores amazônicas

Um artigo científico publicado na Nature por pesquisadores de diversos países, entre eles alguns da USP, apresentou projeções que podem explicitar o que seria o ponto de não retorno causado pelo calor excessivo na floresta amazônica. Eles mostram que a partir de uma temperatura de 40 graus, as folhas podem começar a sofrer um bloqueio em seu processo de fotossíntese e liberação de carbono na atmosfera. As temperaturas médias auferidas pelos pesquisadores são de 34 graus, um patamar já perigoso, uma vez que o ideal para a geração de energia pelas folhas varia entre 24 e 28. “Acima desse patamar, o estômato, estrutura da folha que faz as trocas gasosas com o ambiente, começa a fechar, o que reduz a transpiração, o arrefecimento e concorre para aumentar ainda mais sua temperatura. Quando a temperatura do ar se eleva muito, além do fechamento do estômato, ocorre que a atividade de enzimas fotossintéticas e o transporte de elétrons no interior da folha são inibidos, o que se dá no nível chamado de Temperatura Crítica”, explica Humberto Ribeiro da Rocha, um dos autores da pesquisa. As consequências seriam a desertificação do bioma e conversão de sua vegetação em características mais similares à do Cerrado.

“Doença da urina preta” relacionada à seca preocupa Amazonas

Uma série de casos da doença de Haff, enfermidade rara reconhecida pela urina preta dos pacientes, estão sendo notificados pelas autoridades de saúde do Amazonas. Itacoatiara, cidade localizada a quase 200 km da capital amazonense, é o centro do surto: 36 casos já foram registrados no município. Entrevistado pela Folha, o infectologista da Fiocruz André Siqueira explicou que “não há um tratamento específico para a doença, mas é possível controlar os sintomas”. Na maioria dos casos identificados no Brasil – o primeiro deles, em 2008 –, a doença parece ter sido contraída através do consumo de peixes que produzem determinadas toxinas. Mas a causa e a sazonalidade da síndrome de Haff não estão plenamente esclarecidas. “É um fenômeno que acontece raramente, mas a gente observa que ocorre principalmente durante as secas mais severas, provocando alteração no ambiente onde os peixes habitam”, diz Siqueira. A Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas afirma estar investigando o surto.

Novos padrões de migração de aves trazem preocupação com doenças

O Observatório Versátil de Doenças Infecciosas Emergentes (VEO, na sigla em inglês) é um esforço conjunto de países da União Europeia de observar o mais rapidamente possível novos fenômenos biológicos e ambientais a partir da mudança climática. Um deles se refere à já constatada alteração dos padrões de migração de algumas espécies de aves, que buscam áreas menos quentes para procriação e alimentação. Dessa forma, com a mudança em seus fluxos, devem carregar novos vírus e bactérias, a partir da interação com novos ecossistemas, em temporadas distintas do que historicamente se habituaram. “Estamos tentando descobrir como são os pontos críticos de risco humano”, resume Marion Koopamans, uma das coordenadoras do VEO, à revista Science. “As aves selvagens têm potencial para trazer novos patógenos para novas áreas”, confirma o ornitólogo e microbiologista Jonas Waldenström, também membro do VEO. Os pesquisadores ainda destacam que a observação de pássaros e seus hábitos são rápidos meios de se obter informações sobre alterações climáticas já em andamento.

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