Os genocidas ainda mentem

• Ministros de Bolsonaro buscam autodefesa desesperada • Quase meio milhão de crianças “zero dose” no Brasil • Onda de calor aumenta hospitalizações e riscos • Tratamento para autismo no SUS • Anvisa em busca de mais investimento •

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Causou alvoroço no campo da saúde o embate entre participantes do governo Bolsonaro na área da saúde e, de outro lado, médicos e sanitaristas que se caracterizaram pelos consensos da comunidade científica durante a pandemia. Desesperados em refutar suas responsabilidades criminosas no morticínio da pandemia, a dupla Marcelo Queiroga e Rafael Parente publicou artigo na revista Lancet para defender o governo de um homem que colecionou declarações de desprezo pela gravidade do vírus e até debochou de mortes e internações. Para além da realidade, na qual o Brasil apresentou óbitos em escala desproporcional à sua participação na população global, ambos reiteraram o caráter fanático e desonesto de sua militância ideológica, sempre, é claro, a acusar os outros de suas próprias práticas. Sem relações entre fatos e dados, o artigo se resume a repetir devaneios e a desgastada retórica antipetista.

O escárnio é compreensível. Os indiciamentos da CPI da pandemia seguem e, em algum momento, o Estado conduzirá processos contra os 80 indiciados pelo relatório final. Queiroga, ex-ministro que, como explicou Carla Domingues ao Outra Saúde, fez de tudo para retardar a vacinação infantil, está entre eles. Seu périplo midiático e institucional para livrar a cara é notório. Até lançou um livro sobre a gestão oficial da pandemia, com as mais grosseiras falsificações e distorções – o que somou mais um episódio de total falta de decoro de associações médicas que permitiram seus nomes associados à má fé assassina de Bolsonaro e companhia. Aqui, a mesma Lancet publicou réplica de outros ex-ministros e pesquisadores como José Gomes Temporão, Arthur Chioro e Adriano Massuda, que facilmente desmontam as mentiras e fraudes que Queiroga e Parente ajudaram a cometer. Foram corresponsáveis pelo pesado custo de 700 mil mortes oficialmente contabilizadas por covid e mais de 400 mil outros óbitos acima da curva demográfica, em razão da saturação e total despreparo do sistema de saúde para lidar com a pressão gerada pela pandemia, como também explicado por este site.

A realidade do negacionismo bate à porta

Enquanto ex-membros do governo Bolsonaro tentam enganar incautos, o Brasil segue a se deparar com dados concretos sobre o desincentivo à vacinação, além da descoordenação do consagrado Programa Nacional de Imunização, também afetado pela “racionalidade” neoliberal e sua política de corte de gastos permanente. Organizada pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), a Jornada Nacional de Imunizações apresentou o dado de que 430 mil crianças brasileiras podem ser classificadas como “zero dose”. “Apesar do nome, o conceito não significa necessariamente que essas crianças não receberam nenhuma dose de vacina. A primeira dose da vacina DTP, contra difteria, tétano e coqueluche, é tomada como referência para essa medição. Por ser uma vacina de baixo custo, com décadas de uso, adotada em praticamente todo o mundo e prescrita para o segundo mês de vida, os cientistas consideram que uma criança que não teve acesso à dose 1 da DTP no primeiro ano de vida é uma criança zero dose”, explica matéria da Agência Brasil. O evento da SBIm é parte do esforço da Agenda de Imunizações 2030, que visa recuperar taxas satisfatórias de cobertura vacinal. Segundo a OMS, 14 milhões de crianças pelo mundo seriam “zero dose”. Vale lembrar que até poucos anos, o Brasil tinha taxas quase universais de imunização.

Onda de calor afeta saúde em SP

Cenário de temperaturas recordes para o início de primavera, a cidade de São Paulo observa as primeiras sequelas da onda de calor que acomete o Brasil. Em relação a 2022, já há aumento de 100% no número de internações relacionadas ao mal estar gerado pelo calor e 5 mortes. Na semana passada, o Ministério da Saúde soltou nota com recomendações básicas de cuidados em saúde para os dias quentes pelos quais passamos. Neste domingo, alguns voos programados para decolar ou aterrissar em Congonhas chegaram a atrasar devido ao calor excessivo na pista, pois como explica a Associação das Empresas Aéreas, “em situações de intenso calor, com a densidade do ar reduzida, o volume de oxigênio que entra nos motores também diminui, o que impacta diretamente na potência, portanto, e na performance de decolagem do avião. Quanto menor a densidade do ar, mais velocidade será necessária para tirar o avião do solo”.

Governo inclui tratamentos para autismo no SUS

O Ministério da Saúde anunciou a inclusão de tratamentos para Transtorno de Espectro Autista (TEA) na Política Nacional de Saúde da Pessoa com Deficiência (PNSPD). Com investimentos iniciais de R$ 540 milhões, é a primeira vez que tal condição passa a fazer parte dos cuidados do SUS, resultado da luta silenciosa de milhares de famílias que lidaram de forma frequentemente solitária com o TEA entre seus parentes. Enquanto enfrentam crescente rejeição de planos privados, dado os altos custos e multidisciplinaridade de tratamentos de uma condição que não tem marcadores biológicos para sua detecção, agora as famílias e pacientes obtêm uma nova política pública para auxílio em sua qualidade de vida. O Ministério, em seu site, explica como será a introdução de tal prática em sua rede, que deverá oferecer cuidado multiprofissional no acompanhamento terapêutico. “Nos locais especializados, o paciente passará por avaliação biopsicossocial com equipe multiprofissional a fim de estabelecer o diagnóstico funcional, além de identificar as potencialidades e necessidades do paciente, de sua família e seu contexto de vida. Todos estes fatores servem de base para a elaboração do Projeto Terapêutico Singular (PTS). O PTS é desenvolvido por meio do trabalho multiprofissional e interdisciplinar, com foco no planejamento da reabilitação, definição de objetivos terapêuticos e a indicação do uso de recursos e metodologias terapêuticas a serem adotadas.”

Mais Estado: diretor-presidente pede expansão da Anvisa

Em evento realizado pelo Jota, Antonio Barra Torres reivindicou abertura de novas vagas para a Anvisa, para aumentar sua capacidade de avaliação, inspeção e licenciamento de produtos médicos, alimentares, químicos, entre outros. Em 2024, a OMS visitará o órgão em inspeção que visa atestar o nível da agência de vigilância e, segundo Barra Torres, o objetivo da autarquia é atingir o ponto 4, escala mais alta da avaliação. “A agência abraça fortemente a causa da inspeção. Então, eu diria que essa é a grande entrega que falta ser feita. E outra é aquela mais na base de pirâmide: continuar o esforço para sensibilizar o governo de que precisamos ter mais vagas [de concurso] autorizadas para o ano que vem, num fluxo anual”, explicou. Apesar de manter a credibilidade, parece difícil ignorar a interferência política na entidade nos últimos anos, usada pelo bolsonarismo para tentar obstaculizar a importação de vacinas, enquanto liberava milhares de agrotóxicos com notável rapidez.

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