SP: as primeiras vitórias do movimento da Saúde

O Tribunal de Justiça proibiu a greve dos médicos. Mas a mobilização já obteve da prefeitura contratações há muito adiadas e o pagamento de horas extras. Falta muito, mas o começo é animador

.

Em assembleia com mais de 200 profissionais da Atenção Básica, na noite de terça-feira, 18/1, realizada pelo Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp), ficou decidida a não realização da greve anunciada pela categoria contra as más condições de trabalho enfrentadas nos últimos meses. Aconteceria no dia seguinte, mas foi proibida por uma liminar do Tribunal de Justiça (TJ) de São Paulo, sob o pretexto de  que a interrupção dos trabalhos causaria “danos irreparáveis” à população. Mas, na visão daqueles envolvidos no movimento, a ação não desmobilizou os profissionais – pelo contrário, pode ter servido para animá-los para a luta.

D., uma trabalhadora da Saúde do município ativa nas manifestações, que preferiu permanecer anônima, avalia positivamente os últimos acontecimentos. Uma das conquistas do movimento é, primeiramente, a sua existência, defende: “São Paulo já tem mais mais trabalhadores em Organizações Sociais [OSs] do que estatutários no município. Um movimento desses trabalhadores é algo que nunca aconteceu. Porque eles não têm estabilidade. Manifestar-se assim gera muito medo de represália, de demissões”. 

Em artigo publicado no último dia 17, Outra Saúde expôs as principais reivindicações dos trabalhadores. Entre elas, as jornadas de trabalho extenuantes, o não pagamento das horas-extras, a necessidade de contratação de profissionais, escassez de medicamentos e equipamentos básicos para o trabalho e as decisões tomadas sem diálogo pela Prefeitura. A organização surtiu efeito. A gestão de Ricardo Nunes prometeu a contratação de médicos e o pagamento de horas extras, além de reavaliar o trabalho compulsório aos sábados. 

Mas D. avalia que as promessas estão muito aquém do necessário: para ela, é preciso que sejam feitas mais contratações no quadro de enfermagem, que são os profissionais mais necessários na Atenção Básica. Tampouco se observou, pela Prefeitura, o problema da escassez de insumos essenciais para o trabalho nas UBSs. E a falta de diálogo do poder público com os profissionais complica a situação.Um boletim da Prefeitura lançado na última sexta, 21/1, confirma e dá contornos à gravidade da situação e à urgência da mobilização dos profissionais: a capital paulista registrou 2,7 mil trabalhadores da saúde afastados por licença médica, com covid. O número é 92% maior que o da semana anterior. Outros 2,4 mil estão afastados com síndrome gripal. Hoje, enfermeiros fazem uma assembleia para definir os próximos passos. Para D., é essencial que essa categoria se some à dos médicos, pois são eles os mais sobrecarregados nas UBSs e aqueles que estão à frente da vacinação. Sua presença poderá dar grande força ao movimento por mais recursos e melhores condições aos trabalhadores do SUS.

Leia Também: